terça-feira, 5 de maio de 2020

(RE)VISTO #76





















AMAZING GRACE
de Alan Elliott e Sidney Pollack. E.U.A.; Universal, 1972/2019   
TVCine Edition, Portugal, 1 de Maio de 2020
O recolhimento caseiro das últimas semanas permitiu-nos uma maior atenção aos canais disponíveis na televisão por cabo, à sua programação e, acima de tudo, à facilidade em sintonizar a qualquer hora, para frente e para trás, os seus conteúdos. Temos, assim, realizado um género de actualização cinematográfica quanto a filmes perdidos da última década a que amiúde se juntam documentários variados e surpreendentes.

É o caso deste "Amazing Grace" com a rainha da soul Aretha Franklin emitido na passada semana e do qual sabíamos da sua aura de intensidade mas que não tivemos hipótese de testar na altura da estreia em sala (Agosto de 2019). Trata-se, sem dúvida, de um documento memorável e emocionante que resume duas noites de Janeiro de 1972 em Los Angeles quando Aretha decidiu registar, em plena igreja do reverendo e amigo James Cleveland, um álbum de gospel. Na altura, a jogada parecia arrojada atendendo aos constantes hits com que atingia invariavelmente o número um dos tops mundiais, mas o regresso momentâneo às suas origens religiosas e, simultâneamente, artísticas valeria novo triunfo com a edição de um dos seus discos mais vendidos e elogiados simplesmente pela sua audição.

Mas ao registo sonoro o projecto juntou a preparação de um filme-concerto que, por embrenhadas dificuldades, foi sucessivamente protelado e que a família, renitente, acertou na autorização difícil para ver a luz raiada do dia em jeito de homenagem um ano após a sua morte. Dirigido por uma dupla de realizadores comandados por Sidney Pollack, o filme do evento transparece num colorido bonito onde a patina pura da imagem se torna imediatamente irresistível, fixando-nos tanto no ecrã que quase somos transportados para dentro do recinto - é como se, sentindo as vibrações e até uma certa informalidade do roteiro e argumento, de espectador passássemos a participante numa cerimónia onde à voz e espiritualidade de uma artista intemporal se juntou uma comunidade de cariz religioso mas ultra-dimensional. Que o diga Mick Jagger, um dos tais "participantes" que não perdeu a experiência a três dimensões... A viagem mágica tem repetições agendadas nas próximas semanas. Poderoso!




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