terça-feira, 19 de novembro de 2024

BRANDEE YOUNGER, Auditório de Espinho, 16 de Novembro de 2024

Na história do jazz, a harpa acumula uma tradição singular e, muitas vezes, exclusiva que tem nos nomes de Alice Coltrane ou Dorothy Ashby uma impressionante tradição e misticismo. Para qualquer aspirante a fazer desse instrumento antigo um recurso musical de eleição, essas são referências obrigatórias que, no feminino, ganham rapidamente um enlevo mágico e de que Amanda Whiting ou Brandee Younger são dois dos melhores exemplos contemporâneos. O serão de sábado passado não deixou dúvidas quanto ao encanto desse património e da sua sustentabilidade vindoura. 

Com a ajuda, e que ajuda, de Rashaan Carter no baixo e contrabaixo e de Allan Mednard na bateria, Younger fez do alinhamento uma homenagem a esse legado com uma versão de "Blue Nile" de Coltrane (uma recente história levou Youger a ter a primazia de manejar a harpa restaurada da artista) e uma outra de "If It's Magical" de Stevie Wonder, tema onde brilhará eternamente o arranjo que Ashby criou para a melodia e lírica de Wonder. Tocante. 

Entre originais ("Unrest" ou "Spirit U Will), flutuaram ondulantes, quer no início, a meio e no final, três peças inéditas, recentes composições de subtil acento, mas que se fortaleceram numa fusão clássica e inebriante de bateria e baixo. A aposta faz adivinhar uma delicadeza talvez mais depurada que um próximo álbum acabará por, possivelmente, confirmar e que nunca, afinal, deixou de existir disfarçada nos mais recentes discos. 

A versão de Marvin Gaye ("I Want You") com que regressou para o único encore foi só mais uma dádiva inesperada, embrulhada de elegância e vibração, de um serão reconfortante que, como alguém traduziu entre fortes aplausos, se pode resumir a um bom adágio português - o que é bom passa depressa!

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