NOTÍCIAS D'ABRIL
Se Vossa Excelência... / Em Trás-os-Montes à Tarde
Portugal: Orfeu KSAT 633, 1978
Há quarenta e sete anos, o dia de hoje significava para muitos portugueses uma esperança em melhores condições de trabalho, de segurança social ou assistência na saúde. O pleno destes direitos consignados está ainda hoje por alcançar como se confirmou (não era preciso) com a chegada da uma pandemia que pôs a nu precariedades antigas e injustiças eternas. Cedo se percebeu que a revolução não chegaria a todos da mesma maneira e este single curioso de Adriano Correia de Oliveira de 1978 é uma memória válida de uma época em que a desilusão estava já disseminada...
A verdadeira história é reveladora: o presidente da República General Ramalho Eanes visitou nesse ano alguns concelhos do país para conhecer fábricas e indústrias, falar com operários e patrões e no caso da Tabopan, fábrica de aglomerados de madeira de Penafiel, teve à sua espera ao almoço colectivo um corajoso delegado sindical que o informou de viva voz e em liberdade das condições vigentes. Nas reivindicações, reproduzidas em notícias de jornais e também na própria capa do pequeno vinil, Amadeu Alves Ribeiro começava sempre por um "Se Vossa Excelência Senhor Presidente viesse cá almoçar mais vezes..." para relatar atrasos nos retroactivos, reclamar a integração de colegas afastados ou a inexistência de uma cantina, disfarçada naquele dia em mesas provisórias no interior do recinto.
Ao lê-la, Adriano Correia de Oliveira partiu para a gravação de uma nova canção com letra de Alfredo Vieira de Sousa, habitual colaborador de outros músicos como Fernando Tordo ou Pedro Osório, onde são cantados os problemas então revelados pelo sindicalista numa toada de intervenção directa em que a época era pródiga mas de composição instrumental algo arriscada. Juntou-lhe outro inédito, também resultante de uma notícia de jornal e com letra da mesma pena, sobre as virtudes do cooperativismo agrícola em Trás-os Montes e do caso de um pastor feliz pela descoberta do trabalho comunitário e das virtudes vantajosas da sua prática.
Este seria o penúltimo trabalho de originais de Adriano Correia de Oliveira, ele próprio um incansável e dedicado activista no canto popular antes e depois do 25 de Abril, tendo participado em centenas de sessões em todo o país e no estrangeiro que lhe retiraram tempo para gravar mais canções novas. Em 1980 procederia ainda ao registo do último álbum "Cantigas Portuguesas" com a ajuda de Fausto e Pedro Caldeira Cabral mas acabaria por falecer pobre, dizem, em Avintes em 1982.
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