sábado, 3 de março de 2012
MEXEFEST, Porto, 2 de Março de 2012
Sem roteiro pré-definido ou sequer pensado, a casa de partida de tão prometedora noite só podia ser uma - o Passos Manuel. Foi lá que há quase cinco anos Norberto Lobo apresentou na cidade as canções do "Mudar de Bina", foi lá que ficamos desde logo apaixonados pela sua música, foi de lá que ontem não nos apetecia nada sair. Concerto maravilhoso de um músico espantoso, uma mistura experimental de sons cristalinos ou rudes em dedilhados e riffs cada vez mais perfeitos e sempre surpreendentes, o que nos leva a questionar até onde irá este talento. Genial!
Atravessando a rua, já os Capitão Fausto a jogar em casa abanavam a garagem. Cinco juniores a jogar nos seniores, plenos de garra e genica e com a lição táctica bem assimilada via Shefield a fazer vibrar a bancada, atendendo às muitas palmas recebidas. Prometedor.
Tempo para um pequeno recuo ao edifício do Coliseu onde os Niki and the Dove se apresentavam para uma plateia sentada já muita bem composta e talvez a marcar vez para a menina Anne Clark. Som de sala sofrível, talvez pelas duas (!) baterias em palco, mas mesmo assim com bom acolhimento. Tempo disponível para duas únicas canções que não nos convenceram por aí além, mas a que se calhar teremos que dar mais atenção. Duvidoso.
Na descida para o Sá da Bandeira, notamos mais gente em trânsito mas a que não se pode chamar uma enchente. Dois minutos antes de Cass McCombs e restante banda entrarem em palco, a plateia do teatro estava quase vazia. Em poucos minutos, contudo, a casa encheu. O público mexe-se mesmo. Ultrapassados alguns problemas técnicos iniciais, ora aqui está um concerto não muito fácil de descrever. Sentiu-se um McCombs competente, mas não vibrante, cumpridor, mas não efusivo e até algo entediado. Brilhou "Love Thine Enemy", faltou "The Living World" ou "Saturday Song" e foi preciso esperar até ao fim por um magnífico "County Line" às escuras, depois de apagadas as luzes de palco por solicitação expressa do artista e que decidimos, mesmo assim, registar em video... Um apagão visual, mas um enorme momento emocional a que assitiram poucos resistentes da plateia em sucessiva debandada. Suficiente.
Agora havia que correr até à garagem para aproveitar o que restava de King Krule. O miúdo Archy e restante companhia tinham a casa cheia e já rendida quando lá chegamos. O que dizer de "Portrait In Black And Blue", de "The Noose of Jah City" ou do arrepiante "Out Getting Ribs"? Que o Porto teve sorte em ter ali e agora um nome que irá certamente dar cartas na pop, ou que, no nosso caso, tão mágicos quinze e preciosos minutos se tornaram já hoje inesquecíveis. Memorável.
Sobre o epectáculo de St. Vincent na sala grande do Coliseu haverá certamente uma divisão de opiniões. Numa onda afirmadamente rock, o concerto funcionaria melhor, por um lado, num espaço mais pequeno sem cadeiras. Por outro, há nesta música algo de contemplativo a convidar ao sofá. Mas foi preciso a artista desafiar a plateia a levantar-se no final de "Cruel" e a preencher a frente de palco para que a vingasse a agitação. Depois confirmou-se todo o vituosismo à guitarra que se estendeu até ao meio do público para onde Clark saltou de guitarra em punho por entre riffs desenfreados. Nessa altura já metade do Coliseu, antes cheio, tinha desistido. Ficaram os que não gostam de facilitismos, apreciam algum risco e ouviram muitas vezes "Strange Mercy" até, como se provou, a estranheza se entranhar. Convincente.
Numa subida até aos Maus Hábitos tivemos duas boas surpresas. A electrónica de Emika fazia já baloiçar a pequena sala replecta e agitada, onde uma voz sedutora se sobrepunha a samplers e beats pré gravados. Atendendo ao adiantado da hora e às já muitas cervejas engolidas, a coisa soube mesmo bem. Deambulando pelo espaço estava Archy Marchal/King Krule com quem estivemos à conversa uns bons quinze minutos. Confirmam-se ao perto as semelhanças faciais com Rick Astley (cruzes!), provou-se, entre outros, a sua paixão pelo jazz, o desprezo pela net, a vontade constante de aprender e experimentar, a oposição frenética ao sistema social e político britânico e vêm aí um álbum que certamente vai estourar. Ei Archy, keep it cool!
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