terça-feira, 16 de julho de 2019

ELZA SOARES + FERRO GAITA, FESTA, Parque Urbano de Ovar, 13 de Julho de 2019

A insistência de Elza Soares nas temáticas sócio-políticas que envolvem o racismo, o preconceito de género e, principalmente, a condição da mulher, ganha nos dias de hoje uma urgência fulcral. A realidade brasileira obriga a uma contundência ainda mais efectiva que o disco do ano passado "Deus é Mulher" tem escancarado de forma corajosa e cuja partilha ao vivo é essencial para se estranhar.

Assim, a resposta da comunidade brasileira à sua presença em Ovar foi visivelmente sentida e notada, com coros colectivos e saudações estridentes principalmente em "Banho", primeiro single do referido álbum que começou e terminou o espectáculo de forma amotinada e a que a restante plateia se viu obrigada a acompanhar espontaneamente. Agora, a ousadia não se resume a único género e percebeu-se que ao samba se juntam outros polvilhados de rock, electrónica e até frevo que um notável conjunto de músicos e cantores eleva, de fio a pavio, a uma fasquia libertadora.

Pede-se, então, que os muitos gritos pedidos e atendidos sirvam de homenagem festiva a todos que sofrem na pele as injustiças e afrontas de um mundo às avessas mas também de esperança em dias melhores que o endireitem à força de uma convicção inabalável - Eu quero é cantar eu vou cantar até ao fim...



A combinação dos dois instrumentos que dão nome à banda cabo-verdiana é enganadora. Ferro Gaita são, afinal, um pedaço de metal tocado com uma faca e um pequeno acordeão que há muito são usados tradicionalmente no arquipélago africano para tocar funaná, um género festivo proibido durante o período colonial e que se distancia da coladeira ou morna pelo seu irresistível balanço contínuo.

Equipado a rigor, o colectivo rapidamente atingiu esse desígnio, estendendo a dança e a festa pelo relvado do parque onde uma plateia de várias gerações se mostrou em plena forma e estilo na resposta, sem contemplação, a tamanha agitação. Percebeu-se que os mais de vinte anos do conjunto permitem uma facilidade no entrosamento instrumental que induz, por onde passa, alegria e boa-disposição em doses generosas e que uma boa maioria não queria que terminassem. Um regresso a Ovar de sucesso previsível mas de merecido e repetido forte aplauso.   

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