A casa antiga onde Alela Diane se refugiou nos últimos tempos com as filhas foi também a fonte inspiradora do novo disco "Looking Glass", reflexão cantada sobre o que ficou do passado e uma adivinhação do que será o futuro. O disco foi totalmente escrito pela própria com a produção de Tucker Martine e a habitual colaboração da amiga Heather Woods Broderick com quem partilha habitualmente palcos e canções. A fotografia da capa é da incrível Anna Caitlin.
Ainda este mês há duas data ao vivo com os Bonny Light Horseman nos E.U.A. e três em cidades da Europa (Berlin, Paris e Londres) logo a seguir, mas está marcado um regresso ao velho continente para Fevereiro de 2023 que se espera alcance paragens mais próximas..,
Um disco de versões de temas soul de, entre outros, Four Tops, The Tempations, Diana Ross a as Supremes ou The Walker Brothers não estaria nunca nas previsões quanto ao próximo desafio do Boss, Bruce Springsteen.
Mas é isso mesmo que vai acontecer em Novembro através da Columbia Records com "Only the Strong Survive", álbum onde o artista se limita a cantar no seu jeito característico quinze clássicos dos anos sessenta e setenta de forma a que a alegria com que os ouviu na juventude se estenda a novas gerações.
Aqui fica o primeiro, "Do I Love You (Indeed I Do)" de Frank Turner editado pela Motown em 1965. Atendendo ao "Covers. Vol. 1" inscrito na capa, vai haver certamente mais...
O prestígio do indiano Nishat Khan é facilmente comprovado pela lista de colaborações com outros músicos famosos interessados no inato dom com que toca a cítara, instrumento clássico enraizado na família por gerações e cuja sonoridade tem, desde os dezassete anos, espalhado internacionalmente. Não admira que a visita ao Porto, em estreia na cidade, tivesse por isso adesão massiva com o recinto religioso totalmente preenchido de expectativa, curiosidade e acentuado espírito de partilha.
Acompanhado de um tocador de tablas, componente rítmica importante de parte do recital, Khan mostrou-se cauteloso e também pedagógico na explicação prévia sobre o que se iria ouvir - música tradicional indiana que se designa por Raga, um estilo não inscrito em qualquer pauta desde que se sigam algumas convenções, se improvise em seu redor e se proceda a uma afinação do instrumentos de forma rigorosa. A metodologia, interessante e complementar a outros ensinamentos apreendidos em Julho passado no concerto de outro Khan, Lakha Khan, acabou por se desvanecer assim que a viagem sonora começou...
No final de tarde de Domingo e ao longo de quase duas horas, a igreja portuense foi perdendo a luz natural das suas poucas janelas mas outras se abriram de par em par, admiráveis momentos iluminados de virtuosismo, ora presenteados por palmas de quando em vez, ora submersos num silêncio sepulcral, tudo sinais de respeito e também surpresa pela imensidão da dádiva e da comunhão. A todos os níveis, inesquecível!
Afinal o concerto de Albaster DePlume agendado misteriosamente para o norte do país acabou por subir somente de Lisboa até Coimbra e ocupou o palco do Salão Brazil no âmbito da vigésima edição do Festival Jazz Ao Centro. A oportunidade, gratuita, foi aproveitada por uma plateia expectante mas de nítida tolerância e interesse em novas sonoridades e experiências, o que no caso se afigurava especialmente apetitoso.
DePlume tem no álbum "Gold" deste ano um caso sério de combate espiritual adornado pelo seu saxofone e uma plêiade de instrumentos em desafiante balanço mas que ao vivo se reduziram a duas guitarras e uma bateria minimalista. Acrescentaram-se as notas cantadas em coro pelo quarteto, no que sugere ser um ritual quase sempre prévio à entrada do saxofone, trepidante, incisivo, a gingar em sobreposição esplêndida e que só foi interrompida para os discursos, as sentenças, os desabafos e as profecias, não de polichinelo, mas de efectiva pertinência e desarme, exagerando, talvez, na compaixão mas de apelo vincado a que ninguém na sala ficou, certamente, indiferente.
A perfomance serviu, em dois momentos, para homenagear Pharoah Sanders, saxofonista falecido no dia do concerto, e Jaimie Branch, trompetista amiga que nos deixou em Agosto, longe contudo de um ambiente triste ou enfadonho já que do serão submergiu sempre uma envolvente afirmativa, vibrante e até desconcertante ou não fosse DePlume, tal como cada um de nós, uma verdadeira preciosidade. Não, não nos vamos esquecer - you're precious!
Apresentada como uma brass band revolucionária, a Orquestra Voadora carioca mudou, dizem, a forma de tocar e animar as ruas brasileiras, arrastando multidões e foliões ou funcionando como escola de novos músicos e artistas. Não demoraria muito tempo para que o Porto provasse desse arrastão de ritmo e movimento e confirmasse os predicados referidos.
Iniciando a perfomance em cima do palco da Concha Acústica, logo a fanfarra moderna desceu as escadas para iniciar um circuito aleatório pelo recinto do Palácio de Cristal, subindo até à frente da renovada arena, dando a volta junto da biblioteca e regressando ao local de partida. Ao longo do percurso, o entusiasmo, a dança, a cantoria ou a alegria, foram crescendo em doses contagiantes a que não foi estranha a presença de uma massa considerável de jovens brasileiros conhecedores dos truques, das letras e daquele jeito tão sul-americano de viver o momento da forma mais intensa possível que não se sabe quando vai ser o próximo.
Com temas de Michael Jackson a Rita Lee, de Fela Kuti a Zé Ramalho, o turbilhão irresistível foi ganhando cada vez mais adeptos de todas as idades e paradeiros, que isto agora no Porto aquela hora e naquele local tinha gente de todo o lado disponível para o folguedo. Afinal, o Carnaval é quando e onde um homem quiser... Libertador e aeróbico!
Passou mais de uma década sobre a nossa primeira e ocasional audição de uma canção de Michael Kiwanuka na rádio, momento de imediato reconhecido como prometedor e airoso. Os passos seguintes do cantor britânico viriam a provar o talento e nobreza da sua música, para o que não foram precisos muitos discos, três excelentes e consistentes álbuns que lhe valerem prémios e reconhecimento alargado. Faltava a experiência tridimensional de um dos seus espectáculos, que mesmo duplamente adiada desde 2020, aconteceu finalmente para gáudio de uma plateia internacional adulta e, desde logo, paciente.
Rodeado de um conjunto de músicos de assinalável aptidão, Kiwanuka escolheu na corrente digressão uma série de temas iniciais destinados a abanar o público por contágio dançável ("One More Night", "You Ain't the Problem", "Rolling" ou "Black Man in a White World"), uma sequência de vinte minutos de cortar o fôlego e que precisava de nítido calmante que chegou com "Rule the World", magnífico, numa acústica do recinto que se fez notar sem mácula e onde começaram a brilhar, ainda mais, as duas vozes femininas que o acompanharam e também uma imersão colectiva num jogo de luz e efeitos de resultado eficaz e hipnótico.
Até ao inesquecível "Solid Ground" mesmo antes do encore e sentado ao piano, Kiwanuka foi-nos baloiçando em jeito conceptual ("Hero", "Light" ou "Final Days") com uma onda gospel e soul vintage, vincando a eternidade do último "Kiwanuka" de 2019 e a validade de uma mensagem de auto-confiança nas suas capacidades de proporcionar viagens (d)e sonhos através das canções. Os que lá estavam só para se banharem no Instagram tiveram que esperar um pouco mais, mas não muito tempo.
De volta ao palco, o colectivo foi sobressaindo da penumbra com "Falling", uma outra pérola ofuscante para, agora sim, cumprir promessas mais antigas com "Home Again", "Cold Little Heart" e "Love & Hate" em apoteose colectiva, uma preocupante e delirante maresia de telemóveis em punho de magnitude a que nunca tínhamos assistido que isto das grandes plateias tende cada vez mais a amedrontar-nos. Mesmo assim, a valente e saudável terapia Kiwanuka valeu bem todos os sacrifícios ou sustos. Haja coração!
A estreia nacional do violonista prodígio Plínio Fernandes parecia ter na Igreja do Carmo um palco perfeito mas alguns equívocos transformaram o evento num momento quase sofrível. Sem amplificação do violão, propositado ou não permitido, o som emitido foi sendo continuamente abafado sem dificuldade pela entrada e saída de espectadores páraquedistas, pelo ranger do soalho, pelo barulho dos disparos ilimitados das máquinas fotográficas, pelo ruído exterior saído dos ensaios de som de palcos próximos, a que se somou um indesculpável apagão do projector principal no último dos temas tocados...
Como detentores de um bilhete para o concerto, sentados no local sinalizado pela organização, deu pena confirmar que a música, afinal, o apelo único do ajuntamento, não foi respeitada na sua essência já que a sua fruição por quem de facto o desejava esteve sempre condicionada pelo acima referido. Com muitos dos bancos vazios por desistência, a situação estabilizou na meia hora final, permitindo ouvir de forma satisfatória e em silêncio milagroso os acordes de algumas das recreações que Plínio incluiu no álbum "Saudade" de recente edição, e onde se fez notar um cintilante clássico "Gracias a La vida". Um recital coarctado mas, ainda assim, agradável.
Os Hause Plants, banda liderada pelo lisboeta Guilherme Correia, são um projecto de pulsão frenética indisfarçável e onde a pop é robustecida pelo freio das guitarras a um limite que o pós-punk vitaliza. O palco do bar portuense, não sendo tecnicamente o mais apurado para se notarem nos pormenores, foi certamente o ideal para aclarar e acelerar virtudes de um caminho ainda jovem e prometedor que faz dos concertos ao vivo um teste de avaliação sazonal decisivo no cimentar de um qualquer percurso artístico. O da noite de quinta-feira, não deixando de ser mais uma experiência, pode ser classificado com um bom com distinção!
Respondendo ao convite dos Hause Plants para tocarem em Portugal, os canadianos Ducks Ltd. aceitaram de imediato a cortesia e incluíram uma passagem dupla em estreia nacional. No Porto, confirmaram os créditos obtidos essencialmente com o álbum de estreia "Modern Fiction" de 2021, onde um dito jangle-pop, isto é, um indie de nítida camada revivalista onde os anos 80 e, particularmente, as sonoridades inglesas dessa década, se faz notar com gosto.
Na sala granítica do bar da Invicta, espaço que apesar do adiantado da hora se mostrou bem preenchido, ao fim de trinta minutos o quarteto tinha já desfilado quase uma dezena de canções, um corrupio inatacável na sequência, execução e consistência bem recebidas e assimiladas pela plateia já conhecedora das letras de muitos dos temas. A boa disposição de Tom Mcgreevy, o vocalista, foi só a confirmação que a fruição dos dois lados da contenda resultou num concerto na hora certa e, apesar das limitações técnicas e acústicas, no local certo, culminado com uma versão arrebatadora dos Jesus And Mary Chain. Cabeça erguida!
A menina Jesca Hoop, apesar da sua nacionalidade inglesa, fez da América a sua casa e viveu, como todos, os dois últimos anos de forma triste, acumulando incertezas ou apressando decisões emparedada por mitos e obstáculos obscuros.
Da aparente dúvida colectiva saíram forças para mais um disco a que chamou "Order of Romance", um trabalho de nítida aspereza em comparação com o último álbum de 2019 mas com vantajosa nitidez nas influências, nas subtilezas e qualidades da escrita libertadora. Para saber ouvir com atenção e paixão...
Vindo dos maravilhosos The Delines nunca são demais histórias, digressões, canções e, neste caso, duetos esquecidos. A vocalista Amy Boone e o mentor Willy Vlautin adoram cantar ao desafio e ao longo dos anos chegaram mesmo a escrever e ensaiar alguns deles ao jeito de Nancy Sinatra e Lee Hazlewood mas as circunstâncias nunca permitiram a sua concretização pública.
Há agora, contudo, um novo 7" em vinil de capa vintage em pré-encomenda chamado "The Lost Duets" com duas amostras dessa faceta, sendo já audível "My Blood Bleeds The Darkest Blue", a primeira a ser conhecida, e que confirma a talentosa reinvenção de uma sonoridade tradicional e sem qualquer peso da idade.
Os britânicos Man & The Echo parecem ser um daqueles casos de alegre resiliência nos, poucos, discos que gravaram desde que se lançaram nestas lides da música em 2016. Assumem-se, por isso, sem orçamento ou jogos de influência mas ficam contentes quando se fala deles ou aderem a digressões para abrir para quem os convida de modo cortêz. Foi assim que os conhecemos por Braga aquando de uma visita de Neil Hannon/The Divine Comedy, meia hora para confirmarem o seu excelente travo new wave com direito a conversa e sessão de autógrafos divertida.
Passaram três anos mas a atitude cool parece não ter mudado. Sem grandes recursos, jogando na eterna força de pisar um palco ou de ouvir um dos seus temas na rádio, editaram agora um EP que mais parece um LP de nome "Simulacra" repleto de (sete) grandes canções e a que colam imagens em video na tentativa imediata de se fazerem ouvir como merecem... e sem simulações!
Sinceramente, esperávamos uma notícia com esta há já alguma tempo!
A problemática ambiental levantada pela produção e conservação dos clássicos discos de vinil em plástico, melhor, em policloreto de vinila / PVC, de que tantos gostamos é, amiúde, motivo de discussão entre amigos com a mesma paixão e onde a questão se centra na inexistência de uma ou várias alternativas ecológicas não tóxicas.
Uma primeira e, aparentemente, séria solução foi desenvolvida em Inglaterra a partir do açúcar (?) e de que resultou um bioplástico com qualidade idêntica ao do velhinho vinil na reprodução da gravação. Será que é mesmo o fim da geração do plástico musical? (ler no Público de hoje)
Uma pesquisa por "Baron" na rede irá encaminhar-vos de certeza para o cromo Sacha Baron Cohen e, por isso, há quer refinar a procura que interessa - Reverend Baron, essa sim, uma sugestão imperdível de efeito calmante que é um perfeito mistério e uma boa surpresa através do álbum "From Anywhere..." que a Colemine Records, uma subsidiária da Karma Chief americana, editou em Junho passado.
Parece estranho que uma casa de artistas com acentuadas vocações soul e funk (Neal Francis ou Durand Jones são só dois bons exemplos) abra a porta a uma sonoridade de tão nobre e pegajosa nostalgia onde os blues e a folk se espalham sem esforço mas basta ouvir "On the Roundabout" ou "It's My Turn (To Cry, Cry, Cry")" para a receita se estender ainda ao r&b, tudo a lembrar Cass McCombs, Little Wings ou o saudoso, e também misterioso, Tobias Jesso Jr.
Esta é a segunda investida num disco grande que se segue a "Overpass Boy" de final de 2019, outra recomendável colecção em auto edição e que foi a estreia artística maturada e assumida por Danny Garcia, o nome verdadeiro deste antigo skater que, com a ajuda de outro compincha da prancha de rolamentos chamado Matt Costa, se transformou a partir de 2013 em Reverend Baron. Façam-lhe, desde já, uma vénia!
O dia de hoje estava marcado como data de edição de "Nick Drake: The Authorised Biography", da autoria de Richard Morton Jack, pela clássica editora londrina John Murray Publishers Ltd. A capa e arranjo gráfico estão, aparentemente, aprovados e onde se faz notar um sorridente e tímido Drake perante a máquina fotográfica de Keith Morris. O conteúdo (352 páginas) adianta-se como inédito e abrangente mas sinalizado e aprovado pela família facilitadora no acesso a arquivos e outros documentos originais.
Certo é, contudo, que a data de saída do livro não vai ser cumprida. O autor continua envolvido numa demanda intrincada e vamos ter que esperar até Setembro do próximo ano para que uma prometida claridade sobre tão curta e enigmática vida do pobre do rapaz ganhe, finalmente, mais alguns contornos de nitidez.
A menina Rozi Plain terá álbum novo pela Memphis Industries logo em Janeiro de 2023. O sucessor do magnífico "What a Boost"
foi propositadamente limpo de adornos e sofisticações, limitando-se na sua base ao uso da voz e da guitarra eléctrica, um instrumento que a próprio construiu e aperfeiçoou, e de algumas colaborações amigáveis. Chamou-lhe simplesmente "Prize".
De Bristol para Londres, onde agora concentra a sua actividade, é assim natural a ajuda da voz de Kate Stables (This Is The Kit) e do saxofone de Alabaster DePlume que se podem ouvir no primeiro single "Agreing For Two" (o mesmo saxofone de DePlume pode ser também notado em "Fractals", o mais recente single de Beth Orton). O tema tem video a cargo do amigo Jack Barraclough.
Plain tinha já realizado, em 2019, uma remix para o tema "Be Nice To People" que DePlume incluíu no álbum "If In Doubt Yes: The Corner of a Sepher Live & Remixed", tendo recentemente partilhado palcos e perfomances com o saxofonista.
A música inglesa, como qualquer outra, vive de ciclos e modas nem sempre imediatamente perceptíveis ou sequer confirmadas. Cabe, quase sempre, à imprensa fazer o seu papel vigilante de utilidade duvidosa, o que no caso britânico é um hábito recorrente e que agora se repete numa nova tendência a que deram o risível nome de "guitar music". O NME fez já o seu testamento prévio e nele incluiu os Courting, quarteto de Liverpool ainda sem álbum editado mas já gravado e que está aí a rebentar num par de semanas. Nome do disco: "Guitar Music"! Fomos, então, ver e ouvir o "fenómeno" antes que estoure... ou se esvazie.
Perante meia centena de curiosos e meia dúzia de jovens fãs que até já cantam as letras dos temas, a mistura de gerações refletia, por si só, a razão do ajuntamento - os mais velhos, em maioria, na expectativa de perceber se o sangue da guelra anunciado fluía sem coágulos e disfarces e os mais novos, em minoria, nas tintas para o passado desde que a animação ajudasse à festarola e ao recreio. Bem tentaram os Courting que a coisa pegasse fogo imediato, mas a ignição agitadora demorou a brotar apesar de "Tennis" e "Football" se terem colado sem paragem numa tentativa inicial de vivacidade e que contemplou, mais à frente, descidas do vocalista até à plateia, apelos a maior proximidade do palco e elogios à cidade.
Nada a dizer quanto ao esforço e até firmeza de algumas das canções - "Slow Burner" e "Loaded" são só dois dos bons exemplos - mas os ingredientes da receita remetem sem contemplações para uma colagem chapada a punk rock americano tardio (aquele vocoder...) ou britpop escangalhado que manteve alguma eficácia sem nunca alcançar um deslumbramento. Divertida, essa sim, a sessão de discos pedidos ou karaoke improvisado que em dez minutos de interacção e brincadeira pôs a rodar Cee Lo Green, Weezer, Avril Lavigne, Talking Heads ou, erghhh, Sum 41. Uma curte de cortesia!
A trilogia iniciada por Weyes Blood com o "Titanic Rising" em 2019 terá suspirada continuidade em Novembro quando "And in the Darkness, Hearts Aglow" for editado pela Sub-Pop. A nova fase transpira instabilidade e indefinição quanto a tudo o que nos rodeia e que levou e leva Natalie Mering a duvidar do amor sem união ou da felicidade sem partilha.
As novas canções são, assim, não uma resposta ou solução para os desalentos, mas uma forma assumida de iluminar o lado bom de uma qualquer dúvida existencial. "It's Not Just Me, It's Everybody" pois então...
O anúncio apareceu a meio do mês de Agosto. Bill Callahan teria álbum novo em Outubro de título "YTI⅃AƎЯ" ao lado dos parceiros Matt Kinsey, Emmett Kelly, Sara Ann Phillips e do grande Jim White na bateria, expressando a razão do regresso, a inspiração para as doze canções ou o porquê de querer metais e vozes no disco. Só não havia era música nova para ouvir. Até hoje!
Com "Coyotes" ficamos, desde logo, de queixo caído a suspirar pelo restante deleite e, por isso, acrescentamos a versão de "Don't You Go" incluída no álbum "Voids" de Old Fire, projecto do músico John Mark Lapham, e à qual Callahan dá voz. O tema é um magnífico original de John Martyn de 1981 e conta ainda nesta cover com a ajuda, entre outros, de Thomas Bartlett (Doveman) no piano. Mais um disco a que se deve ficar atento...
Perto dos sessenta e três anos e dezasseis álbuns depois, não deve ser fácil para Kurt Wagner, o mentor e curador dos Lambchop, reinventar-se na escrita de canções ou acompanhar tendências. Fazendo o que lhe dá na real gana, desta vez ausentou-se propositadamente da produção do novo disco "The Bible" que sairá na final do mês e que já por aqui sinalizamos com uma primeira e bem conseguida amostra. Mas há outras...
O ateísmo de Wagner não o impede de se confrontar com a espiritualidade que afirma existir sem religião, penetrando numa imparável dimensão de susto e isolamento por causa da pandemia mas também de sobrevivência e conforto pela proximidade da família, libertando preconceitos e os tais espíritos para novas experiências - um pouco de funk, de disco e sucedâneos aportados por músicos de Minneapolis a quem não colocou amarras e se deixou ir em todas as direcções, como se comprova nos três temas já conhecidos. Um bíblia de antologia!
"Não haverá muitos nomes assim, que tanta gente tenha inscrito nas prateleiras lá de casa e não saiba bem quem é."
Assim começa uma entrevista de Mário Barreiros à Time Out de Abril passado que talvez abrevie demoradas explicações biográficas sobre um produtor e músico do Porto essencial naquilo que ouvimos em discos de Abrunhosa, Rui Veloso, Clã ou Jorge Palma, só para citar alguns, mas também na afirmação do jazz na cidade, na sua pedagogia e aprendizagem instrumental, nomeadamente a bateria que toca de forma exemplar.
A opção por um retiro a que se obrigou durante anos, teve em Janeiro uma notável interrupção com a edição do álbum "Dois Quartetos sobre o Mar", trabalho recomendável realizado com dois quartetos - o "Pacífico," ao lado de Abe Rábade (piano), Carlos Barreto (contrabaixo) e Ricardo Toscano (saxofone), numa toada mais calma e contemplativa e o "Abissal" com José Pedro Coelho (saxofone), Demian Cabaud (contrabaixo) e Miguel Meirinhos (piano), mais denso e exploratório na sonoridade. O disco, em auto edição, tem fotografias do próprio e de que é bom exemplo a imagem de capa captada perto de casa, ali pelo mar da Aguda.
Suspiramos, assim, por uma apresentação ao vivo por perto, concertos que têm acontecido de forma selectiva e até gratuita, mas que agora encontrou uma noite imperdível: no âmbito da programação do Outono em Jazz da Casa da Música está confirmado o dia 11 de Outubro, terça-feira, para que na sala Suggia se ouça a (sua) excelência...
À boleia do João Lisboa, fomos ouvir como deve ser o EP que Elizabeth Fraser editou recentemente na Partisan Records. A voz inesquecível dos Cocteau Twins há muito que tinha prometido o regresso que acontece com Sun's Signature, nome do projecto e do disco ao lado do marido Damon Rice, mas que demorou, nalguns casos, doze anos a aperfeiçoar e, noutro caso ("Golden Air"), vinte e dois anos a concluir! Uma espera divinal...
Tal como anunciado, a estreia do documentário "Moonage Daydream" sobre David Bowie da autoria de Brett Morgen terá apresentação única a 15 de Setembro próximo, quinta-feira, em três cinemas IMAX do país, a saber, CascaisShopping, Colombo e Mar Matosinhos Shopping. No caso deste último local, os bilhetes acima dos 11€ estão disponíveis para cinco sessões consecutivas e... imersivas!
Após uma intensa digressão que passou por Braga em Maio, multiplicou-se em Julho ao lado dos Beach House pelo continente americano e só terminou em Agosto ao lado de Neil Halstead em Amesterdão, Mary Lattimore dedicou algum tempo a combater da melhor maneira aquele depressivo chamamento que, dizem, acontece sempre que uma tournée acaba e se regressa a casa - um novo e belíssimo tema com sua harpa a que chamou "The Last Roses" e que se estende, sem pressas, ao longo de dezasseis minutos...
O novo álbum "Sorrows Away" das The Unthanks anunciado em Abril e que tem sido aos poucos conhecido oficialmente, continuará a ser apresentado ao vivo na sua totalidade com a ajuda de um ensemble de onze elementos, um formato grandioso que pode ser confirmado parcialmente no video do segundo single "The Old News".
Para trás, "The Bay Of Fundy", um original do americano Gordon Bok de 1975, foi o primeiro avanço do disco que terá edições em vários formatos disponíveis a partir de 14 de Outubro e que confirma e prolonga, sem mágoas, a magia inconfundível das manas Becky e Rachel... (Un)thanks!
Três anos sem um concerto de Kevin Morby parece ser demasiado tempo para quem, como nós, não se cansa do rastilho das suas canções em cima do palco. Com o cancelamento da sua partiicpação no SBSR deste ano, Portugal ficou de fora da digressão europeia que continua este mês por Inglaterra e com duas datas aqui ao lado já para a semana (Málaga e Madrid).
Esta penosa ausência faz ainda mais mossa atendendo a que o álbum que suporta o actual espectáculo ("This Is a Photograph") se afigura entusiasmante na sua transposição colectiva de elevada potência, o que se pode confirmar numa gravação milagrosa do sempre atento canal Arte feita o mês passado aquando da passagem de Morby pelo Festival La Route du Rock em St. Malo, França. Disponíveis também actuações no mesmo evento de, entre outros, Baxter Dury ou Fat White Family. Para reduzir distâncias...
Uma já antiga residência artística no Sirius Arts Center de Cobh, Irlanda, permitiu a Peter Broderick assentar uma série de composições ao piano que ao longo dos anos foi acumulando involuntariamente na sua cabeça, fazendo a sua transposição definitiva para pautas apropriadas e motivando o seu acabamento e acerto. A tarefa valeu a edição do manual "Piano Works Vol. 1", publicado há cerca de cinco anos, e onde se incluía uma gravação dos vinte pedacinhos ao piano em jeito de prática pedagógica e escolar e que só se podiam ouvir comprando o tal livro.
Ao mesmo tempo, surgiu uma peça completamente inédita em jeito de homenagem ao local onde brotou, recebendo, por isso, o título de "Sonata for the Sirius" que agora se dá a conhecer como primeiro avanço de "Piano Works Vol. 1 (Floating in Tucker's Basement)", a disponibilização em vinil e CD da referida e rebuscada compilação que, mesmo assim, foi agora integralmente tratada por Tucker Martin, engenheiro e produtor americano afamado pelos processos de restauro e valorização que aplica no seu estúdio de Portland, Oregon.
O refinamento primoroso terá edição pela Erased Tapes já no final deste mês, mantendo-se o bonito livro disponível para aquisição. Peter Broderick tem, entretanto, regresso marcado ao Porto no dia 15 de Outubro no alinhamento do Amplifest (Hard Club).