segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

ERIN RAE + JULIA JACKLIN, LAV-Lisboa Ao Vivo, 1 de Dezembro de 2022

Ao fim de uma década, foi preciso o dia da Restauração e o feliz encontro de uma americana de Nasville e uma australiana de Blue Mountains para nos fazer regressar a um concerto pela capital e a óbvia estreia no espaço ao vivo lisboeta, um irmão afastado do Hard Club (duas salas, diferentes tamanhos). Coincidência, o espectáculo marcava também o final de um digressão conjunta de mais de vinte datas pela Europa. 

Com o espaço da Sala 2 ainda por encher, Erin Rae foi recebida de braços abertos e muita simpatia. Alguns conheciam as canções de "Lighten Up", o álbum deste ano que assinala uma nítida melhoria e consistência na qualidade da composição com o dedo de Jonathan Wilson e que serviu de guião dos trinta minutos de partilha, um desfile a solo e de guitarra em punho em estilo muito americana e light-country que se aprende a gostar. A firmeza da voz, as histórias que com ela rodeia a solidão ou a tristeza mas também o amor ou "aquilo que julgamos que ele é" de forma muito própria, diferente até no confronto aos padrões bafientos do country, teve em "California Belongs To You" e "Modern Woman" de enfiada uma prova inequívoca desse corajoso e positivo passo em frente. Saiu, por isso, com forte aplauso mas haveria de voltar.

 

Se fosse americana e ao fim de três álbuns de assinaláveis virtudes e aptidões, talvez Julia Jacklin já tivesse ganho Grammy's e encómios mais alargados. Não que nos os merecesse, mas a artista tem mantido a estabilidade necessária, sem deslumbramentos, apostando na rapidez digital e no, ainda e sempre, funcional passa-a-palavra para cimentar aficionados dedicados e leais. Na sala, agora sim, repleta (esgotada?) notava-se esse frenesim contido antes da sua entrada em palco mas que logo explodiu em ovação e alarido mesmo que fosse uma notável canção de Natal ("Baby Jesus is Nobody's Baby Now") a escolhida para logo satisfazer, no único momento a solo, um pedido de um desses muitos fiéis. 

O que se seguiu, já em pleno vapor ao lado do seu quarteto instrumental, foi um crescente desfilar de canções sublimes e a roçar a perfeição pop - por exemplo, "Love, Try Not to Let Go" ou "Lydia Wears a Cross" - que um apurado acerto da acústica do espaço consagrou na fruição. No final de cada um dos dezasseis temas escolhidos, o entusiasmo demonstrado pela plateia foi crescendo em euforia perante, pareceu-nos, a surpresa da própria Jacklin e de que "Head Alone", cantado em coro, foi exemplar. Mesmo assim, e para trás, algumas interacções quanto a elogios duvidosos ao vestido ou outras bocas sem sentido eram perfeitamente dispensáveis. 

Sem encore formal, ou seja, sem sair do palco, e já depois do imbatível "Pressure to Party", a surpresa da noite - os acordes de "My Heart Will Go On" de Céline Dion soaram no espaço e a canção foi, então, cantada e dueto com Erin Rae já de volta ao palco. Mais uma vez, a resposta foi um uníssono coro no refrão, nada de embaraçoso ou excessivo mas de nítida libertação de ambos os lados de uma contenda que está longe de ter terminado. É só esperar, de certeza, pelos festivais da época primavera-verão...  

Sem comentários: