segunda-feira, 28 de maio de 2018

FEDERICO ALBANESE + PETER BRODERICK, Auditório de Espinho, 26 de Maio de 2018

O pequeno/grande recital do pianista italiano Federico Albanese não podia ter tido melhor local e oportunidade - recinto exemplar, acústica soberba, público habituado a respeitar os silêncios e as pausas indispensáveis e que lhe confiou muitas palmas numa estreia convincente e surpreendente. Já no terceiro disco de nome "By The Deep Sea", os instrumentais ao piano com pequenos laivos de sintetizador são peças sonoras de uma profundeza imagética irresistível e sonhadora que nos conduziram a um saboroso transe meditativo que se espalhou naturalmente no auditório em jeito de uma nuvem à espera da brisa sonora um pouco mais forte que se seguiria e aproximava...



Apresentado formalmente como um serão ao piano, o espectáculo de Peter Broderick foi muito mais que isso e transformou-se numa notável afluência de sonoridades, instrumentos e energias. Já com diversas provas de genialidade vertida em disco (quase uma vintena!) devidamente comprovada em concertos pelas redondezas nos últimos anos, o americano começou assim mesmo, ao piano, para duas, três, pérolas de uma assentada extremosa ("Sideline", "Below It" e o frágil "Low Light") mas de seguida, para que não restassem dúvidas sobre a perícia e destreza, lançou-se na guitarra, nos loops e no violino para, entre outras, duas versões do inspirador e prolífico Arthur Russell, um talismã natural que é também sinónimo de inquietude experimental e que sugere uma caminho futuro de difícil previsão mas de qualidade garantida. Quando voltou às teclas (ali em baixo ao minuto 35:50) para um arrebatador momento instrumental de inebriante efeito (título? quem ajuda?), a noite ganhou uma tensão ainda mais avassaladora e sólida a fazer lembrar um contínuo minimalismo vanguardista tão do agrado do mestre Melnik e, já agora, do nosso! Ainda golpeados pelo assomo, houve ainda tempo para duas outras preces ("Our Best" e "Hello to Nils"), este último num truque de lírica metafórica de irresistível adesão e onde a suposta despedida é rendida por uma saudação colectiva ... hello! O primeiro encore ao lado de Albanese numa parceria (inédita?) que se adivinhava antecipou ainda uma outra saborosa surpresa guardada para um segundo regresso ao palco, uma peça intemporal retirada do enorme songbook de Dylan chamada "I Threw It All Away". Tão grande! 
      

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