Logo à primeira audição das canções do disco homónimo de Chico Bernardes há uma série de traços de intimidade que se notam entre uma toada que se afigura um pouco inquietante e algo repetitiva. A aparente falta de ousadia da composição é, contudo, tecnicamente irrepreensível num permeável jogo sonoro das cordas da viola clássica e a voz pausada e certeira para as palavras mesmo que ingénuas. Para um jovem de vinte anos a transposição destas boas fragilidades para uma sala de espectáculo pequena e informal não deve ser nada fácil. No caso da noite portuense, a esta dificuldade juntou-se uma seriedade intimadora na concentração do público sentado na frente da figura enorme e cabeluda de Bernardes na expectativa de um teste ao vivo inédito de que, sinceramente, não augurávamos um grande resultado. Errado!
Sentado, tal como o irmão Tim, com o violão ao colo e uma postura calma e dissuasora de histerismos, o concerto revelou-se uma agradável sucessão contida de tristeza em forma de canções sem pressas sobre o amor e o seu contrário mas onde a sábia vibração das cordas das duas guitarras acústicas conseguiu surpreender pela consistência e excelente tecnicidade. No nosso caso, a sequência "Sem Palavras", "Me Encontar" e a inesperada versão de "True Love Will Find You in the End" de Daniel Johnston foi, a esse nível, sintomática do seu talento musical de inquestionável valor e de que se adivinha crescimento fértil proporcional ao tamanho da cabeleira. Grande Chicão!
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