SCOTT WALKER – ANOTHER TEAR FALLS
Jeremy Reed, Creation Books, 1998
Who are you Scott Walker? A pergunta podia estar num dos primeiros parágrafos deste ensaio, mas, efectivamente, ela é a última frase da sua derradeira página... A questão não é, assim, de fácil resposta. Personagem enigmático da história da música popular ocidental, Scott Walker parecia talhado para o sucesso estrondoso como parte dos Walker Brothers na primeira metade dos anos sessenta. Depois, entre 1967 e 1969, em nome próprio, gravou quatro discos a solo, onde, entre versões de Jacques Brel, Bacharach ou Tim Hardin, escreveu e cantou canções suas, verdadeiras pérolas intemporais de bom gosto e subtileza, uma versão quase luxuosa de Frank Sinatra. Dos quatro “Scott” é difícil escolher um deles, tamanha é a concentração de magníficas interpretações e composições. Exemplos: “Montague Terrace (In Blue)” ou “Such Small Love” do primeiro, “The Amorous Humphrey Plugg” ou “Plastic People” do segundo, “It’s Rainning Today” ou “Big Louise” do terceiro e “The Old Man’s Back Again” ou “Boy Child” do último. Um outro “clássico” chamado “Till the Band Comes In”, saído em 1970, foi na altura quase ignorado, mas o tempo viria ainda a dar-lhe “vida” e o devido reconhecimento. Na procura de uma explicação para tamanho talento, adquirimos em 2002 este livro, editado em 1998, um dos poucos, até aí, disponíveis sobre o Scott Walker. Sem surpresa, a sua recente leitura não trouxe grandes explicações ou novidades. É certo que não procurávamos uma biografia pormenorizada ou rebuscada da sua vida, o que se afigura tarefa impossível de concretizar. Mas o anonimato a que o cantor se auto-impôs desde o princípio dos anos oitenta, criou em nós e em muitos fãs uma nebulosa teia de dúvidas de irresistível demanda. Uma das causas principais desta procura está num disco – “Tilt”, um não-álbum, por assim dizer, verdadeira obra prima da música contemporânea editado em 1995, quebrando um silêncio de onze anos (o álbum “Climate of Hunter” é de 1984). De feições negras e funebres, até na capa e design utilizado, este disco reflecte um conjunto de “fraquezas” pessoais que são, no essencial, o motivo deste livro. Reclusão, incómodo nas aparições públicas e nas raras actuações ao vivo (vide abaixo a interpretação de “Rosery” no programa de Jools Holland em 1995), são, entre outras, questões sem explicação fácil. O autor, o mesmo da nota que contextualiza o álbum (único no mundo) de homenagem promovido pela portuguesa Transformadores em 2005 e do qual se fez uma apresentação ao vivo, tenta de diversas formas lá chegar – nas respostas das poucas entrevistas dadas, nas entrelinhas das letras das canções, nas comparações com outros músicos e cantores, sendo de referir o exagero na associação a Marc Almond, autor inspirado por Walker mas sem comparação qualititava possível. Descobrimos depois que o autor viria a escrever um livro sobre o próprio Almond... Assim, do ponto de vista biográfico este não é o livro mais aconselhável, figurando-se como uma exploração quase poética sobre o imaginário negro de Scott Walker que se torna, por vezes, demasiado densa. Certo é que Walker continua a surpreender-nos pela dissonância, intemporalidade e genealidade. Veja-se o inclassificável disco “The Drift” de 2006, mais uma acha para o adensar do mistério. Assim, e sem uma resposta eficaz à pergunta inicial, visualizaremos em breve o recente DVD “Scott Walker – 30 Century Man”, uma nova cruzada na procura do “graal”. Quem és tu, Scott Walker?
Jeremy Reed, Creation Books, 1998
Who are you Scott Walker? A pergunta podia estar num dos primeiros parágrafos deste ensaio, mas, efectivamente, ela é a última frase da sua derradeira página... A questão não é, assim, de fácil resposta. Personagem enigmático da história da música popular ocidental, Scott Walker parecia talhado para o sucesso estrondoso como parte dos Walker Brothers na primeira metade dos anos sessenta. Depois, entre 1967 e 1969, em nome próprio, gravou quatro discos a solo, onde, entre versões de Jacques Brel, Bacharach ou Tim Hardin, escreveu e cantou canções suas, verdadeiras pérolas intemporais de bom gosto e subtileza, uma versão quase luxuosa de Frank Sinatra. Dos quatro “Scott” é difícil escolher um deles, tamanha é a concentração de magníficas interpretações e composições. Exemplos: “Montague Terrace (In Blue)” ou “Such Small Love” do primeiro, “The Amorous Humphrey Plugg” ou “Plastic People” do segundo, “It’s Rainning Today” ou “Big Louise” do terceiro e “The Old Man’s Back Again” ou “Boy Child” do último. Um outro “clássico” chamado “Till the Band Comes In”, saído em 1970, foi na altura quase ignorado, mas o tempo viria ainda a dar-lhe “vida” e o devido reconhecimento. Na procura de uma explicação para tamanho talento, adquirimos em 2002 este livro, editado em 1998, um dos poucos, até aí, disponíveis sobre o Scott Walker. Sem surpresa, a sua recente leitura não trouxe grandes explicações ou novidades. É certo que não procurávamos uma biografia pormenorizada ou rebuscada da sua vida, o que se afigura tarefa impossível de concretizar. Mas o anonimato a que o cantor se auto-impôs desde o princípio dos anos oitenta, criou em nós e em muitos fãs uma nebulosa teia de dúvidas de irresistível demanda. Uma das causas principais desta procura está num disco – “Tilt”, um não-álbum, por assim dizer, verdadeira obra prima da música contemporânea editado em 1995, quebrando um silêncio de onze anos (o álbum “Climate of Hunter” é de 1984). De feições negras e funebres, até na capa e design utilizado, este disco reflecte um conjunto de “fraquezas” pessoais que são, no essencial, o motivo deste livro. Reclusão, incómodo nas aparições públicas e nas raras actuações ao vivo (vide abaixo a interpretação de “Rosery” no programa de Jools Holland em 1995), são, entre outras, questões sem explicação fácil. O autor, o mesmo da nota que contextualiza o álbum (único no mundo) de homenagem promovido pela portuguesa Transformadores em 2005 e do qual se fez uma apresentação ao vivo, tenta de diversas formas lá chegar – nas respostas das poucas entrevistas dadas, nas entrelinhas das letras das canções, nas comparações com outros músicos e cantores, sendo de referir o exagero na associação a Marc Almond, autor inspirado por Walker mas sem comparação qualititava possível. Descobrimos depois que o autor viria a escrever um livro sobre o próprio Almond... Assim, do ponto de vista biográfico este não é o livro mais aconselhável, figurando-se como uma exploração quase poética sobre o imaginário negro de Scott Walker que se torna, por vezes, demasiado densa. Certo é que Walker continua a surpreender-nos pela dissonância, intemporalidade e genealidade. Veja-se o inclassificável disco “The Drift” de 2006, mais uma acha para o adensar do mistério. Assim, e sem uma resposta eficaz à pergunta inicial, visualizaremos em breve o recente DVD “Scott Walker – 30 Century Man”, uma nova cruzada na procura do “graal”. Quem és tu, Scott Walker?
Scott Walker – Rosary (Jools Holland 1995)
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