quarta-feira, 9 de outubro de 2024

JULIA JACKLIN, Teatro Jordão, Guimarães, 6 de Outubro de 2024

Coincidência, ou não, Julia Jacklin tem escolhido o nosso país para terminar digressões europeias, sinal que do jardim à beira mar plantado continua a emanar um perfume de respeito e reverência que não se acomoda no simples aplauso, mas que têm nas suas canções uma inesgotável fonte de estímulo e inspiração, talvez, recíproca. 

Do berço da nação, contudo, não foram notadas presenças nesta segunda noite de concertos, uma estranha carestia que se confirmou quando Jacklin tentou perceber as proveniências de tão ferrenha e fiel devoção, obtendo respostas como "Austrália" - nada menos que os pais da artista, logo ovacionados e, diríamos, benzidos na germinação. A mãe teria direito a protagonismo humorístico mais à frente (ver ali abaixo em 46:04), uma boa onda que percorreu um concerto de intimidade pré-requisitada que, sem excessos, se alongou a conversas, confissões, súplicas de aviso a músicos australianos para virem a Portugal e de canções que alteraram, de certeza, o alinhamento previsto. Da nossa parte, foi por pouco que não pedimos para avisar a Kylie Minogue também para vir (Jacklin já comprou bilhete para um dos seus espectáculos... e afinal Minogue vêm mesmo), mas não foi preciso reclamar "Ignore Tenderness" porque alguém, e bem, o faria de imediato. 

De Melbourne viajou Jacob Diamond, comparsa a quem Jacklin emprestou vozes e coros no último disco lançado em Agosto. Coube aos dois e de uma assentada, a execução de quatro versões, a saber, dos The Roches, Fionna Apple, Bill Fay (maravilhosa, a única com edição oficial) e The Cranberries, esta última numa arriscada variação a capella, de confiante transpiração, prestada no limite da frente de palco. Surpreendente, mas tendo em conta que o concerto lisboeta de 2022 findou com uma rendição de Celine Dion... 

O término apoteótico, acertado e arranjado em mútuo acordo com o público negociante, incluiu "Body", "Head Alone" e o hit "Pressure to Party" (para quando uma rodela pequena de vinil que faça eterna justiça a esta malha?), tudo culminado com um "Comfort" de tocante e vibrante tensão, ou não fosse ela mais uma nobre canção sobre relações falhadas, esse borrão marcante de tantas vidas e sem as quais tudo seria uma chatice. 

Deve, pois, marcar-se já a próxima celebração de devotos a santa e aliviada Julia que, já agora, pode ser no mesmo e excelente recinto, quem sabe, um pouco mais cedo no horário mas sempre no momento certo, seja ele qual for. Que venha o novo álbum!

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