Começou ontem a primeira etapa da maratona! "Inscritos" estão mais de vinte mil participantes vindos de todo o lado europeu, a maior concentração jovem de olhos azuis e louro natural a que o Porto já assistiu, um verdadeiro Erasmus melómano e não só que nos dá um enorme orgulho e satisfação. Quem diria que a cidade teria um festival assim, bem localizado e programado, envolvente, charmoso e de uma eficácia, até agora, irrepreensível. Claro que a presença espanhola é massiva o que é sinónimo de animação e de bebida em catadupa, batendo aos pontos qualquer concorrência, mas a música não tem nações e é ela quem permite toda esta imensa festa. A de ontem foi já de alto nível e, obviamente, bem regada e agitada.
Sozinho em palco, Bradford Cox e a sua one man band Atlas Sound mostrou-se eficaz na sua envolvente sonora, um sagaz complot acústico temperado a samplers e ruídos a que a plateia aderiu com agrado e atenção. Entre elogios ao Porto a propósito de um mítico concerto com os Liars no barco Porto Rio, deu para concluir, como se fosse preciso, que "Mona Lisa" é mesmo uma grande canção!
Sobre Yann Tiersen em versão festival os objectivos foram cumpridos. Aproximou-se mais do rock que da faceta banda sonora que o consagrou e, claro, marcou pontos. Instrumentista dotado, foi ao violino que arrancou os maiores aplausos, embora a crescente sonoridade moogiana de muitos dos temas apresentados tivesse caído bem em fim de tarde cinzento e até um pouco frio.
Os Drums são já um caso de sucesso. Refrões simples, apelativos preenchem um rock directo, sem floreados, mas houve ali alguma falta de frescura. Em digressão contínua há três anos, muitas das canções pareceram mais lentas e a precisar de uma injecção urgente de adrenalina. Mesmo assim, "Money", "Best Friend" ou o já clássico "Let's Go Surfing", conseguiram sem mácula uma das maiores agitações da noite.
Não sabemos quantas vezes é que os Suede já por cá tocaram. Às tantas mais que os dedos das mãos, o que não quer dizer que o filão se tenha esgotado. Em jeito best of, continuam em forma, principalmente Brett Anderson, um verdadeiro e sabido animal de palco. Atendendo ao alinhamento não deve haver muitos pedidos por satisfazer. No nosso caso, ainda bem que não tocaram o "She's In Fashion"...
Dos Mercury Rev esperava-se grandiosidade e ela, sem muito custo, transpareceu. Donahue mostrou-se inspirado pelo líquido tinto com que entrou em palco e que esvaziou sem dificuladade e a opulência sonora não deixou ninguém indiferente. A contínua guitarra de Grasshopper entranhou-se num registo mais pesado e tenso e uma das marcas e surpresas foram mesmo as incisivas bateria e baixo da banda. Não houve "Deserter's Songs" de princípio ao fim mas "Holes", "Endlessly", "Dark is Rising" ou "Opus 40" chegaram e de que maneira para preencher a alma. Muito bom.
A pista de dança abriu pontualmente às 2 da manhã. Os Rapture puseram rapidamente todo o mundo a dançar e a eficácia de um baixo robusto e um guitarra vintage teve um efeito prolongado. Em pousio há já alguns anos, a banda voltou em 2011 para fazer estragos mas foi o velhinho "House of Jealous Lovers" a levar ao êxtase o recinto. Um concerto com aquele touch DFA irresistível culminado com os braços bem no alto e um coro colectivo a perguntar "How Deep Is Your Love"? A resposta não foi nem é importante.
Hoje as "decisões" são mais difíceis mas a segunda etapa promete...
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