A noite de namorados, uma tradição tão antiga e vincada na nossa cultura como preparar um bom sushi para a ceia de Natal, sugeria ser um tiro no escuro para a estreia (?) de Micah P. Hinson na cidade. Atendendo à resposta compacta que se juntou na cave do bar portuense onde se notavam, mesmo assim, alguns pares de amorosos com bom gosto, afinal fazia falta este reencontro tardio com o já não miúdo mas com cara de miúdo que não se cansa de fazer excelentes discos e que já não víamos em palco há mais de uma dúzia de anos.
Dessa noite bracarense, onde acender um cigarro era e ainda é proibido, recordávamos o perfeccionismo e até algum nervosismo de um jovem Hinson já bom contador de piadas e histórias que agora soaram ainda mais corrosivas e desafiadoras entre contínuos e aflitivos cigarros esticados na ponta da longa cigarrilha de forma a contornarem o microfone e a não queimar os lábios. Arrasador, provocante, teve sempre resposta pronta do público mesmo que algumas das trocas de palavras tenham azedado um pouco ou não fosse o assunto um tal de Donald Trump...
Fica-lhe a matar essa aura de looser de que se gosta sem enjeitar muita ternura pela subtileza das canções de um reportório já longo e vasto donde foi picando aleatoriamente exemplares únicos daquilo que o próprio chamou folk music mesmo que sejam, à sua maneira, inesperadas versões de "No Surprises" dos Radiohead ou, um pouco mais à frente, do hino tradicional "500 Miles". Da plateia soltaram-se alguns pedidos como "Close Your Eyes" prontamente atendido mas, mesmo sem que ninguém o tenha requisitado, lá apareceu subtilmente o incontornável "Beneth the Rose" para que não houvesse qualquer motivo para reclamações ou suspiros quanto a este inusitado e encapotado São Valentim que acelera pecados, dos bons, com uma simples e velha guitarra e até deita fumo!
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