quarta-feira, 10 de dezembro de 2025
terça-feira, 9 de dezembro de 2025
THE AUTUMN DEFENSE, AMÉRICA VENTUROSA!
A maravilha de longa duração é uma refrescante memória sonora de West Coast, onde não se esconde a vénia aos saudosos, e ainda activos, América, autores de monumentos como "Ventura Highway", "Tin Man" ou "Horse With no Name", aos The Beach Boys ou a pérolas rosadas de Carole King e em que a guitarra dita espanhola não é um estorvo, mas sim uma assumida e inseparável vibração instrumental ao serviço de uma envolvência melodiosa e onírica.
Agora que Jeff Tweedy exagerou na dose (em trinta canções de "Twilight Override" aproveitam-se para aí... dez!), e penitenciando-nos pela desatenção, nada como um pouco mais de cortesia aos parceiros ocultos e modestos dos Wilco que também sabem fazer boa música, americana e venturosa!
sábado, 6 de dezembro de 2025
LUBOMYR MELNYK, ÉPICO!
“ …the greatest epic of piano-music of all time… ”
Assim se descreve "Windmills", uma peça ao piano de Lubomyr Melnyk que se tornou mítica. Temos na memória a impressiva comoção que ela causou aquando da então inédita presença do ucraniano na catedral de Viseu em Julho de 2015, momentos ao vivo depois várias vezes repetidos em regressos triunfais ao nosso país. Certo é que "Windmills", nos seus quarenta e cinco minutos de duração, não foi mais escolhida.
Mesmo que a peça tenha já tido circulação diversa, como a de marca própria de 2022 ou a destinada a dois pianos de 2013, o que agora se edita é a prova indelével e definitiva de um épico da chamada continuous music. Para o efeito, a editora Jersika Records promoveu, em Agosto de 2019, uma sessão no Concert Hall Latvija em Ventapils na Letónia para se registar, com todo o cuidado e rigor, uma composição que só Melnyk seria capaz de criar e executar na sua apurada técnica ao piano.
Assim e pela primeira vez, "Windmills" está, desde ontem, disponível em disco de vinil minucioso com capa histórica onde se reproduz "The Windmill at Wijk bij Duurstede", pintura famosa do holandês Jacob Isaacksz van Ruisdael (1628-1682), um óleo sobre tela que pertence à colecção do Rijks Museum de Amesterdão.
Épico!
FAZ HOJE (32) ANOS #116
LULU BLIND + MANIC STREET PREACHERS, Coliseu do Porto, 6 de Dezembro de 1993
. Público, por Amílcar Correia, fotografia de Alexandre Carvalho, 8 de Dezembro, p. 31
sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
BILL FAY, DO FUNDO DE UM RELÓGIO!
Até agora somente disponível em cd e mantendo uma aura de raridade, a editora Dead Oceans repegou no tesouro e deu-lhe o seu toque habitual de bom gosto, parafinando os vinte cinco pedaços para níveis de digitalização sofisticados, mantendo a imagem original e um design aproximado ao utilizado em anteriores edições alusivas a Fay e que tem em Miles Johnson o artista gráfico certo.
É dele o visualiser para a primeira revelação, "Maudy La Lune", mas está prometido um outro para "Warwick Town", tema que abre um alinhamento a ferver por redescoberta, partilha e contínua surpresa.
quarta-feira, 3 de dezembro de 2025
FAZ HOJE (25) ANOS #115
THIEVERY CORPORATION, Cinema do Terço, Porto, 3 de Dezembro de 2000
. Jornal de Notícias, por José Manuel Simões, fotografia de Malacó, 5 de Dezembro de 2000, p. 42
terça-feira, 2 de dezembro de 2025
THE DELINES, MAIS CINEMAsCOPE!
Com produção renovada e firme de John Morgan Askew, o novo "The Set Up" sairá na habitual Decor Records em Março do próximo ano. Acrescenta-se ainda, em versões limitadas da Rough Trade, um CD com a banda sonora instrumental para "The Left & The Lucky", o novo livro de Willy Vlautin.
Para já, projecta-se de forma alargada "Dilaudid Diane", um pedacinho mais daquilo que alguém já sugeriu ser "CinemaScope Delines"...
quarta-feira, 26 de novembro de 2025
GINA BIRCH + DEVENDRA BANHART, Theatro Circo, Braga, 24 de Novembro de 2025
Se as The Raincoats foram veia inspiradora para muitas bandas, à boa tensão entre Ana Silva e Gina Birch se deveu essa salutar desmultiplicação em que a irreverência foi (é) palavra de ordem. Regressada ao Minho (passaram por Coura em 1996 e, possivelmente, pelo GNRation em 2018), Birch só em 2021 se lançou a solo nisto dos álbuns e das canções. A primeira delas chamou-se "Feminist Song", assumindo sem contemplações a luta contra uma desigualdade secular e mantendo, como não, a tal irreverência.
Ela não podia faltar e não faltou logo em "I Am Rage" com que abriu o pequeno set, escolhendo imagens de fundo de autoria própria, uma vertente artística tarimbada em anos de estudo e prática, e que se haveriam de mostrar notáveis logo de seguida na referida "Feminist Song", em "I Thought I'd Live Forever" ou "I Will Never Wear Stilettos". Agitadora, mas, mesmo assim, algo nervosa, foi com "Causing Trouble Again", do mais recente álbum na Third Man Records (2025), que um coro alto da plateia se fez ouvir, em bom som, na simplicidade de um grito: trouble... agitpop do bom!
Dois anos depois, Devendra Banhart voltou ao Theatro Circo para uma esperada redenção. Não seria difícil fazer melhor que a falhada estadia de 2023 e a faceta de "sozinho em palco" mostrava-se como sendo a adequada para que a estrela se invertesse no brilho. Sem dificuldade, Devendra cedo se mostraria fino, delicado, intenso, mesmo que uma certa anarquia no alinhamento das canções tenha rodado o serão num corrupio em que emergiu muita boa disposição à volta de microfones, bexigas, casas de banho e algum portunhol...
A proposta transmitida em jeito de aviso consistia numa sugestiva ordem cronológica dos seus melhores temas, começando pelos mais antigos, pretensão parte cumprida, parte subvertida sem consequências. Acabou por faltar umas das nossas preferidas ("Daniel"), talvez alinhada, mas esquecida, substituída de certeza por outra ainda melhor, todas de acústica refinada e certeira em que a voz se elevou, desta vez, a nível de excelência. Apesar da dupla sugestão da plateia, interacção autorizada previamente, de "Santa Maria da Feira" soaram só os primeiros dez segundos, brincadeira que foi também aplicada a outras como "Quedate Luna", mas só pelo tratamento dado a uma inesperada "Carolina" não são requisitadas quaisquer desculpas.
Quanto a versões, que afinal ninguém sugeriu (podia ser o "Pink Moon", em dia funesto para Nick Drake, ou o "Leãozinho" que calhava sempre bem), Devendra convidou Gina Birch para uma variação de "Rilkean Heart", pérola antiga dos Cocteau Twins, parceria improvisada longe da perfeição, mas de merecida cortesia à companheira de curta partilha e de longínqua veneração.
Playing solo (giving it a shot), assim se chama a actual digressão, foi, pois, isso mesmo, a sinceridade de um artista dono de um cancioneiro robusto, envolto de envelhecimento activo ainda essencial e de deliciosa fruição, não estranhando que, passados mais de vinte anos, a cada aproximação ao nosso país as salas continuem a esgotar-se de ansiedade e de vibração. Foi um placer...
terça-feira, 25 de novembro de 2025
CAROLINE, TRANSCENDÊNCIA GNRACIONAL!
O octecto espraia-se de forma pausada, enredando instrumentos e vozes que no disco teve, who else, Caroline Polachek como cúmplice surpreendente, um todo que será ao vivo uma experiência de intensidade assinalável já testada em TinyDesk vibrante.
Será, pois, mais que recomendável não perder a próxima digressão pela Europa que terá no GNRation bracarense
o espaço ideal para a estreia portuguesa (2 de Abril de 2026, quinta-feira) e que alcança Lisboa no dia seguinte (B Leza). Bilhetes transcendentes.
FAZ HOJE (24) ANOS #114
. Diário de Notícias, por Rui Frias, fotografia de Tânia Cerqueira, 27 de Novembro de 2001, p. 42
DUETOS IMPROVÁVEIS #309
ANNA CALVI & PERFUME GENIUS
I See A Darkness (Bonnie Prince Billy)
Carving Silver in Strange Weather (Substack),
Outubro de 2025
domingo, 23 de novembro de 2025
FAZ HOJE (24) ANOS #113
SNOOZE + MOUSE ON MARS + KID 606 + KHAN, Festival Blue Spot, Teatro Sá da Bandeira, Porto, 23 de Novembro de 2001
. Diário de Notícias, por Marcos Cruz, 25 de Novembro de 2001, p. 53
. Jornal de Notícias, por Emanuel Carneiro, fotografia de Pedro Correia, 25 de Novembro, p. 44
sexta-feira, 21 de novembro de 2025
TOBIAS JESSO JR., CINTILA UM MILAGRE!
Podem já ouvir "shine" na sua totalidade via spotify, trinta minutos de oito canções poderosas onde o piano se evidencia numa auto-produção misturada por Shawn Everett. Aceitam-se encomendas de linda brancura em vinil e de design cintilante.
Os novos temas assentam no amor pela mãe, pelo filho, mas também em alguma amargura fruto de rompimentos e separações e teve ajudas de amigos como Danielle Haim, Justin Vernon e de alguma e útil psicanálise. O primeiro single "I Love You" deverá ser sempre escutado até quase ao final... poderoso.
quinta-feira, 20 de novembro de 2025
EZRA COLLECTIVE, NATAL FOFINHO!
O colectivo londrino Ezra Collective decidiu que a proximidade do Natal merecia alguma ternura de sonoridade jazz que a envolvesse de alegria e fofura, escolhendo-se dois clássicos ingleses setecentistas ("Joy To the World" e "Hark! The Herald Angels Sing") para amaciar os excessos indesejados.
A proposta imita um versão de "God Rest Ye Merry Gentlemen", tradicional de estação também britânico que a banda lançou o ano passado, naquilo que agora se começa a assumir como uma salutar tradição. Só falta a rodelinha de vinil...
quarta-feira, 19 de novembro de 2025
terça-feira, 18 de novembro de 2025
RUFUS WAINWRIGHT, REINVENÇÃO WEILL!
Pois bem, chama-se "I'm A Stranger Here Myself: Wainwright Does Weill - Rufus Wainwright with the Pacific Jazz Orchestra", e promete ser um tributo de um fã fervoroso e fascinado pela envolvência de um songbook intemporal que foi, ele próprio, uma das principais influências da composição que Wainwright imprimiu, desde muito novo, à sua carreira. Ainda por cima, tudo muito natalício!
sábado, 15 de novembro de 2025
LAURIE ANDERSON & SEXMOB, Teatro Rivoli, Porto, 13 de Novembro de 2025
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| Fotografia: facebook do Teatro Municipal do Porto |
Vinte anos depois, e na companhia inédita da banda nova-iorquina SexMob, Anderson trouxe à cidade "X²", um (des)concerto que, não sendo só musical, também não foi só comunicacional. A hibridez aportada para a sala envolveu-se de imagens e luzes, de sons e crescendos jazzísticos em que o violino, o seu e mais dois, assumiram a centralina de alguma electrónica e demasiada, impertinente, percussão que chegou ao segundo balcão em modo quadrado, chapado, confirmando as deficiências acústicas de um teatro que não gosta nada de concertos rock ou outros...
Foi pena, por isso, que pérolas como "Big Science" ou "Language is Virus", escolhidos logo na primeira meia-hora para reafirmar a actualidade da mensagem, não tenham despertado grande entusiasmo, como que encolhidas e despercebidas numa amálgama multimédia e instrumental excessivas. Valeram, como sempre, as vozes, as histórias, os acentos que Anderson escolheu para contar, narrativas de frisado ora político, em que o seu presidente foi o alvo-mor, ora biográfico, com destaque para Dylan e o seu Lou Reed.
Surpreendente o capítulo dedicado ao pai, vida de um muito jovem emigrante da Suécia que a IA fez o favor de revolver e reinventar em imagens a preto e branco saborosas, engraçadas e despertadoras de alguma da maçada em que o serão, perigosamente, parecia ir patinar. Como que por magia, a noite ganhou novas asas para voar bem melhor até ao fim, um género de segunda-parte sem direito a intervalo em que a delicadeza, a cambiante visual e até o tai chi colectivo praticado sem constrangimento funcionaram, efectivamente, como um alívio compensador.
Uma noite demasiado longa, a precisar de maior e mais pertinente restrição, confirmando, no nosso entender, que a magia única que Laurie Anderson emana se afigura ainda suficiente para brilhar sem necessidade de uma qualquer coadjuvação. A grande ciência faz-se sozinha...
sexta-feira, 14 de novembro de 2025
MICAH P. HINSON, O HOMEM DO AMANHÃ!
Para trás sugere ter ficado a longínqua onda folk-rock de veia trágica que, ao vivo, era (é?) pura diversão, sobreposta que foi agora por sedutoras orquestrações e alguma melancolia de novo crooner que lhe assenta muito bem.
Ao álbum, saído no final de Outubro na casa Ponderosa Music Records de Milão, só faltará acrescentar o teste de um concerto para a prova definitiva. Talvez ao piano, como em Cerveira no verão de 2024...
quinta-feira, 13 de novembro de 2025
ONEOHTRIX POINT NEVER, Theatro Circo, Braga, 9 de Novembro de 2025
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| Fotografia: facebook do Thetaro Circo |
Comparecer, por isso, a um dito concerto de Daniel Lopatin aka Oneohtrix Point Never em sala grande, distinta e nobre como a de Braga será um eufemismo que os tempos performativos foram diluindo. O género de música sintetizada que o artista tem desenvolvido nos últimos quinze anos aproxima-o a um condão efectivo de bom gosto e transcendência que tem alimentado bandas-bonoras de acutilância e mistério, capacidades que outros inovadores como Anohni, David Byrne, James Blake ou o saudoso Ryuichi Sakamoto não dispensaram para fazer abrir novos caminnhos sonoros.
O motivo da, dita assim, perfomance chama-se "Tranquilizer", um novo álbum a sair para semana na Warp Records, e o serão do Domingo serviu com uma refinada e antecipada listening party colectiva da totalidade das quinze peças, a que se juntou uma notável imersão visual da responsabilidade de Freeka Tet, entremeada por fumarolas e strobes que nos pareceram de exagero desnecessário, talvez porque já não estamos há muito habituados a isto das noitadas e das batidas...
O disco e os videos, contudo, são de justa e, sem esforço, recomendada fruição.
terça-feira, 11 de novembro de 2025
BONNIE PRINCE BILLY, GNRation, Braga, 9 de Novembro de 2025
São muitas e boas as memórias de concertos de Will Oldham aka Bonnie Prince Billy. Serão imbatíveis, contudo, as que se aclaram saídas do granito do saudoso bar Mercedes da Ribeiro portuense em 2008, bem diferentes de uma anterior e mais atribudada passagem pelo Theatro Circo minhoto. Estava, pois, na hora certa para a insistência ao vivo num, há muito, mítico trovador americano que faz da música a única e virtuosa forma de vida - "I want to make music all the time / Not just in fits and skirmishes / I wanna be wholly consumed in rhyme / And bend my whole to her wishes", faria ele o favor de recordar em "Behold! Be Held!".
O cancioneiro é, assim, de uma vastidão infindável, mas o motivo principal residia no novo, de meses, "The Purple Bird", mais um disco de consistência e validade assinalável que se arriscou passar para cima do palco de forma surpreendente - sem qualquer percussão, as canções como que se ondularam, eruditas, numa intimidade e simbiose de perfeição tocante ou não fosse Eamon O’Leary no bouzouki, Thomas Deakin na guitarra eléctrica e clarinete e o, literalmente, grande Jacob Duncan na flauta e saxofone, um trio de astuta e rara cumplicidade. Tamanha elevação, mesmo com alguns atropelos irrelevantes nos acordes, teve na caixa negra do último piso do antigo quartel bracarense um reduto de resguardo e conforto a uma audiência esgotado de devotos silenciosos, apreço de requisito bendito em tempos de banalização lesiva do ruído.
No seu trejeito engraçado (aquele equilíbrio em pé de galo continua intratável), Oldham mostrou-se empenhado e certeiro na abordagem a um reportório de veia na americana de raiz folk, em que a liberdade e a camaradagem continuam a ser a seiva de uma composição peculiar e em contínuo batimento. Respirou-se, por isso, tanto em palco como na plateia, um amor verdadeiro pela boa música, daquela que há décadas o mestre Billy não se cansa, sem poluentes, de produzir milagrosamente. Uma lenda viva, viva a lenda!
BILL CALLAHAN, TEMOS HOMEM!
A contenda, a oitava em nome próprio, parece continuar um trilho experimental que "Reality" de 2022 desbravou, um género de registo sitiado numa sala de estúdio onde os erros e as surpresas continuam a acontecer. Um milagre é o que é, que só ele e os parceiros sabem fazer e que, neste caso, têm nome - Matt Kinsey, guitarrista, Dustin Laurenzi, saxofonista e Jim White, baterista.
Depois de umas poucas amolgadelas e muitos cruzamentos instrumentais, o resultado afigura-se enérgico, de profundeza desconhecida como convêm, mas de uma espontaneidade bravia que crescerá naturalmente. Ouça-se "The Man I'm Supposed To Be"... temos homem!
segunda-feira, 10 de novembro de 2025
quarta-feira, 5 de novembro de 2025
terça-feira, 4 de novembro de 2025
FAZ HOJE (31) ANOS #112
. Diário de Notícias, por Miguel Carvalho, fotografia de Orlando Teixeira, 6 de Novembro, p. ?
. Público, por Fernando Magalhães, fotografia de Paulo Pimenta, 6 de Novembro, p. 38
KEATON HENSON, O PONDERADO!
As novas canções quase nos fazem regressar a tempos do grunge, uma marca que na sua juventude se impregnou sem direito a dissolvente de nódoas, que isto das raízes não permite cortes profundos. A vontade com que gravou o disco é só sinónimo de uma sinceridade aberta a memórias e facetas antigas que não se escondem, não se apagam e que, na sua impetuosidade, ajudam a moldar uma evidência - temos homem confiante.
Curiosa a estratégia aplicada - a cada novo single têm-se seguido uma versão acústica caseira, talvez lembrando os fãs que a delicadeza continua activa, mesmo assim, validada por um desses novos temas de nome "Past It". Outras pérolas, como "Lazy Magician", tema que conta com a ajuda de Julia Steiner, são só mais contrapesos de um balanço ponderado.
segunda-feira, 3 de novembro de 2025
JO ALICE + HAMILTON LEITHAUSER, M.Ou.Co., Porto, 31 de Outubro de 2025
A virtude da primeira parte de um qualquer concerto deverá ser a de descontrair e preparar a plateia, seja lá o que isso for. Por vezes, o momento torna-se dispensável e, por isso, desnecessário. Outras vezes, a pertinência e desafio dessa antecipação a um nome ou banda maior redunda numa chance envolvente. Que agradável surpresa!, alguém gritou pouco depois de Jo Alice tocar dois dos oito temas com que se deu a conhecer no Porto. Nem mais, a Angel Olsen que se cuide.
Do nada, a noite ganhou memória de densidão assinalável, muito à custa de um vozeirão enleado a uma guitarra com tanto de roufenho como de negra delicadeza e agarrada, nalguns casos, às batidas de Stephen Patterson, ele próprio baterista de Leithauser. Sabemos agora da sua cumplicidade na gravação e apuramento das primeiras canções de uma jovem artista de nacionalidade portuguesa e vivência algarvia, mas que se move entre a Irlanda, França ou o Texas americano. Escolheu, também por isso, algumas pérolas pertencente a outros para se dar a ouvir (identificamos os The Last Shadow Puppets ou o Jacques Brel), como essa monumental "Magnolia" que o grande JJ Cale escreveu em 1971 e que, ali, se confirmaria como um dos melhores momentos de um serão ainda madrugador. Grande Alice na cidade das maravilhas.
Com excepção de um Primavera Sound com oito anos e um Paredes de Coura com onze, esta era a estreia a sério de Hamilton Leithauser no Porto e teve merecida casa esgotada por fãs de fidelidade antiga. Logo agora que o vocalista dos The Walkmen pôs cá fora, há uns meses, "This Side of the Island", um quarto disco de originais de nove canções certeiras e robustas, notou-se que o álbum está já mais que absorvido e aprovado, tendo sido ele o fio condutor de um alinhamento a apelar à compartilha e proximidade em que o tema-título e "What Do I Think?" bateram todos os outros por décimas.
Os atributos da banda, mesmo que nem sempre alinhados, estenderam-se a memórias mais antigas de validade confirmada e frescura renovada - "A 1000 Times", "In a Black Out" ou "Peaceful Morning" foram exemplos perfeitos dessa consistência a que se esperava a adição de um obrigatório "Alexandra" que, afinal, foi inexplicavelmente preterido. Em noite de bruxas e numa imaginária contenda entre doçuras e travessuras, os sustos perderam por larga margem para uma
variedade de guloseimas coloridas de sabor duradoiro e de receita Leithauser há muito patenteada. A tradição não engana e, por isso, este continua um artista que interessa acarinhar e proteger de uma América ainda salutar e diversa. Longaevitas...
quinta-feira, 30 de outubro de 2025
FAZ HOJE (25) ANOS #111
. O Comércio do Porto, por Miguel Soares, fotografia de Ricardo Meireles, 1 de Novembro de 2000, p. 25
. Jornal de Notícias, por Sérgio Almeida, fotografia de Pedro Correia, 1 de Novembro de 2000, p. 42
. O Primeiro de Janeiro, por Nuno N. Santos, fotografia de Tiago André, 1 de Novembro de 2000, p. 17
segunda-feira, 27 de outubro de 2025
HANNAH FRANCES, MUCHO FLOP!
Sem explicações ou avisos de ambas as partes, parece que vamos ter que aguardar uma outra oportunidade para a ouvir de bom grado, tendo em conta a qualidade do produto auditivo que têm no álbum "Nasted in Tangles", saído há poucos dias, uma experiência de verdadeiro prazer.
Sem alterações aparentes, recomenda-se, ainda assim, a presença dos These New Puritans no sábado, dia 1 de Novembro, no palco do Centro Cultural Vila Flor. Sem flops, espera-se!
sexta-feira, 24 de outubro de 2025
JESCA HOOP, MEMÓRIA ACÚSTICA!
Temos, assim, em "Selective Memory" nove pedacinhos de cumplicidade prolongada onde se mergulha nos videos disponíveis a preto e branco mate, mas de onde se sai em brilhante colorido...
sexta-feira, 17 de outubro de 2025
quinta-feira, 16 de outubro de 2025
DUETOS IMPROVÁVEIS #308
JOAN SHELLEY & DOUG PAISLEY
Heaven Knows (Shelley)
Álbum "Real Warmth", No Quarter Records,
E.U.A., Setembro de 2025
segunda-feira, 13 de outubro de 2025
THE MAGNETIC FIELDS, Centro Cultural Vila Flor, Guimarães, 8 e 9 de Outubro de 2025
Em 2000 não haveria amigo da música que não falasse de "69 Love Songs" dos The Magnetic Fields. O disco era como se fosse o único da banda de Nova Iorque, apesar da meia dúzia de álbuns já então editados, mas o volume quadrado de caixa plástica onde cabiam três patelas magnéticas haveria de rodar entre mãos em versões pirateadas, pedidos de empréstimo perigosos e muito boa imprensa rendida aos méritos de Stephin Merritt.
Havia razões lógicas para o fenómeno, logo listado numa catrefada de escolhas como "essencial", embora fossem poucos os que conseguiam estar perto de três horas seguidas a tentar perceber o conceptualismo da façanha amorosa, melhor, da odisseia sobre canções ditas amorosas. Também lhe rendemos, nessa época, variadas e prolongadas escutas, sempre no pressuposto que o mini-disc ou o leitor do primeiro carro, assim equipado, tinha a funcionar a tecla de avançar e recuar. Um género de repositório aleatório da canção pop para o qual nem sempre havia paciência ou paladar auditivo e que, como em tudo, tinha partes e sequências preferidas, desprezos assumidos e descobertas contínuas. Retomar, vinte cinco anos depois, os caminhos dessas primazias afigurava-se estranho se bem que de irresistibilidade imediata, apesar da incerteza quanto ao anacronismo da maratona proposta.
Fica desde já registado que o exercício correu bem. O marco artístico, então elogiado, mantêm-se sem prazo de validade conhecido ou qualquer risco de azedar, muito por culpa de uma competência instrumental e vocal sem equívocos, reparos ou ondulações, permitindo à plateia concentrar-se nas canções, nas suas nuances e, principalmente, no non-sense e sátira de muitas das letras envoltas de géneros e feitios sonoros contrastantes onde a subtileza é trave-mestra. O voz a la Cash de Merritt continua marcante, posicional e inimitável, mas será de elogiar ainda a clareza de Shirley Simms e do guitarrista (nome?), que lá de trás, se levantou para terminar da melhor maneira a primeira noite com um enorme "Promises of Eternity".
Muita aplaudidas foram também "Papa Was a Rodeo", "Long-Forgotten Fairytale", "The Death of Ferdinand de Saussure", a derradeira "Zebra" ou essa estranha pérola chamada "Love Is Like Jazz" que, se no disco já é viciante e suspensiva, ao vivo avolumou-se num pedaço de refinado e inesquecível vaudeville.
Sem piedade, confessada fica a nota que foi esta a primeira vez que ouvimos o disco completo sem descontinuidades, e nem mesmo uma interrupção de vinte e quatro horas nos fez ir buscar o volume ao armário dos cd's para avivar memórias e preparar os ouvidos. A setlist, a cumprir religiosamente, era só um pormenor de um grande e imprescindível concerto. Em 2050 esperamos retomar-lhe o gosto. Por essa altura, já uma tela virtual ou outra qualquer liquidez nos fará recordar "All In: A Broadway Comedy About Love", uma peça de teatro inspirada na trilogia de cantos, então cinquentenária, estreada em Dezembro último...
FAZ HOJE (36) ANOS #110
. O Primeiro de Janeiro, por Nuno Moura Brás, 15 de Outubro de 1989, p.?
. Jornal de Notícias, por Hélder Bastos, 18 de Outubro de 1989, p.?
sexta-feira, 10 de outubro de 2025
terça-feira, 7 de outubro de 2025
DANIEL KNOX, MERCADO 48 É NOME DE DISCO!
Um desses projectos têm agora concretização assegurada e reporta duas madrugadas de gravação ao piano da mesma loja, apurada com engenharia sonora a cargo de Greg Norman. Depois, as canções foram tratadas devidamente no Jamdek Recording Studio de Chicago com a ajuda de vários músicos amigos e com a adição de vozes de João Freitas no Estúdio Cedofeita do Porto.
A cidade serviu, pois, como cenário e roteiro comprovados em "Alligator", o primeiro single de que o próprio conta as circunstâncias em tradução livre (The Line of Best Fit):
"Passei muito tempo num café chamado Asa de Mosca. Há por lá muita gente interessante. Um tipo entra e tenta vender-me coisas que roubou. Eu costumo comprar. Ele vendeu-me um pequeno elefante de madeira, um leque em formato de macaco e, uma vez, tentou vender-me o que chamou de computador, que na verdade era só uma espécie de ecrã sensível ao toque que ele claramente tinha arrancado da parede em algum sítio. O meu cabelo comprido e a minha barba atraem muitos olhares, mas gosto de vir a este café porque, em qualquer das noites, sou apenas a terceira pessoa mais estranha."
Acrescenta:
"Às vezes, fico aqui sentado a ler ou a trabalhar, mas a minha mente levanta-se e anda sem mim. Ela começa a andar a três ou quatro quarteirões de distância, senta-se sozinha noutro café, atravessa a rua e volta para me observar da janela. Depois de morar aqui por alguns anos, às vezes tenho esses momentos de perspectiva em que consigo ver-me fora de mim mesmo; como se eu fosse apenas aqui mais um desses personagens. Há aquela coisa que se enfrenta nessa idade em que ainda se quer ser o personagem de algum romance antigo, mas aí estou sentado no sofá a assistir aos novos discos 4K de "Alligator" e "Alligator II" e tens que conciliar isso com quem tu és e com queres vir a ser.".
O video de "Alligator", dirigido por Manuel Sá, foi, por isso, rodado em ruas e locais que bem conhecemos de Campanhã ou do Bonfim, mas a protagonista chama-se Flor, um milagre de ternura decana. "Mercado 48" sairá no início de Dezembro em casa própria em vários formatos já em pré-encomenda. Prometida está a apresentação ao vivo no sítio do costume e partilha...
quinta-feira, 2 de outubro de 2025
MICHELLE DAVID & THE TRUE-TONES, Auditório de Espinho, 28 de Setembro de 2025
Uma crítica com três anos a um disco novo de Michelle David & True-tones acabava com um chavão mais que verdadeiro - se você gosta do som de Sharon Jones, vai adorar este! De facto, não são só estas as semelhanças, já que David é também norte-americana e dona de um vozeirão que, desde criança, se envolveu no gospel e na soul de forma notável. Em palco, não será coincidência, a mesma aversão a sapatos que incomodam na perfomance.
Como manda a sapatilha, aquando da entrada em palco da cantora já o trio instrumental The True-tones tinha ligado a maquinaria groove, mantendo-a perfeitamente oleada até ao fim, escolhendo momentos a solo do baterista e, em particular, do guitarrista, para polir e acelerar a rotação. A energia haveria de fazer levantar a plateia das cadeiras, mas o convite para ocupação da frente ou laterais, ao contrário de um mítico concerto de Sharon Jones na Casa da Música, não obteve qualquer adesão.
O revivalismo soul fez-se, mesmo assim, na plenitude da sua saliência dançante, uma vibração sem data de validade desde que produzida com autêntica e divertida essência, o que, lá está, estes três true.tones e a uma mestra-cantora sabem fazer sem falhas.
quinta-feira, 25 de setembro de 2025
LEE FIELDS A BOM CAMINHO!
Num género de repetição inverosímil, alinha-se para Janeiro uma intensa digressão do soulman norte-americano por Espanha e não é que há concerto marcada para Santiago de Compostela para dia 25, domingo? Bilhetes só na segunda feira. Grazas!
FAZ HOJE (24) ANOS #109
. Jornal de Notícias, por Miguel Graça, fotografia de José António Domingues, 26 de Setembro de 2001, p. 43
terça-feira, 23 de setembro de 2025
JOAN SHELLEY, VERDADEIRO TESOURO!
Em "Real Warmth", que a No Quarter editou na última semana, há pois novos ares, longe do Kentucky natal e de uma certa ruralidade country, mas, ouvindo o disco, a magia que Shelley aporta à composição soa como que se tivesse agitado numa nova poção perfumada de bom gosto. Há muito que lhe exaltamos o estilo, que a temos por indispensável, é tempo agora de a abraçar como um verdadeiro tesouro!
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