quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

AIMEE MANN, QUINZE ANTIDEPRESSIVOS!

Nem que fosse pelo desenho de capa saborosamente retro, o disco de final do ano passado de Aimee Mann já mereceria não ser esquecido, mas as quinze canções que o integram, ouvidas sem freio nas últimas semanas, constituem por si só um espólio sonoro de assinalável qualidade e confirmado talento

Em "Queens of The Summer Hotel", o décimo álbum de uma carreira prudente mas inabalável, a inspiração faz-se no enredo do livro de memórias "Girl, Interruped" escrito pela americana Susanna Kaysen em 1993, adaptado ao cinema meia dúzia de anos depois com particular sucesso pelo protagonismo de Winona Ryder. Nesse relato pessoal, com o título em português "Vida Interrompida" (Gradiva, 2001), o cenário é o hospital psiquiátrico McLean (Belmont, Masschusetts) de final dos anos sessenta para onde a jovem Kaysen é enviada para tratamento inovador e dispendioso e pelo qual tinham já passado celebridades como Sylvia Plath, Ray Charles ou James Taylor. 

A existência, nesse local, de um género de "universo paralelo" quanto à (in)sanidade ou recuperação afectou imediatamente a composição de Mann ao nível de uma "possessão" consciente, dando vida aos personagens maioritariamente femininos em forma de canção caleidoscópica e onde se retomam temáticas como a auto-mutilação, a depressão ou o suicídio já abordados no trabalho anterior "Mental-Illness" (2017) a que urge regressar na audição. Um disco sofisticado e, atendendo ao descrito, estranhamente airoso e animador!



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