quinta-feira, 23 de setembro de 2010
"UM MANJERICO PARA LOU REED"
Aquando do concerto de Lou Reed na inauguração da Casa da Música em 2005, foi por alguns recordada a anterior e mítica passagem do ex-Velvet Underground pela cidade invicta. Estávamos em plena véspera de São João de 1981 e o que é certo é que o músico, depois da noitada, desmarcou o concerto, sem mais nem menos, para desgosto, certamente, de todos os fãs que tinham esgotado os bilhetes para o Pav. do Infante Sagres (?). Entre os desiludidos, aparentemente, esteve Carlos Tê, que num conto chamado "Um Manjerico Para Lou Reed", publicado em 2001, faz um relato ficcional e quase épico dessa noite maldita e que só ontem tivemos oportunidade de conhecer. São quinze páginas em que Reed é colocado no papel de narrador e onde relata, em resposta a uma pergunta de um suposto jornalista português, todos os pormenores, descobertas e circunstâncias da tal noite sanjoanina. Talvez tenham chegado até Tê alguns dados verídicos sobre Reed e a banda em plena baixa do Porto, de óculos escuros e blusão de couro, de martelinho de plástico na mão e a levar com alho-porro, entrando e saindo de tascas de barriga cheia, provando sardinhas assadas ou umas papas, toldados pela qualidade do vinho, do fogo do artifício ou a alegria da multidão em bailes de ocasião. Carlos Tê, com conhecimento de causa - basta lembrar a letra do tema "Elegia Sanjoanina" na voz de Rui Veloso - consegue, desta forma, um conto sublime e se um dia vos perguntarem o que é (era?) o São João no Porto, recomendem, sem hesitações, a leitura obrigatória destas páginas. Quanto ao concerto, talvez tivesse soado assim...
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