sábado, 16 de abril de 2022

(RE)VISTO #95





















STARDUST - O NASCER DE UMA ESTRELA
 
de Gabriel Range. Canadá, Salon Pictures/Wildling Pictures, 2020 
TVCine Top, Portugal, 10 de Abril de 2022 
O universo mítico de David Bowie, que se cristalizou depois da sua morte em 2016, roda quase sempre na vertente iluminada do seu talento e deslumbre embora, como se sabe, tenha havido um lado oposto de negrura e alucinação fundamentais para a sua carreira artística. Ganhar coragem para realizar um filme fictício sobre parte importante e decisiva dessa faceta é, por si só, um acto arriscado e de cotejo imediato com legados familiares ou profissionais estabelecidos. 

As críticas conhecidas a esta biopic parcial são, por isso, maioritariamente de teor negativo e até de rejeição exacerbada. A narrativa construída assenta na rebuscada primeira digressão a solo do músico pelos Estados Unidos em 1971 depois de discos de insucesso e atitudes incómodas a uma indústria musical já aí colada ao negócio fácil e ao lucro imediato. Fama, esse fito do próprio alimentado por promessas e mentiras, é uma miragem que bordeja toda a película de forma a que o espectador, que sabe como tudo vai culminar, seja infiltrado de uma comiseração indigesta a que algumas das personagens ajudam na levedura de forma evidente. A de Angela Bowie e a do promotor americano são o perfeito exemplo desse mal-entendido e ambiguidade, embora a encarnação do próprio Bowie, longe da perfeição, não se afigure assim tão transviada. 

Sofrível é mesmo o recurso a um intervalar de passado e presente que aporta fantasmas da vida em Inglaterra e a esquizofrenia do irmão Terry, outra das personagens equívocas que deveria ter merecido mais cuidado e acutilância pela importância efectiva na forma como Bowie lidou com demónios e trilhou alter-egos como um extraterrestre Ziggy Stardust. De resto, para que o filme falhe, estão lá todos os condimentos nas doses erradas - as drogas, a importância da crítica e boa imprensa e até da fama suspirada que não dispensou sorrateiramente Andy Warhol ou Lou Reed. Anjo ou diabo, como ele próprio cantou, que venha neste caso o diabo para nos fazer esquecer tamanha sonsice...


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