quinta-feira, 2 de julho de 2009

(RE)LIDO #16


WHAT’S GOING ON?
Marvin Gaye And The Last Days Of The Motown Sound
de Ben Edmonds. London: Mojo Books, 2001
O que sempre nos atraiu em Marvin Gaye foi, desde logo, uma coisa – como pode alguém escrever, musicar, construir ou imaginar um disco tão perfeito como “What’s Going On?”? Como é que, em pouco mais de trinta e cinco minutos de magia e nove canções que não podem ser ouvidas separadamente, se pode falar, de uma forma tão emocionante, de racismo, amor, ecologia, amizade, injustiça, religião, etc., sem cair no ridículo ou na lamechice? Lançado em 1971, em tempos conturbados na América e no mundo, este álbum é, talvez, um dos discos que mais vezes ouvimos. Tal como nós, muitos são aqueles que procuram na sua audição, um pequeno refúgio temporário que permite esquecer problemas, agruras ou tristezas e encarar o dia da amanhã de uma forma mais positiva (não é uma trivialidade…). A leitura deste documento teve, então, por finalidade entender o contexto e circunstâncias da produção de um disco tão intemporal. O resultado é francamente compensador. Ouvindo músicos, produtores, amigos e inimigos do músico, Ben Edmonds consegue, sem dificuldade, cativar-nos para a história e que história! Incompatibilizado com Barry Gordon, dono da Motown, Marvin logo percebeu que o projecto do disco não seria do gosto de Gordon. O livro traça as estratégias de afronta que aguçaram essa rivalidade e que chegaram ao ponto de ameaçar a própria edição do disco. Sempre na procura da perfeição, Marvin Gaye gravou e regravou sequências, inverteu e experimentou sonoridades, despediu músicos para os contratar cinco minutos depois, abusou das drogas e do álcool… Ouvindo o disco percebe-se, ainda hoje, o cuidado das orquestrações, as linhas de baixo perfeitas (vejam, ouçam só esta maravilha!), em momentos sem igual e que em muito contribuíram para mudar a forma de fazer música na altura.

O mito de Marvin Gaye, as circunstâncias da sua morte, as polémicas e teimosias do seu ego ou a auto-destruição da sua vida, são demasiado atractivos para que a indústria do cinema o vote ao esquecimento. Previstos estão, pelo menos, dois filmes biográficos, embora os adiamentos sejam constantes, talvez porque seja, certamente, difícil acertar o rumo sobre um personagem tão importante, mas acima de tudo, tão brilhante. Quando se comemoram os 50 anos da Motown, este livro permite perceber o que se comemora e a importância de um momento único que ainda hoje nos arrebata. Aqui ficam, em vídeo, dois deliciosos bocadinhos dessa história, embora o segundo seja uma irresistível brincadeira!



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