sexta-feira, 30 de junho de 2017
1 LIVRO E 111 DISCOS!
Para comemorar os oitenta anos da rádio pública em Portugal, a Antena3 convidou uma série de radialistas, críticos, jornalistas, músicos ou investigadores a escolher e a justificar os discos marcantes desse período, contando, desta forma, uma história da música gravada e da rádio em paralelo. O volume de capa cartonada e design atraente chama-se "Cento e Onze Discos Portugueses. A Música na Rádio Pública" tem coordenação de Henrique Amaro e Jorge Guerra e Paz e conta com textos de, entre muitos outros, Ana Cristina Ferrão, Luís Filipe Barros, Álvaro Costa ou o inevitável Júlio Isidro numa edição da Afrontamento. Um projecto arriscado, mas de leitura obrigatória.
WILL JOHNSON, UMA GRANDE CANÇÃO!
O mais que polivalente e talentoso Will Johnson lançou este ano mais um álbum a solo chamado "Hatteras Night, A Good Luck Charm", uma amostra do que pode e deve ser a música americana em diversas facetas. Mas por muitas voltas que o disco dê acabamos sempre a abrir a concha de uma pérola que anda lá pelo meio - "Filled With A Falcon's Dreams" tem tanto de sedução como de veludo, uma viciante canção que nos sugere os America e o Jonathan Wilson de mão dada a assobiar de contentes...
segunda-feira, 26 de junho de 2017
DUETOS IMPROVÁVEIS #201
ELTON JOHN & JACK WHITE
Two Fingers of Whiskey (John/Taupin)
Documentário "American Epic Sessions", 2017
Two Fingers of Whiskey (John/Taupin)
Documentário "American Epic Sessions", 2017
sexta-feira, 23 de junho de 2017
SARAH BELKNER + JFDR, Festival Gaia Todo Um Mundo, 17 de Junho de 2017
A tarde de calor até que convidava a um concerto informal ao ar livre, mas não tanto! O facto de o palco Bernardino estar instalado numa artéria inclinada com trânsito de autocarros, aceleras frenéticos entre turistas ocasionais e moradores indiferentes, condicionou em muito o valor das canções de Sarah Belkner. Elevada no seu altar cimeiro demasiado distante de quem a queria ouvir como deve ser, a jovem australiana ultrapassou, em parte, os constrangimentos sempre com um sorriso nos lábios tentando aproximar vontades e sensações mas o momento pareceu-nos, mesmo assim, um erro de programação certamente arrojado mas inconsequente. A rever, esperemos, numa próxima edição.
O regresso de Jófríður Ákadóttir aka JFDR, que esteve recentemente em Espinho, teve, este sim, um cenário a condizer. A capela do Convento Corpus Christi, impecável no seu restauro e luminosidade, oferecia todas as condições para que os temas de Jófridur ganhassem altitude e leveza, mesmo que nalguns casos tenha sido perceptível na sua postura alguma amargura... Talvez a "separação" da irmã e do projecto Pascal Pinon explique parte da angústia que emana das canções extremamente pessoais e íntimas, como fez questão de confessar na introdução a cada uma delas, mas a sua música teve sempre o condão derradeiro de inverter essa melancolia num optimismo saboroso e sonhador.
O regresso de Jófríður Ákadóttir aka JFDR, que esteve recentemente em Espinho, teve, este sim, um cenário a condizer. A capela do Convento Corpus Christi, impecável no seu restauro e luminosidade, oferecia todas as condições para que os temas de Jófridur ganhassem altitude e leveza, mesmo que nalguns casos tenha sido perceptível na sua postura alguma amargura... Talvez a "separação" da irmã e do projecto Pascal Pinon explique parte da angústia que emana das canções extremamente pessoais e íntimas, como fez questão de confessar na introdução a cada uma delas, mas a sua música teve sempre o condão derradeiro de inverter essa melancolia num optimismo saboroso e sonhador.
quarta-feira, 21 de junho de 2017
GARETH DICKSON, Armazém 22, Festival Gaia Todo Um Mundo, 16 de Junho de 2017
A presença de Gareth Dickson ao lado de Vashti Bunyan num memorável serão de 2015 deixou-nos muita água na boca. Desde aí, suspirávamos por uma oportunidade certeira de o ouvir num espaço aconchegante e de acústica perfeita, condições que finalmente e de forma surpreendente - e gratuita! - aconteceram em Gaia na passada sexta-feira. O Armazém 22 talvez merecesse mais gente mas o brilho da prestação de Dickson e a delicadeza da sua música encheram as medidas de todos aqueles que corajosamente aí acorreram mesmo que o horário não fosse o mais apelativo. Contudo, não há nem pode haver horas boas nem más para desfrutar de tamanha preciosidade sonora e o momento por si só confirmou que Gareth Dickson talvez seja hoje imbatível na aproximação ou recriação de um género musical sem idade nem prazo que aprendemos a amar de olhos fechados e mente sempre aberta. Inigualável!
terça-feira, 20 de junho de 2017
PRIMAVERA SOUND PORTO 2017: UM BALANÇO
10 likes:
1. mais e melhores casa de banho a que se junta uma limpeza exemplar do recinto;
2. não sabíamos, mas o canal Arte transmitiu alguns dos concertos na íntegra! É por aqui;
3. dez minutos Weyes Blood que valeram ouro. Chapeau!
4. a noite de aquecimento no feminino do Hard Club. Despretensiosa mas eficaz numa fórmula a repetir;
5. em relação a edições anteriores, melhor o som da maioria dos concertos e, finalmente, em todos os palcos;
6. Shongoy Blues, sinónimo de festa e harmonia sem truques;
7. Arab Strap, uma "substituição" de luxo que muitos ignoraram, inclusive a imprensa presente que se diz atenta;
8. atendendo aos tempos de hoje, nada de incidentes, segurança discreta, polícia presente e visível;
9. a eficácia dos Metronomy e a grandeza de Justin Vernon/Bon Iver;
10. o parque, a praia, o rio, a cidade... o Porto, sempre imbatível!
10 dislikes:
1. "a que horas é?" foi a pergunta que mais se ouviu já que este ano não houve horários distribuídos para pôr ao pescoço mas sim sim uma "app" para descarregar e é para quem quer. Ou seja, quem não tiver smartphone que se amanhe e leve os horários impressos de casa, mas gastou-se o dinheiro distribuindo um cartão para colocar ao pescoço com sei lá bem o quê, ah, era tal "app". Podiam ter lá posto os horários na mesma já que não os vimos afixados em nenhum lado como é (era?) obrigatório;
2. a dimensão do palco para Angel Olsen talvez fosse exagerado mas a tagaralice e indiferença de muitos prejudicou as canções que se queriam ouvidas a sério. Insultuoso;
3. apesar do respeito que temos por Rodrigo Leão e do projecto com Scott Matthew, a presença em final de tarde num dos palcos principais foi confrangedora. Tudo saiu ao lado, então a voz do tal Matthew... xii;
4. já não é primeira vez que acontece - primeiro dia já em pleno (19h00) mas não há pulseiras nem identificação no parque das bikes, casas de banho sem água, bares sem cerveja, etc. Inexplicável;
5. gostamos de coleccionar o programa/livro do festival onde são apresentadas as bandas/artistas, estamos até na disposição em adquiri-lo, mas aonde? Disseram-nos que vinham no interior da famosa mochila distribuída aleatoriamente mas na que "arrebanhamos"... nada. Há por aí alguém que lhe tenha posto a vista em cima?
6. com todo o carinho por Elza Soares mas faltou "um peso-pesado" à altura da tradição (Patti Smith, Brian Wilson, Caetano, etc.). Pensar que já tivemos, por exemplo, Blur e Daniel Johnston no mesmo dia (2013)!
7. sem bairrismos bacocos mas "o gosto mais de Lisboa que do Porto" de Julien Ehrlich/Whitney em pleno concerto já não foi feliz mas as tentativas seguintes em tentar disfarçar o deslize ainda soaram piores;
8. o petisco portuense estava na ementa gourmet do festival? Francesinha, uma raridade e, já agora, cerveja preta;
9. com tanto WC disponível ainda há muitos e muitas que "descarregam" nos arbustos, árvores e afins. Enfim...;
10. o que é feito do Miguel Ângelo/Delfins um habitué que teve falta a vermelho. Sinal da fraqueza do cartaz?
sexta-feira, 16 de junho de 2017
THE CLIENTELE, CHEGOU A IDADE DOS MILAGRES!
No primeiro dia de Outono, 22 de Setembro próximo, estará disponível um novo álbum dos The Clientele através da Merge Records, o primeiro de originais em sete anos. Com uma capa lindíssima da autoria da artista britânica Carel Weight (1908-1997), o disco foi baptizado de "Music for The Age of Miracles" o que é, obviamente, uma dádiva nos tempos que correm e onde, para além das indispensáveis guitarras, a banda se envolveu ao longo de doze canções com uma orquestra de sopros e cordas e a utilização pela primeira vez de um saz turco e um santoor iraniano. Aqui fica "Lunar Days", uma primeira e facilmente reconhecível maravilha.
quinta-feira, 15 de junho de 2017
segunda-feira, 12 de junho de 2017
SONGHOY BLUES+ELZA SOARES+WAND+THE GROWLERS+SHELLAC+MITSKI+METRONOMY+WEYES BLOOD+JAPANDROIDS+APHEX TWIN+TYCHO, Primavera Sound Porto, 10 de Junho 2017
E ao terceiro dia, o festival já merecia um começo assim, animado, diferente, relaxante, isso mesmo, um tonificante para a última maratona que se adivinhava dura. A loção vigorosa veio do deserto do Mali, chama-se Songhoy Blues e foi distribuída a uma moldura apreciável de pessoas que responderam ao chamamento ritmado que, num ápice, se espalhou pelo relvado já menos frondoso do palco arboral. Um momento de partilha assinalável e inesquecível e, por isso mesmo, obrigatório em qualquer top de concertos da edição deste ano!
Quanto a Elza Soares, sentada no seu trono cimeiro, embora encoberta muitas vezes pela intensidade do sol, foi igual a si mesma - animada, desafiadora e até imperial nos apelos fortes contra a descriminação e violência sobre as mulheres ("mulher tem que gritar") ou na homenagem vincada à transsexual Gisberta assassinada brutalmente no Porto em 2005. Para todas as reivindicações serviu-se de uma mão cheia de canções enormes onde o samba, a bossa nova e a MPB se reinventam através de um notável conjunto de músicos e que teve resposta à altura entre a plateia acolhedora. Apesar de arriscada, a aposta estava ganha e a todos os pedidos da rainha de "quero gritos" vamos continuar a responder de bom grado "ahhhhhhhhhhhhhhhhh"!
Chegava a hora de uma primeira ronda por outros palcos mas logo na primeira paragem demos conta que em frente aos californianos Wand estava uma verdadeira multidão interessada e nitidamente satisfeita com o que ouvia. E o que soava não era de fácil descrição, uma jam psicadélica de camadas consistentes em que a guitarrada se afirma e eterniza em ondulações estranhas e que talvez explique, ou não, porque é que parte dos membros fazem parte dos The Muggers, a rectaguarda instrumental com que Ty Segall tem feito a festa desde o ano passado. Valeu!
Na descida para o palco principal batido pelo sol, a toada dos The Growlers servia de embalo a uma maioria espraiada na relva entre copos de vinho e cerveja, mas havia alguns, parecerem-nos muitos, que se ocupavam em desfrutar do momento de uma forma mais eficaz. Brooks Nielson continua imparável naquela atitude desmazelada de quem está ali só a passar um bom bocado não deixando o groove ir abaixo e a que lhe junta a sua voz nasalada a que ninguém fica indiferente. Um bom momento, na altura certa, mas a ronda tinha que continuar...
Torna-se quase obrigatório "marcar o ponto" num concerto dos Shellac, os totalistas do festival mas que nunca tocaram em nenhum dos principais cenários, cabendo-lhes desta vez em sorte e em pleno dia, fazer explodir o noise rock no parque mais retirado. Percebe-se a variação, mas o que é certo é que a adesão continua em alta e a banda, não se fazendo esquisita, repete a façanha como se fosse uma estreia. Concluímos, afinal, que tirando uma noite em Serralves, nunca chegamos a ver uma sessão do trio comandado por Steve Albini de princípio ao fim. Ainda foi não desta.
A questão das cotas artísticas para um evento com esta dimensão surgiu este ano em alguma imprensa. A primazia dada ao feminino no aquecimento do Hard Club indicia, aparentemente, que a organização concluiu que as mulheres tinham uma presença deficitária no alinhamento principal mas parece-nos que o assunto é supérfluo e sem sentido. Se foram poucas as eleitas para o Parque da Cidade, elas foram todas brilhantes sendo a japonesa Mitski mais uma prova que a quantidade nem sempre é sinónimo de qualidade - excelente concerto de canções rudes e adultas de forte inspiração pessoal e de uma subtileza desafiadora. Ouçam bem "Jerusalem" no video abaixo!
Já lá vão oito anos desde que os Metronomy passaram pela Casa da Música em formato trio, nos bons tempos em que o espaço portuense se dedicava ao pop-rock. Haveriam de voltar a Coura em 2011 já em começo de consagração e para o que associaram um baixista e um baterista a sério. Canções orelhudas como "The Bay", "Everything Goes My Way" e sobretudo "The Look" são, desde essa altura, verdadeiros clássicos dançantes e era deles de que todos estávamos à espera sem muitas demoras. Num alinhamento nada inocente, a colina rapidamente virou pista de dança e em pouco menos de uma hora os Metronomy alcançaram o pleno particularmente arrebatador quando se iniciaram os mais que conhecidos acordes do irresistível "The Look". Um concerto certeiro, sem rodeios e com a baterista mais sexy do mundo ou, quiçá, do festival!
Sem tempo a perder, na esperança que a menina Natlie Mering ainda estivesse à nossa espera, torneamos a multidão, aceleramos o passo e só paramos nas grades do palco Pitchfork onde Weyes Blood regressava ao norte do país. Seria um sacrilégio não tentar a sorte de ouvir ainda a sua voz e o esforço valeu-nos a felicidade de presenciar um pouco mais de dez minutos de excelência - uma versão inebriante de "Vitamin C" dos Can (em Guimarães tinha sido "A Certain Kind" de Robert Wyatt) e esse monumento chamado "Bad Magic", sozinha com a guitarra e que por si só se tornou num dos momentos mais arrepiantes do festival. Memorável!
Depois de um reabastecimento rápido e a precisar de um abanão, nada melhor que os trinta minutos finais dos Japandrois. Rock clássico de bateria e guitarra em versão mais grosseira e descarnada que o punk tão bem soube usar, a dupla canadiana esteve em permanente curto circuito sonoro e sem nada a esconder, uma perfomance energética e irrequieta que marcava o final de tournée e que servia de descompressor para ambas as partes, público e banda. O power só foi desligado quando terminou a carga desse estimulante chamado "The House That Heaven Built" e Brian King deixou literalmente cair a guitarra...
A dúvida, atendendo ao programa, estava em quanto tempo iríamos aguentar no concerto de Aphex Twin. Sem qualquer perspectiva sobre o que iria acontecer, o melhor seria procurar um local bem no meio do espectáculo para sentirmos efectivamente a validade do trabalho que o misterioso Richard James tinha preparado. Ficamos até ao fim, ou seja, duas horas! Não perguntem o porquê mas o conjunto de todas aquelas batidas abrasivas e experimentos sonoros aliados a uma espectacular sobreposição de luzes e imagens (se procuram as sátiras aos nossos socialites, políticos, artistas da bola ou do pimba, etc. elas estão no video abaixo ali a partir do minuto quinze) tornou-se de tal modo aditivo e alienador que, apesar de alguns momentos em que nos deu vontade de desistir, acabamos sempre a olhar para o palco e a simplesmente abanar o corpo. Um acto de resistência mas, ainda assim, recompensador.
E pronto, o festival caminhava para o fim mas o fim-de-festa tinha ainda uma agradável surpresa. Tycho, assim se chama o colectivo comandado pelo americano Scott Hansen, conseguiu encher a tenda com os seus instrumentais chillwave e um conjunto de imagens relaxantes que nos ajudou e de que maneira a "regressar à terra" e a mais uma vez sair do parque com um grande sorriso nos lábios. Até para o ano (7, 8 e 9 de Junho de 2018)!
JEREMY JAY+POND+WHITNEY+ANGEL OLSEN+NIKKI LANE+TEENAGE FANCLUB+BON IVER+HAMILTON LEITHAUSER+KING GIZZARD & THE LIZARD WIZARD, CYMBALS EAT GUITARS, Primavera Sound Porto, 9 de Junho de 2017
A aclamada pop alternativa do norte-americano Jeremy Jay levou-nos ao palco arborizado do festival na esperança de ser surpreendidos mas o pouco entusiasmo que o próprio musico manifestou e a fraca adesão do público cedo deixaram adivinhar que o melhor seria ponderar a desistência...
Com os Pond no palco principal não havia que enganar. Os australianos são hoje uma forte certeza do chamado rock psicadélico embora neste último disco a vertente mais pop tenha ganho mais e força e, consequentemente, mais audiência. Para o confirmar bastava ouvir uma já larga maioria a soletrar as letras o que foi principalmente notório em "Paint Me Silver", um hino de verão mesmo à espera de rebentar. Nick Allbrook continua imparável e os Tame Impala que se cuidem que os parceiros e amigos estão cada vez melhores e em fase acentuada de crescimento!
Tínhamos no concerto dos Whitney um dos momentos mais aguardados do festival. O disco de estreia é uma jóia percorrida de fio pavio nos últimos tempos e foi bom ouvir a quase totalidade das suas canções neste fim-de-tarde soalheiro. Mas, haverá sempre um mas que impede a perfeição, seja porque a banda estava de directa à custa de atrasos nos voos, seja porque o alinhamento foi algo desequilibrado, seja até pela arriscada confissão de Julien Ehrlich em preferir Lisboa ao Porto, uma tirada que tentou disfarçar entre sorrisos amarelos e desculpas. Podia ter sido melhor? Talvez, mas ficamos satisfeitos.
Já lá vão quase dois anos que vimos Angel Olsen em Guimarães e, olá, esta é a mesma menina? Alguma dieta houve de certeza, retoques de imagem e beleza também e até a respectiva e aumentada banda vestida a rigor eram tudo sinais que Olsen está preparada para novos e altos voos que o último disco permitiu merecidamente alcançar. A forma como entrou em palco, uns bons momentos depois da banda e a forma com o antecipou a saída, demonstram ainda um cuidado na gestão de uma nova imagem artística que foi maturada e preparada de forma a elevar o sentido das suas excelentes canções. Depois de um início mais irrequieto com, por exemplo, "Shut Up And Kiss Me" e "Not Gonna Kill You" que envolveu até uma estranha dança de sapatos e sapatilhas entre o público (!), a onda passou a ser mais planante e calma, uma opção arriscada mas que, no nosso caso e apesar da tagarelice de muitos, soube muito bem. Então quando soaram os acordes mágicos de "Those Were The Days" com o sol a esbater... ui!
Antes do muito esperado concerto da noite, entre filas nunca vistas para matar a fome e a sede, da deambulação pelos palcos escolhemos uma espreitadela aos míticos Teenage Fanclub, opção agradável mas com uma adesão morna e onde o mais notado era satisfação de uma banda com quase trinta anos em estar ali naquele momento a tocar para tanta gente. Respeito!
A irrequieta Nikki Lane e a sua banda vieram de Nashville, trouxeram os chapéus típicos na cabeça e espalharam boa disposição à custa de uma categoria musical em desuso mas, talvez por isso, surpreendente - a country music! Grande voz, temas mais que oleados e energéticos, puseram a tenda a abanar e a festarola envolveu até um boneco insuflável que foi parar acima do palco por onde ficou a "descansar" até ao final, num dos momentos mais pândegos do festival. A prova que não há limites de géneros sonoros e que, se bem alinhados e escolhidos, resultam, como neste caso, na perfeição.
E pronto, chegamos ao muito aguardado regresso de Bon Iver à Invicta. Desta vez tinha à sua espera uma plateia imensa e em pulgas para poder cantar as suas canções e mostrar-lhe todo o afecto e devoção. Justin Vernon cedo percebeu essa pressa, agradecendo de forma recíproca a dedicação e as boas vibrações da cidade num concerto sempre em alto nível, com excelentes músicos e onde a primazia foi para o último disco que parece ser já um velho conhecido. Quando regressou para o encore, uma raridade por estes dias, e pegou na guitarra ainda suspiramos pelo "re-Stacks" mas saiu-nos o "Skinny Love" cantado em coro como se fosse a última vez. Às tantas foi mesmo!
Os extintos Walkmen, que já andaram por estas paragens, deixaram sementes frutíferas um pouco por todo o lado mas o jardim português parece, desde sempre, o mais acolhedor e, já agora, primaveril. Hamilton Leithauser, o seu saudoso vocalista, tem nos últimos anos apostado numa reinvenção artística que implicou o ano passado a colaboração com Rostam Batmanglij, teclista dos Vampire Weekend e cujo resultado foi um álbum inteiro de canções que serviram de principal ementa (exclusiva, quase, com excepção de "Alexandra") para o serão portuense. Bom gosto em doses recheadas quer nos temas quer nas imagens de fundo de palco, apesar de em Leithauser ter transparecido alguma má disposição e desconforto que se foram dissipando aos poucos mas para os quais, aparentemente, não haveria razões visíveis: tenda cheia, canções decoradas e cantadas por muitos e som sem reparos. Como última noite da tournée talvez se esperasse maior intensidade, mas, seja como for, gostamos muito.
Demorou algum tempo para que o PA desse de si com a totalidade dos King Gizzard & The Lizard Wizard em cima do palco à espera do tiro de partida. Resolvido o contratempo e baixada a bandeira, a corrida começou frenética com "Rattlesankes" naquilo que se tornaria numa imparável jornada sónica que muitos não vão esquecer. É quase insano perceber como é que duas baterias em simultâneo e sem falhas jogam e se aparelham com três guitarras desenfreadamente ao desafio e sem pausas, que por aqui não há faltas de gasolina, numa agitação que provocou caos controlado e um verdadeiro motim poeirento. A correria só haveria de parar com o magnífico "The River" lá para o fim, uma pérola raçada de bossa-nova e novo jazz que serviu para limpar o suor e à primeira oportunidade ir buscar uma cerveja já de luzes apagadas. Ufa, impressionante!
No caminho de volta e ainda atordoados encostamos às boxes/grades do palco Pitchfork para a despedida dos Cymbal Eat Guitars, local onde poucos se tinham refugiado. Para memória futura, aqui ficam um pouco mais dez minutos dessa presença... até amanhã!
sexta-feira, 9 de junho de 2017
SAMUEL ÚRIA+CIGARETTES AFTER SEX+MIGUEL+ARAB STRAP+RUN THE JEWELS+FLYING LOTUS+JUSTICE, Primavera Sound Porto, 8 de Junho de 2017
O melhor festival do país, mesmo com um cartaz arriscado e desequilibrado, é sempre um must e um desafio. O primeiro dia, contrariando o habitual, teve enchente notada logo ao descer pela primeira vez a colina de um dos principais palcos. Samuel Úria, bem disposto, ia desfilando algumas das suas boas canções como "Carga de Ombro"ou "É Preciso Que Eu Diminua", hinos a merecer coro colectivo nacional para admiração de uma massa estrangeira sorridente e já de copo na mão. Tudo acabou como deve ser com o indispensável "Teimoso" cujas palavras mereciam uma tradução simultânea para provar a todos como se deve escrever uma lírica e uma melodia de uma grande canção pop... eu nunca fui do prog-rock, amen!
A prestação dos Cigarettes After Sex num fim de tarde ao ar livre teve clima a condizer. Nada de sol que demasiada luz pode incomodar a onda levemente negra com que repetem uma receita que primeiro se entranha mas que rapidamente se esvaiu entre a neblina. Mesmo que um novo álbum esteja aí à porta, aguentamos vinte cinco minutos, o tempo certo para que o efeito fosse ainda proveitoso e de alguma utilidade retemperadora... a primeira cerveja!
O esticar do festival a novas gerações e públicos talvez tenha no nome de Miguel o exemplo perfeito. O nosso homónimo apesar de jovem tem já muito tarimba e manha para que a plateia se distraia entre danças em grupo, bracinhos no ar e muitos yeahs que, isto sim, é cool! Quanto à musica, entretida talvez seja o melhor adjectivo que encontramos para a descrever enquanto, já longe do palco, vamos petiscando a primeira dose sortida de especialidades da Padaria Ribeiro. Bem mais saboroso!
Os Grandaddy não comparecem, obviamente, mas vieram em boa hora os escoceses Arab Strap e a oportunidade não devia ser desperdiçada, um sacrilégio que uma geração como a nossa não devia cometer. Pelos vistos, muitos pecaram. Grande concerto, grande banda mesmo que reformada o ano passado, mas ainda e sempre notável na atitude e na entrega e onde Aidan Moffat em plena carburação - contamos pelo menos cinco latas de lúpulo num esfregar de olhos - foi rei e senhor entre os muitos britânicos presentes, mesmo sendo dia de eleições. A nós resta-nos fazer uma simples vénia, a noite estava ganha.
O fenómeno Run The Jewels começou a fermentar já lá vão dois anos no palco mais pequeno do festival. Na altura reclamou-se um cenário maior. Pois bem, melhor não podia haver e a expectativa entre as primeiras filas por onde nos quedamos algum tempo era, como dizer, nervosa. Vimos muitos a soletrar as respostas hip-hop e restantes trejeitos de fio a pavio ao mesmo tempo que saltar se tornava obrigatório. O duo prometeu uma blockbuster night e a recepção foi barulhenta e certamente intensa mas estava na hora de um spot mais calmo e panorâmico do parque da invicta, a melhor cidade do mundo segundo eles, segundo nós e segundo todos os outros.
Aparentemente, deveria haver uns óculos 3D distribuídos a preceito para a sessão de Flying Lotus. A santinha da casa que patrocina o evento bem nos ofereceu um género de binóculos descartáveis ao final da tarde que mandamos para o fundo da mochila e de que ainda tentamos o efeito! Agora a sério, grandes beats e samples, enormes os efeitos e desenhos especiais e bestiais mas os álbuns do génio californiano Steve Ellison para nós bastam como prova sonora. Uma boa experiência, já não foi mau.
Os Justice sempre dividiram opiniões mesmo para os não que viram pelo menos uma vez o documentário "A Cross The Universe". Estão sempre a tempo de o fazer. Talvez a maioria dos que aguardavam ansiosamente pela dupla francesa não queira saber de filmes ou argumentos já que a celebração aqui é outra e remete para o refrão de um dos principais hits da banda - "do the dance", simplesmente. O baile começou light e disco com "Safe and Sound" em versão longa misturada a preceito com o tal "D.A.N.C.E" para depois endurecer o electro aos limites enquanto o jogo de luzes, sem deslumbrar, se fazia notar. Chegados aqui, ou seja, ao muito aguardado "We Are Your Friends" a multidão agradeceu a dádiva mesmo sem saber que raios de instrumentos ou quejandos é que a dupla toca em cima do palco. Mas isso não interessa aqui e agora para nada...
IRON & WINE, NOVO ÁLBUM!
Não haverá melhor forma de começar o dia com o anúncio de um novo álbum de Iron & Wine lá para Agosto. Chama-se "Beast Epic", tem na capa uma fabulosa imagem de um Sam Beam de olhos vendados como não vendo o que se passa à sua volta, uma alegoria que transparece na composição dos onze novos temas inspirados, como confessado, numa "transição contínua" dos nosso dias. Haverá edição especial em vinil já em pré-encomenda, uma intensa digressão americana já a começar este mês e também um primeiro e excelente tema com direito a video oficial. Apetitoso!
quinta-feira, 8 de junho de 2017
LAS BISTECS+LINCE+JESSY LANZA+SHURA, Primavera Sound Porto (Warm Up), Hard Club, 7 de Junho 2017
Arriscando uma nova fórmula de antecipação, o festival Primavera Sound do Porto teve ontem uma noite de aquecimento bem animada. Para trás parece ter ficado a tradição de um evento ao ar livre que já passou pelas Virtudes e Fontaínhas, jogando-de no acesso privilegiado a salas seleccionadas da cidade por parte dos detentores de passes gerais, com todas as desvantagens e vantagens inerentes... No Hard Club não houve enchente e a circulação entre as duas salas fez-se sem qualquer sobressalto o que ajudou a uma fruição descongestionada de um serão exclusivamente no feminino.
A partida coube às Las Bistecs, uma dupla endiabrada interessada em agitar as hostes sem contemplações à base de uma receita de electro-choque provocadora e despretensiosa e uma assumida incapacidade para cantar ou tocar qualquer instrumento... muito "século XXI", como foi sarcasticamente justificado. A resposta dos muitos espanhóis presentes foi imediata, contagiando a dança pela sala já bem composta o que fez "soltar a franga" e começar, como convêm, a esvaziar os barris de cerveja nas doses certas!
O nome de Sofia Ribeiro, lindíssima figura que já vimos, entre outros, nos We Trust, teve ontem uma verdadeira prova de fogo. A carreira a solo tem como Lince uma aventura arriscada mas atendendo à qualidade da voz e da composição, as palmas recebidas confirmam uma boa aprovação e recepção mesmo que algum do nervosismo aparente tenha, nalguns casos, comprometido a prestação. Um amadurecimento natural vai acabar, de certeza, por fortalecer da melhor forma um projecto com muitas pernas para andar e agradar.
O curriculum de Jessy Lanza não engana - do clássico piano ao jazz passando pelo ensino, a menina canadiana criou um refugio assimilador numa electrónica encorpada a que é impossível resistir e cuja onda rapidamente tomou conta da sala maior do clube portuense. Atendendo a que o aquecimento estava já terminado, o muito balanço do público confirmava que a maioria está já pronta para o "jogo" de três dias que se adivinha de festa. Sem dúvida, o melhor concerto da "Ladies Night". A propósito, aquele era mesmo o Giorgio Moroder de copo na mão numa das projecções na tela?
O disco de estreia de Shura é um espelho da pop mais mainstream vinda do Reino Unido onde, sem pudor, se reflectem quase em simultâneo uma série de outras artistas como Madonna, Janet Jackson, Minogue ou até a excelente Jessie Ware. De volta ao norte do país depois da presença em Coura o ano passado, notou-se já algum público fiel com as letras na ponta da língua e de braços abertos para o concerto mas sentimos que a maioria dos presentes estava a ouvir as canções pela primeira vez. Com alguns altos e baixos, destacamos a por nós muito aguardada "What Happen To Us?" mas que ao vivo perdeu muita da aura 80's que lhe reconhecemos e adoramos e que a algazarra de muitos britânicos na frente do palco já em fase adiantada de estágio etílico acabou por deitar por terra - como referia um amigo "Porque é que estes gajos não vão para Albufeira?"... to be continued!
quarta-feira, 7 de junho de 2017
DUETOS IMPROVÁVEIS #200
ALDOUS HARDING & MARLON WILLIAMS
The Threes They Do Grow (Joan Baez)
Ao vivo no Kultur Parterre, Basileia, Suiça
4 de Junho de 2015
The Threes They Do Grow (Joan Baez)
Ao vivo no Kultur Parterre, Basileia, Suiça
4 de Junho de 2015
RYUCHI SAKAMOTO, PEDACINHOS DE CÉU!
O mestre Ryuchi Sakamoto gravou um novo álbum de estúdio, um milagre que já não acontecia há oito anos. A longa espera foi marcada pela luta contra uma doença maligna entretanto superada e que motivou uma inspiração profundamente íntima que pretendia responder à simples pergunta "que música é que eu quero ouvir?". O resultado chama-se "async", saiu na Milan Records em Abril e entre os treze pedacinhos de céu, ora tormentosos ora límpidos, para subirmos às nuvens está esta obra prima de quatro minutos baptizada de "ubi"...
sábado, 3 de junho de 2017
LULA PENA+VAIAPRAIA E AS RAINHAS DO BAILE+BEZBOG/VASCO DA GANZA/WELL+NIÑO DE ELCHE, Serralves em Festa, Porto, 2 de Junho de 2017
A edição deste ano do Serralves em Festa, em versão aumentada, teve ontem um início calmo e sem enchentes o que permitiu uma rápida mas desanimadora visita livre aos célebres Mirós antes da descida ao prado. Aí, já o concerto de Lula Pena ia em fase de cruzeiro, entretendo uma plateia sentada, reduzida e friorenta, mas incapaz de resistir a uma música que tem no fado, nas mornas e na bossa nova uma portugalidade intercontinental. Voz grave e quente que um saxofone e uma harpa adornam ainda mais numa aparente simplicidade só ao alcance de uma artista que interessa continuar a descobrir.
Subindo ao ténis, onde se o pó tinha já levantada à conta da correria que os Vaiapraia e as Rainhas do Baile incitaram, ora aqui está um caso de frontalidade sonora sem freio a que se vira costas imediatamente, como notamos, ou se assenta arraiais na festa. Intensidade apunkalhada incomum e que merecia outro horário, outro recinto e uma maior adesão espontânea e que talvez, num futuro próximo, acabe a desaguar numa madrugada do prado...
De visita ao Museu de Serralves, onde a biblioteca virou laboratório, um conjunto de cientistas sonoros foi, à vez e frente-a frente, fazendo a sua preparação que haveria de se tornar, ao fim de uma hora, numa emulsão experimental notável e sem dúvida surpreendente a que festa já nos habituou. Um alongamento de sensações que é merecedora de aplauso.
O flamenco já não é o que era e ainda bem! Nino de Elche aproveita a língua castelhana, a cultura e alguns dos ritmos e dá-lhe uma volta que só não é de 180º porque corre por ali uma pureza gitana. Serve-se da poesia, da repetição, dos samples e de uma guitarra gingona para fazer colidir o tal flamenco com uma série de géneros modernos como a electrónica e até alguma pureza rock numa receita quase inclassificável mas, sem dúvida, inovadora.
Subindo ao ténis, onde se o pó tinha já levantada à conta da correria que os Vaiapraia e as Rainhas do Baile incitaram, ora aqui está um caso de frontalidade sonora sem freio a que se vira costas imediatamente, como notamos, ou se assenta arraiais na festa. Intensidade apunkalhada incomum e que merecia outro horário, outro recinto e uma maior adesão espontânea e que talvez, num futuro próximo, acabe a desaguar numa madrugada do prado...
De visita ao Museu de Serralves, onde a biblioteca virou laboratório, um conjunto de cientistas sonoros foi, à vez e frente-a frente, fazendo a sua preparação que haveria de se tornar, ao fim de uma hora, numa emulsão experimental notável e sem dúvida surpreendente a que festa já nos habituou. Um alongamento de sensações que é merecedora de aplauso.
O flamenco já não é o que era e ainda bem! Nino de Elche aproveita a língua castelhana, a cultura e alguns dos ritmos e dá-lhe uma volta que só não é de 180º porque corre por ali uma pureza gitana. Serve-se da poesia, da repetição, dos samples e de uma guitarra gingona para fazer colidir o tal flamenco com uma série de géneros modernos como a electrónica e até alguma pureza rock numa receita quase inclassificável mas, sem dúvida, inovadora.
quinta-feira, 1 de junho de 2017
RUFUS WAINWRIGHT, Theatro Circo, Braga, 31 de Maio de 2017
A única e milagrosa data ao vivo de Rufus Wainwright pelas redondezas tinha no Theatro Circo um cenário ideal para um regresso triunfante, mas desde o início se sentiu que o artista estava como de passagem... Nada, no entanto, que tenha diminuído a nossa contínua atenção no palco e nas canções escolhidas um pouco por todo um imenso e invejável repertório artístico mas que particularmente na versão à guitarra, instrumento em nítido deficit de prática, atingiu alguns momentos confrangedores. Mesmo bom foi a estreia e a história inspiradora para uma nova canção chamada, sem certezas, "Sword Of Damocles" e uma maravilhosa e inesperada versão de "I'm Going In" de Lhasa de Sela, talvez o grande destaque da noite. É e será sempre ao piano que Rufus continuará a arrebatar-nos de tensão e, sendo assim, o encore com "Going To a Town", "Hallelujah" e "Poses" tinha tudo para se tornar memorável mas, lá está, mais uma desconcentração na tonalidade e na lírica desta última canção acabou, por culpa própria, por retirar à sequência aquele mais que esperado instante apoteótico. Seja como for e mesmo ao fim de quase uma dúzia de recitais do canadiano onde já estivemos presentes, acabaremos sempre por voltar... e perdoar!
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