 |
Fotografia: facebook do Teatro Municipal do Porto
|
Deu muitas voltas o nosso mundo desde a última vez que
Laurie Anderson se apresentou no Porto. Foram dois anos seguidos de
perfomances a solo no velhinho Teatro de Sâo João (
2005) e na, então, novinha Casa da Música (
2006), lanças vanguardistas em torno da palavra e da comunicação. Sempre acutilantes, sempre tensionais, sempre, diríamos, necessárias.
Vinte anos depois, e na companhia inédita da banda nova-iorquina SexMob, Anderson trouxe à cidade "X²", um (des)concerto que, não sendo só musical, também não foi só comunicacional. A hibridez aportada para a sala envolveu-se de imagens e luzes, de sons e crescendos jazzísticos em que o violino, o seu e mais dois, assumiram a centralina de alguma electrónica e demasiada, impertinente, percussão que chegou ao segundo balcão em modo quadrado, chapado, confirmando as deficiências acústicas de um teatro que não gosta nada de concertos rock ou outros...
Foi pena, por isso, que pérolas como "Big Science" ou "Language is Virus", escolhidos logo na primeira meia-hora para reafirmar a actualidade da mensagem, não tenham despertado grande entusiasmo, como que encolhidas e despercebidas numa amálgama multimédia e instrumental excessivas. Valeram, como sempre, as vozes, as histórias, os acentos que Anderson escolheu para contar, narrativas de frisado ora político, em que o seu presidente foi o alvo-mor, ora biográfico, com destaque para Dylan e o seu Lou Reed.
Surpreendente o capítulo dedicado ao pai, vida de um muito jovem emigrante da Suécia que a IA fez o favor de revolver e reinventar em imagens a preto e branco saborosas, engraçadas e despertadoras de alguma da maçada em que o serão, perigosamente, parecia ir patinar. Como que por magia, a noite ganhou novas asas para voar bem melhor até ao fim, um género de segunda-parte sem direito a intervalo em que a delicadeza, a cambiante visual e até o tai chi colectivo praticado sem constrangimento funcionaram, efectivamente, como um alívio compensador.
Uma noite demasiado longa, a precisar de maior e mais pertinente restrição, confirmando, no nosso entender, que a magia única que Laurie Anderson emana se afigura ainda suficiente para brilhar sem necessidade de uma qualquer coadjuvação. A grande ciência faz-se sozinha...