A primeira investida nestas andanças das lojas de vinil recaiu precisamente na Melodia. Nessa abordagem com quase cinco anos fizemos notar que a casa original seria sem dúvida mais antiga, o que se confirma com o retomar do fio através deste envelope e que se relaciona directamente com a fundação da empresa Rádio Triunfo no Porto. A história está, em boa hora, contada e documentada e a abertura de um espaço comercial em 1955 na Rua Santa Catarina, nº 360, seria a primeira lança de um negócio que a partir de 1957 daria sobretudo primazia a discos de 45rpm através de etiquetas próprias como a "Alvorada", a "Carioca" ou a própria "Melodia" e de que podem ler mais pormenores neste link. No interior do envelope que recolhemos, onde se faz notar um harpa estilizada e um apelativo "Sempre Novidades Em Discos", encontramos meia dúzia de folhetos promocionais de Julho de 1959 de discos de João Villaret ou Simone de Oliveira (neste caso, trata-se do seu primeiro Ep datado de 1958) a que se acrescentam outros de Virginie Morgan, Irene Macedo, Roberto Valentino ou Manuel Fernandes. A empresa teria a partir de 1956 forte concorrência com a chegada da Arnaldo Trindade à mesma rua e a sede ou o escritório, como se comprova num dos lados do envelope, estava situada em plena Praça do Município, na última porta - a nº 309 - do majestoso edifício Capitólio atribuído aos arquitectos Eduardo Martins e Manuel Passos Júnior, seguidores do mestre Marques da Silva, e cuja construção deverá ter terminado pouco tempo antes do início da actividade da empresa em plena baixa. Em 1961 a Melodia abriria uma segunda loja na Rua de Santo António / Rua 31 de Janeiro que herdou, curiosamente, o mesmo número de telefone da loja original e, logo em 1962, a empresa chegaria a Lisboa e à Rua do Carmo para se tornar em definitivo uma das maiores e mais importantes fábricas portuguesas de discos e, já agora, de artistas!
Nota: comparando com a mesma perspectiva de há quase cinco anos atrás, esta primeira fotografia abaixo comprova que há negócios à moda antiga que ainda resistem milagrosamente à voracidade comercial e imobiliária da baixa!
Melodia, Rua Santa Catarina, 360, Porto
folhetos da Melodia, Rua de Santa Catarina, 360, Porto
Melodia, Rádio Triunfo Lda., Praça do Município, 309, Porto
Melodia, Radio Triunfo Lda., Praça do Município, 309, Porto
Foi com particular surpresa mas também muito orgulho que deparamos com o concerto de Cristina Branco do passado sábado em Nuremberga disponível no magistral canalArte! Cenário excelente e som irrepreensível durante a passagem pelo festival Bardentreffen, uma espécie de mestiçagem sonora com pendor na chamada world music e de que a música de Branco é um exemplo cimeiro. Fado profético!
Tal como os seus soulmates Charles Bradley ("Soul of America", 2012) ou Sharon Jones ("Miss Sharon Jones", 2015) também o fantástico Lee Fields terá em breve um filme sobre os seus cinquenta anos de carreira artística dedicada à música soul e ao funk que lhe valeram a alcunha de Little JB devido às parecenças de voz com o lendário James Brown. Mesmo passados quatro anos desde o pontapé de saída, o documentário está ainda em fase final de financiamento e prevê-se que durante o próximo ano seja já possível a sua estreia ou visualização exclusiva para todos os que contribuíram para o projecto. A realização pertence Jessamyn Ansary e Joyce Mishaan, uma dupla com larga traquejo na produção de séries e programas de televisão e o filme, mesmo sem título definitivo, promete uma intensa abordagem à carreira de uma das últimas lendas vivas da soul para o que conta com a contribuição do próprio e de todos aqueles que acompanham em estúdio ou em concertos ao vivo. Relembra-se que Fields esteve em Portugal pela segunda vez (Cascais, 2013) a semana passada com os seus The Impressions para uma apresentação no SBSRlisboeta e fazemos fortes figas para que o consigamos ver num palco chegado como merece antes de pôr os olhos na inédita película...
O clássico festival Manta no relvado do Centro Cultural de Vila Flor em Guimarães decorre a 7 e 8 de Setembro e apresenta, na noite de sexta-feira, os Mão Morta e Joana Gama e, na de sábado, Labaq e Scout Niblett. É o regresso da norte-americana a Portugal depois de várias passagens por perto, presenças com altos e baixos testemunhados in loco e que são, por isso, de imprevisível efeito. Entre a Feist e a Niblett a tocarem na mesma noite separadas por vinte e cinco quilómetros, a opção está há muito tempo tomada...
As últimas notícias sobre Elvis Costello assustaram-nos um pouco. O cancelamento de algumas datas da digressão europeia devido a um alerta médico e consequente necessidade de repouso e tratamento podiam sugerir graves consequências mas a manutenção dos restantes concertos previstos para Novembro pelo Estados Unidos e Canadá suavizou o receio a que se acrescentou o anúncio para breve de um novo disco com os The Imposters do amigo Steve Nieve. Pois bem, o trabalho terá edição a 12 de Outubro na casa Concord Records com o nome de "Look Now" e incluirá uma colaboração, oh inclemência, com Burt Bacharach com que escreveu e gravou "Painted From Memory", um dos discos da nossa vida. Perfilam-se duas canções onde o mestre Bacharach certamente toca piano e ajuda na composição ("Don't Look Now" e "Photographs Can Lie") mas há a certeza que, dos dezasseis novos temas, muitos são antigos inéditos que foram já tocados ao vivo nos últimos anos incluindo "Burnt Sugar is So Bitter" ao lado de Carol King. Outros, tiveram como destino algumas bandas sonoras como são o caso de "You Shouldn't Look at Me That Way" da película do ano passado "Film Stars Don't Die in Liverpool" ou de "Unwanted Number", tema escrito em 1996 para o filme "Grace of My Heart" já por aqui revisto mas até agora sem registo oficial!
Ao nosso confessado fascínio pela música de Kelley Stoltz parece não corresponder qualquer interesse visível ou audível. Stoltz nunca tocou em Portugal e nunca vimos ou lemos uma crítica impressa a qualquer um dos seus discos, um desprezo incompreensível que tem na vizinha Espanha uma situação completamente inversa. Em Março passado, só a última digressão teve cinco concertos pelas principais cidades castelhanas e sabe-se agora que o último trabalho de originais chamado "Natural Causes" tem selo da Banana And Louie Records, uma etiqueta criada pela loja Radio City da Calle Conde Duque, ali bem perto da Gran Via madrilena e que não esconde o orgulho em ter esse álbum como o primeiro a ser lançado pela referida editora. Como sempre, a dose de psicadelismo e synthpop dos anos 80 faz furor para o que basta ouvir o primeiro avanço "Static Electricty" mas há espaço para verdadeiras peças de sedução como a refrescante "Where You Will". Para ouvir bem alto, naturalmente!
A veia compulsiva de compositor de Sam Beam aka Iron & Wine dá nisto, ou seja, mais meia-dúzia de temas que não encaixaram no álbum "Beast Epic" de 2017 e que agora a Sup-Pop se prepara para editar sob a forma de um Ep já no dia 31 de Agosto com o nome de "Weed Garden". Os temas sobrantes foram aos poucos acertados em muitos dos concertos da digressão do ano passado e só em Janeiro de 2018 Beam teve tempo para se demorar no estúdio dos Wilco em Chicago, o The Loft", para finalmente concluir o processo e que incluiu o registo para a posteridade do tema "Waves of Galveston", canção antiga imensas vezes tocada ao vivo para agrado dos fãs mas que até agora não tinha qualquer edição oficial. Um luxo!
A mania que o relojoeiro suiço Raymond Weil tem em nos por o coração a acelerar vai ter que acabar! Desta vez escolheram a página sete do jornal "Público" de sábado passado para publicitar de alto abaixo o lindo relógio saído há já um ano numa edição limitada para marcar os setenta anos de David Bowie de forma elegante. Só que quando fomos espreitar os pormenores e tal como aconteceu aquando dos The Beatles - gostamos particularmente do fundo da peça que imita um disco de vinil - só implicamos com um raio de um número de quatro dígitos a rondar o 1750 mesmo no final do artigo. Está na hora de virar a página!
Quanto ao que interessa mesmo e para além da badalada história da descoberta da sua primeira gravação como cantor com direito a telejornal, aproxima-se a edição de mais uma caixa desta vez chamada "Loving The Alien (1983-1988)" e na qual consta uma inédita versão do tema "Zeroes" incluído originalmente no disco "Never let Me Down" de 1987. Aqui fica a nova roupagem a cargo do famoso produtor nova-iorquino Mario McNuly e a velhinha malha para servir de comparação.
O gospel salva? Para as The Como Mamas a crença é quase um forma de vida que pretendem continuamente cultivar como forte motivo religioso, o único, segundo elas, que alivia as dúvidas, as preocupações ou as agruras e que tem uma encarnação em Jesus, o filho de Deus. A subida exclusiva a um palco pelo norte do país de Angelia Taylor e das primas Della Daniels e Ester Mae Wilbourne, embora pudesse sugerir um simples ritual afigurava-se, obviamente, uma oportunidade de ouro para entender melhor as raízes da música negra de que tanto gostamos. Respondendo, então, a um "chamamento" de última hora, rumamos a Braga em modo apressado, pusemos o último álbum "Moving Upstairs" a rodar na viagem e quando nos sentamos na cadeira já o trio se perfilava para dar início à cerimónia, um conjunto de canções com o tal guião pré-definido e de que a Daptone Records de Nova Iorque cedo percebeu da urgência em registar devidamente. São já três esses discos e no mais recente, já referido, a editora arriscou juntar às vozes uma clássica base soul de guitarra e bateria que transformam os temas em poderosos hinos de resiliência e amor à família, à comunidade e à pequena cidade de Como no Mississippi americano e a que ali, ao vivo, é impossível ficar indiferente. Quando num desses momentos chegou a vez de Angelia Taylor cantar, sentada numa cadeira e depois na frente do palco, o blusiano "He's Mine" ("Something Like This" no video abaixo), percebemos em definitivo o poder e a força desta música em que a plateia em alvoroço e em aplausos em compasso prestava, sem saber, homenagem à própria Taylor, vítima recente de um tiro na própria casa em Como! Por todas as razões, tamanha vibração não tem preço e quando humildemente nos perguntaram quase no fim se já vimos o video de "Count Your Blessings", o único oficialmente lançado e que funciona como forma de contributo pelo número de visualizações para ajudar a pagar as contas, caramba, espalhem por favor a mensagem! O inevitável "Amazing Grace" no único encore ainda deve andar por estes dias a ecoar pelo teatro, oh lord...
A estreia em Portugal dos Naked Wolf levou-nos, ao fim de alguns anos de ausência, ao ténis de Serralves para um clássico fim de tarde de jazz. O impulso, acelerado pela descrição introdutória que a organização divulgou previamente, tinha na encruzilhada de sonoridades o motivo maior de curiosidade, o que se viria a confirmar em pleno. O colectivo com sede em Amesterdão tem no freejazz um filão criativo onde o rock e a pop são olhados como parceiros de inspiração o que resulta num infecciosa massa onde o improviso arrojado se presta a elevar os temas a verdadeiras canções futuristas. Como tal, não é fácil descrever o que se ouviu mas atendendo ao feeling daquele groove instrumental esticado de forma tão inusitada a que se juntou o habitual barulho da descida dos aviões, o tempero do sol e de uma ligeira brisa, só podemos classificar o momento como o de uma verdadeira celebração e onde nos quedamos efectivamente convertidos!
O sempre recheado programa do Curtas de Vila do Conde teve ontem um inédito momento de duplo desafio. Por um lado, rever o magnífico filme "The Cameraman" de Edward Sedgwick e Buster Keaton datado de 1928 e, por outro, manter a atenção na banda sonora que B Fachada desenvolveu em simultâneo com a projecção do filme mudo que na altura da estreia teve somente um acompanhamento ao piano. A secção STEREO do evento é, assim, uma experiência única e imprevisível e o serão de ontem foi mais um bom exemplo desse género de provocação artística em que o resultado confirmou as melhores expectativas, seja pelo prazer em admirar, mais uma vez, o sufocante enredo satírico e humorístico protagonizado pelo "Pamplinas" seja pelo cruzamento de sonoridades que B Fachada usou sem receios e a preceito. Aqui destacou-se uma mistura de canções suas como os originas "Dá Mais Música à Bófia" ou "Deus, Pátria e Família" a que se acrescentaram alguns samples e ruídos electrónicos em momentos de transição da película e até um "Menino de Oiro" de Zeca Afonso a funcionar em pleno aquando da sequência memorável no estádio de baseball. Como sempre e como se espera, uma forma muito própria de musicar imagens em movimento que são, neste caso, património imaterial da nossa civilização, um risco que alguns podem designar por sacrilégio mas a que nós chamamos simplesmente um privilégio... dos grandes!
São já muitos as histórias de Haruki Murakami que constam do nosso rol de livros lidos com paixão. Começamos, curiosamente, com a não ficção através das confissões sobre o seu amor pela corrida, um relato revelador de uma personalidade temperada pela firmeza e frieza que esconde uma sapiência genial e em que às emoções descritas correspondem muitas referências a trechos de música clássica, jazz ou pop. Esse entusiasmo que o japonês cedo assumiu na gestão de um clube de jazz ou numa incontrolável colecção de discos em vinil, um acumular que ultrapassa já dez milhares, teve até um êxito mundial com o romance "Norwegian Wood", nome de canção dos Beatles com direito a adaptação cinematográfica mas sem que possamos opinar se o filme é melhor que o livro porque ainda não vimos ou lemos qualquer uma das versões. Pois bem, chegou agora a hora de Murakami revelar pela rádio, ainda e sempre a mágica rádio, as suas escolhas retiradas de tal colecção através de um programa semanal numa estação de Tóquio com o seu nome a estrear no dia 5 de Agosto e onde promete falar da sua mania e apego à tal corrida, à música e, claro, à literatura sem esquecer o seu inseparável iPod como recurso complementar. Pena não lermos ou entendermos o japonês mas a música, essa, não tem felizmente nação ou pátria. Boa sorte Dj Haruki, isto é, fuku!
O regresso aos discos de Cat Power apesar de anunciado há um ano atrás só agora começa a emergir. Trata-se do décimo álbum de originais de Chan Marshall, tem produção da própria e pelo menos uma colaboração conhecida, a de Lana Del Rey no tema "Woman" (relembra-se que Marshall fez algumas primeiras partes da digressão de Rey em 2017), havendo já uma edição exclusiva em pré-encomenda onde mora um sete polegadas com essa parceria no lado b e a canção "What The World Needs Now" no lado principal, o que sugere uma versão do clássico de Bacharach eternizado por Dionne Warwick. O reaparecimento que se saúda tem o adequado título de "Wanderer" e chega a 5 de Outubro via Domino Records. Em jeito de introdução, aqui fica um pouco do tema título que abre o novo registo.
Temos por vezes barafustado sempre que algumas bandas acabam repetidas no alinhamento do Primavera Sound Porto. Não é o caso, certamente, dos Wild Nothing que já por lá passaram em 2013 e 2016 e que, pelas contas, acabarão às tantas por regressar em 2019 atendendo a que se aproxima a edição de um novo álbum. Este motivo maior tem o simples título de "Indigo" e é, pelas amostras abaixo, mais um exemplar sedoso imaginado por Jack Tatum, o jovem mentor que pega nos trejeitos dos anos oitenta e os transforma, como sempre, em luzentas canções modernas. Venham de lá essas férias...
São cada vez mais raros os bons programas de autor na rádio portuguesa. Um dos poucos exemplos a ocupar uma antena de norte a sul chamava-se "Zona de Conforto" e tinha em Pedro Adão e Silva um caso de amor muito próprio aos seus artistas, bandas ou cantautores e onde se combinavam excelentes novidades com clássicos de um bom gosto irrepreensível. Mas como em tudo na vida, o que é bom não dura para sempre e a última edição foi para o ar na passada sexta-feira, já sábado, sem muitas explicações, o que para um programa com seis anos de existência acaba por ser um pouco incompreensível senão desrespeitoso para ouvintes assíduos como nós. Paciência... mas desconfortável!
Começam a ser demasiadas as vezes que "perdemos" o rasto aos BadBadNoGood! Na estreia em Coura o ano transacto a "coisa" deu quase para flutuar e a repetição do feitiço prometida para hoje em Cascais deixa-nos desde logo um travo de inveja... Como ainda não há aplicações com tele-transporte, olha, há pelo menos este pedaço fresquinho do passado domingo por terras germânicas!
O convincente espectáculo de David Byrne ontem em Cascais parece ter assumido, como esperado, um forte carácter político e social num contínuo desafio aos presentes quanto à forma de pensar o nosso mundo e como ele vai definhando sem freio. A preocupação levou-o à fundação de um projecto alerta de nome "Reasons to Be Cheerful" onde se pretende destacar comunidades que lutam contra os problemas de inserção, desertificação ou abandono e, nesse âmbito, ganha agora destaque a cidade de Chaves onde a associação Indieror acabou reconhecida pelo seu trabalho na luta contra o esquecimento ou estagnação. A música tem assumido, neste particular, uma dimensão integradora com a presença regular de artistas nacionais e estrangeiros, uma forma positiva e informal de aproximar comunidades jovens e outras ao mundo das artes e que agora tem o seu percurso devidamente contado na primeira pessoa no site da própria organização. Só boas razões para continuar a acreditar que os sorrisos continuam a ser a melhor das recompensas.
Parabéns Indieror!
Sobre a qualidade e a polivalência de Chilly Gonzeles estamos há muito conversados, um conjunto de atributos e talentos que deram origem a filme estreado no corrente ano mas no qual ainda não pusemos a vista em cima. Seja como for, o piano continua a ser um epicentro artístico de contínua actividade e é sempre reconfortante quando Gonzales retorna à aparente simplicidade da composição, atitude que resultou em dois discos a solo (2004 e 2012) e que agora tem um termino com a edição de "Solo Piano III". Sem grandes pretensões vanguardistas, anuncia-se, contudo, uma maior presença da dissonância e da tensão em todos os instrumentais mas onde a clássica escala em Dó menor permite a emersão de uma delicada alegria. Pena que as futuras apresentações ao vivo continuem a passar ao largo. Até quando?
E pronto, adivinha-se um festival de gente sentada épico - sexta-feira, dia 16 de Novembro, chega-se à frente Marlon Williams para no dia seguinte, como anunciado, ser a vez de Nils Frahm! Sexta-feira 13, cruzes, já há bilhetes.
A cada audição de "The Lookout", o regresso aos discos de Laura Veirs já de Abril passado, percebemos a monumental injustiça de não lhe fazermos, mesmo que tardia, uma merecida vénia! Ao ténue destaque que por aqui passou nessa altura falta, seguramente, um alerta urgente quanto ao notável conjunto de canções que ele comporta, um registo como habitualmente partilhado com o marido e produtor Tucker Martine onde são notórios os lucros das mais recentes parcerias com k.d. Lang e Neko Case ou o contributo para esse monumento de nome "Carrie and Lowel" de Sufjan Stevens, um dos convidados especiais no novo tema "Watch Fire". O melhor será ouvir o álbum inteiro e, em alguns casos, andar para trás para testar mais uma vez como é caso da pérola "The Meadow", uma das canções do ano, de todos os anos. Já agora e porque passou já demasiado tempo, doze anos, sobre a vinda ao Porto para um concerto a solo, era de bom tom que, entre as várias investidas ao vivo Europa dentro dos próximos meses, Veirs acabasse bem vinda e saudada a uma das muitas salas das redondezas porque no Porto cidade o panorama continua cada vez mais cinzento... infelizmente!
Numa contínua demanda de irreverência, o canal Arte segue na emissão de pérolas modernas de alto calibre - chegou a vez de King Krule e sua passagem pela sétima edição do festival We Love Green, um evento de programação ecléctica e envolvente preocupação ecológica que decorreu no início do mês de Junho no bosque de Vincennes, um imenso parque natural histórico de Paris. Sessenta minutos intensos!
Temos assistido nos últimos dias a uma avalanche de inesperadas notícias que envolvem grutas e água, muita água, e que esperamos se resolva da melhor e única maneira com o resgate bem sucedido dos miúdos tailandeses. Por coincidência, existe um conjunto de grutas naturais atravessada por um rio no Derbyshire inglês conhecida por The Devil's Arse Cave devido ao barulho flatulento que emana da drenagem da água mas onde é possível, apesar do frio e da humidade, realizar concertos ou projecção de filmes e por lá já passaram o vivo os Vaccines, Jarvis Cocker e Richard Hawley. Nascido em Sheffield, cidade bem perto do local, o ex-Pulp vê agora duas das suas apresentações resultarem em dois discos separados que registam os momentos, um conjunto de canções já há algum tempo disponíveis no youtube - Dezembro de 2008 e Abril de 2017 - mas agora em edição oficial com direito a poster alusivo do icónico Pete McKee. É só esperar até 3 de Agosto.
Desde sempre, há em tudo em que o alemão Konstantin Gropper idealiza um elevado teor de segurança e qualidade verdadeiramente surpreendentes. O projecto Get Well Soon que assumiu como montra espelhada da sua música, tem vindo a sedimentar, ano após ano, uma pop luxuosa e clássica que aprendemos a degustar sem dificuldades e pressas, uma veneração antiga já por aqui várias vezes elogiada mas que, pelos nossas bandas e ao contrário de um reconhecimento mais alargado que o projecto apresenta pela Europa central, nos parece ainda ao gosto de muito poucos. Irrequieto, melhor, inquieto, Gropper não dá descanso ao seu talento em álbuns conceptuais ao lado de orquestras completas ou bandas alargadas a que se junta, obrigatoriamente, uma moderna imagética gráfica e videográfica de extremo bom gosto que "embrulha" temáticas como o apocalipse ("The Scarlet Beast O'Seven Heads", 2012) ou o amor ("Love", 2016) e que alternam com a composição de bandas sonoras televisivas ou cinematográficas. O mais recente plano, por contraste, aponta o medo como suporte central de um conjunto de ficções inspiradoras e que recebeu simplesmente o baptismo de "The Horror". Tudo começou, supostamente, há alguns meses com uma série de sessões de psicanálise transmitidas em jeito de episódios a que se seguiria um outro seriado em quatro tempos dirigido por Jan Bomn e produzido pelo jovem Philipp Kässboher onde um argumento lynchiano nos segura entre cenários deslumbrantes, personagens invulgares, reacções quase abstractas e uma banda-sonora a preceito. O resultado sonoro pode ser agora adquirido na totalidade numa admirável edição em vinil encaixada com outros luxos limitada a mil exemplares mas que ultrapassa os cinquenta euros. Que horror!
Atendendo a que o recital no Primavera Sound foi só um magnífico aperitivo, nada como um regresso à altura do majestoso Nils Frahm a uma cidade por onde já andou ao lado da amiga Heather Woods Brodrick em 2010. Apontem na agenda, 17 de Novembro, Theatro Circo!
Aquando do anúncio da digressão acústica comemorativa dos vinte anos do clássico disco "Deserter's Songs" dos Mercury Rev, à data de Lisboa (27 de Setembro) viria mais tarde a juntar-se uma série de outras por Espanha estando uma delas integrada no evento Ciclo Galicia Importa. O desejo era que essa noite fosse em Vigo, o que agora se confirma para dia 18 de Setembro próximo no Teatro Afundación Vigo, bem no centro da cidade e muito perto de umas belas tapas!
Já há bilhetes e a noite adivinha-se nesta onda...
Há três anos atrás, num daqueles imperdíveis fins de tarde soalheiros do Parque da Cidade entre árvores e goles na primeira cerveja, caiu-nos o queixo quando a libanesa Yasmine Hamdan se abeirou do palco para fazer a sua estreia em Portugal. Já com uma carreira afirmada e até uma ascensão mediática resultante da participação famosa num filme de Jim Jarmush, o concerto haveria de resultar num momento difícil de esquecer muito à custa da brisa saborosa e de tamanha e sedutora presença. Desde aí, mantivemos a atenção merecida na menina e na sua carreira que o ano passado ganhou nova robustez com o segundo álbum a solo de nome "Al Jamilat", mais um tratado de pop árabe à medida das novas tendências ocidentais e onde colaboraram uma diversidade de músicos e produtores com destaque na presença da bateria de Steve Shelley (Sonic Youth). Agora que o verão, apesar de adiado, deve estar por aí a rebentar, surge uma nova versão do referido disco, um género de álbum de remisturas electrónicas entre nações com contributos, entre muitos, do chileno Matias Aguayo, do francês Acid Arab, do mexicano Cubenx ou da grega Olga Kouklaki e onde a própria Yasmine se encarregou de tornear o tema "La Chay". Recorda-se que a artista estará ainda este mês no festival de Sines e em Agosto por Paredes de Coura para novas doses de encantamento. Aqui ficam, então, duas das novas "perspectivas"...
Podem não ser muitas as fotografias e destaques a Ricardo Camacho que encontramos na rede, tendo quase sempre preferido ficar lá trás para um registo de grupo ou uma pose. A sua faceta de médico e investigador na luta contra a SIDA levou-o algumas vezes à televisão para falar sobre o assunto ou para falar dos outros, principalmente do amigo António e Variações que, sofrendo da doença, teve em Camacho um apoio fundamental. Mas, na vertente artística, aquela donde o conhecemos melhor, o seu papel de teclista e mentor quase escondido dos Sétima Legião desde a primeira hora foi ainda mais valorizado com a produção e participação em discos de bandas e artistas como os GNR, Xutos & Pontapés, Ban, Pop Dell' Arte, Né Ladeiras ou Manuela Moura Guedes. Fundou com Miguel Esteves Cardoso e Pedro Ayres de Magalhães a editora Fundação Atlântica onde saiu o primeiro e míticosingle "Glória" dos Sétima Legião. Ricardo Camacho faleceu hoje na Bélgica. Paz!
Aprendemos a notar e a respeitar o nome de Richard Swift sempre que ele aparecia num dos muitos discos de Damien Jurado, dos Mynabirds, de Laetitia Sadier ou Sharon Van Etten. A esse sinal correspondia, de certeza, muito brilhantismo na produção, nos arranjos ou nos pormenores saídos do seu estúdio National Freedom no Oregon onde fez amizades, partilhas e muitas maravilhas. Nunca o vimos ao vivo, nem com The Shins, os Black Keys ou os Arcs, bandas que tiveram a sorte de o receber em palco para tocar baixo ou simplesmente apresentar os seus múltiplos talentos que os discos a solo foram, ao longo dos anos, confirmando sem rodeios. Admirado e honrado no meio musical, os Foxygen chegaram a prestar-lhe a devida homenagem em forma de canção com "Middle School Dance (Song For Richard Swift)". Swift faleceu hoje em Tacoma, Washington, aos 41 anos de idade. Peace!
Já por aqui nos curvamos perante o fascínio exercido pelo duo australiano Luluc, uma caixinha mágica de irresistível sedução mas que continua a guardar, ainda assim, a chave mestra para um conjunto de inéditas canções que a Sub-Pop edita a meio do mês sob o título de "Sculptor". Neste terceiro álbum há músicos amigos e admiradores que não se importam de continuar a contribuir para o feitiço onde se evidenciam, entre outros, os pozinhos de Aaron Dessner dos The National e Matt Eccles, habitual colaborador de Connan Mockasin e Weyes Blood. Aqui ficam dois dos novos sussurros...