de Octávio Fonseca. Braga: Tradisom, 1ª edição, 2021
A vida artística de José Afonso já mereceu múltiplas iniciativas editoriais, de teses académicas a estudos de caso, fotobiografias ou recopilações de entrevistas. O mérito de todas elas, mesmo de teor variável, emerge de um denominador comum que tem nas suas canções o emissor principal de peripécias, cumplicidades, vitórias e desalentos de uma vida atribulada mas de plenitude incontestável.
Mesmo sem uma biografia oficial disponível, lacuna que seria do agrado do próprio e humilde artista, o que Octávio Fonseca empreendeu afigura-se essencial quer do ponto de vista documental quer na reposição justa de um panorama mais abrangente da importância das suas canções, influências ou intervenção sócio-politica. As Cantigas do Zeca, não retirando todo o seu peso na luta contra a ditadura e aspiração de liberdade, ganham aqui uma dimensão enciclopédica e artística onde o cantor e compositor é também um poeta mas, principalmente, um músico universal pronto a inovar e a partilhar criatividade sem esforço.
Para lá das polémicas e opiniões, disco a disco e desde os primeiros com as chamadas baladas de Coimbra até aos últimos já condicionado pela doença, o livro aventura-se numa cronologia rigorosa onde se denota uma notável e substancial pesquisa bibliográfica, ela própria comentada, buscas em acervos inéditos e insistências na recolha de testemunhos coevos que servem para uma evidente e profunda submersão no universo multifacetado de um artista difícil na análise, polémico na síntese mas crucial na conclusão quanto à sua importância na história da música portuguesa.
O parceiro essencial da guitarra Rui Pato, convidado a fazer o prefácio, refere que "talvez esteja aqui um José Afonso completo" o que, não muito longe da verdade, preferimos assumir como incorrecto na suposição que o fascínio pelas canções do Zeca continue a motivar e a despertar outras descobertas, histórias ou novidades. A necessidade de uma segunda edição revista e melhorada do livro é a prova que a vontade de música que se personifica em José Afonso continua a atrair reconhecimento e interesse. Sempre no mês do trigo se cantará...
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