Ao vivo, a celebração mostrou-se ainda mais válida e intensa muito à custa de uma transposição consistente e limpa com direito, em muitos dos casos, a surpreendentes explicações e histórias que, partilhadas de forma tão próxima, elevaram a sessão a uma espécie de (re)encontro de amigos até ali desconhecidos para se ouvir falar no escuro de "Violence", "Power" ou "Justice", nomes simples de canções confessionais.
Em "Good News", Ella para os amigos, como fez questão de deixar claro, foi introduzindo um dos principais temas do ainda curto reportório de forma a que a plateia, silenciosa e atenta, percebesse parte do seu sofrimento e da terapia encontrada na música para o ultrapassar - proveniente de uma comunidade ostracizada durante séculos no Canadá, o povo Métis criou um língua própria (o Michif) e tradições que passam pela expressão musical a que quer, à sua forma, continuar a dar expressão e brado.
De voz embargada e muito brilho nos olhos, lembrou-nos os milhares de crianças raptadas e mortas da sua comunidade por entidades religiosas católicas, uma tentativa de erradicação ultrajante que teve pedido desculpa por parte do Papa Francisco em recente viagem corajosa mas insuficiente. Como sobrevivente deste drama, as palavras com que começou a canção - "My brother calls me in distress/Looking for another breath" (...) - foram bastante elucidativas.
Para trás houve tempo para duas novas canções ("Teeth" e, sem certeza no título, "All Dogs Go To Heaven") com a ajuda dos amigos do baixo e bateria, parceiros e cúmplices de estradas e viagens que, de forma subtil e calma, complementaram uma sonoridade indie a lembrar, no crescendo da voz e na composição, um saudoso Jeff Buckley. Podia ter sido dele uma das versões finais, mas Ella haveria de nos agarrar a todos num abraço, já sozinha, com um "Up to My Neck in You" dos AC/DC e, no único encore, com um ternurento "Baby Where You Are" de Ted Lucas. Em comunhão...
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