De regresso a Portugal onde esteve em 2017 mas a estrear-se no Porto, a norte-americana Molly Burch apresentou-se desta vez suportada por um virtuoso quarteto instrumental, sugerindo que a guitarra que por vezes tocava ficou já e irremediavelmente (?) para trás. Agora assume-se em plenitude como cantora charmosa e jovial apesar da aparente timidez que se vai diluindo logo que os temas se iniciam e crescem numa torrente imaculada de pop adulta quase sempre vertendo sobre o amor e os seus infindáveis mistérios ou as consumições de uma vida a dois mas percebem-se, no entanto, outras alusões sobre o que é ser mulher ou simplesmente confiar nos amigos...
É essa sonoridade que empola uma boa nostalgia dos anos sessenta assente num clássico e rouco timbre de voz de indisfarçável semelhança com Angel Olsen, parceira artística assumidamente admirada ao lado de Natalie Prass, Weyes Blood ou até as irmãs Knowles e que no mítico ex-clube de striptease teve um antro kitsch moldado a preceito nas suas cores púrpuras e azuladas de espelhados cenários retro. Contudo, o espaço esteve longe de nos convencer quanto à sua eficácia logística marcada pela fraca visibilidade e uma notória limitação acústica que reduziram, em muito, a grandiosidade e perfeição de um alinhamento acertado e refinado.
Valeu o notável entrosamento do já referido quarteto onde brilhou a guitarra do parceiro Dailey Toliver, vibração particularmente vincada e aplaudida em "Only One", novo e contagiante pedacinho de veludo plasmado num sete polegadas de vinil, no enorme "First Flower" ou em "I Adore You", um dueto ao desafio deixado propositadamente para o único encore de forma a que não restassem dúvidas quanto ao calibre prateado e valioso desta composição. Precioso!
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