Dois longos anos sem digressões, sem concertos, sem partilhas reais foram penosos para os Wilco. Entre muitas das suas virtudes sobressai a capacidade de, aparentemente, fazer o que uma banda deve fazer - tocar canções sem truques ou virtualidades e esse regresso ao primado do rock teve em "A Shot in the Arm" um iniciante sinal quanto ao gosto cúmplice de ali estarem a fazer o que melhor sabem e gostam. Em duas horas, esqueceram-se as saudades, as distâncias ou as desculpas e fez-se da oportunidade uma travessia de mão dada a que uma amizade tão antiga obriga na confiança e conforto de um alinhamento preparado para o abraço fraterno. Sem falhas, sem rodeios, sem excessos, o que veio do lá de lá, do palco, foi infinitamente aprimorado pela excelência dos instrumentos, pela subtileza das vozes, pela qualidade da acústica e da amplificação. Do lá de cá, da plateia, a resposta confundiu-se, sem protocolos, nessa matéria viva de sons de uma vida, de muitas vidas, entoados como se fossem preces purificadoras indispensáveis à respiração. Exageros?
Se o amor por uma banda não têm, nem pode ter, normas ou tabelas de equiparação medidas pela amplitude da gritaria ou da agitação, há nesta relação algo de imbatível e sobrenatural que atinge o pináculo quando "Impossible Germany" se começa a adivinhar. Desta vez, um endiabrado e recentemente curado (Covid19) Nels Cline pregou-nos a todos à parede da incredibilidade pela dose superlativa de riffs e deformações de um solo de guitarra inclassificável e sufocante que o brado posterior transformou em vénia e devaneio colectivo. Ufa... tanto podem ser temas do novo disco - e houve uma boa meia dúzia deles - como antiguidades com trinta anos com que acabaram a noite, que uma dádiva como esta não tem preço nem idade mesmo que cada vez maior e rabugenta. Música para velhos? Que seja, mas que os deuses da música os guardem e protejam por muitos e bons anos. Viva Wilco! Viva!
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