sexta-feira, 11 de novembro de 2022

(RE)VISTO #99





















SHOPLIFTERS OF THE WORLD
 
de Stephan Kijak. EUA; Picadilly Pictures/RLJE Films, 2021 
TV Cine Edition, Portugal, 6 de Novembro de 2022 
Denver, Colorado americano, 1987. A notícia da separação dos The Smiths multiplica desgostos e reações de desalento entre os fãs seguidores das profecias e lirismos que Morrisey então cantava como ninguém. Um deles decide ocupar de madrugada a rádio local, sequestrando o dj metaleiro de serviço para o obrigar a emitir só canções da banda britânica em jeito de homenagem e desafio. O desiderato transforma-se num acto aplaudido e triunfante, período de tempo onde decorrem maioritariamente os diálogos em dois cenários principais - a cabine da rádio e uma animada festa nocturna ao som da tal rádio. Não aconteceu, mas podia ter acontecido, sendo este o argumento resumido do filme com nome parcial de canção dos The Smiths. 

Desde o início, tudo sugere ser uma enorme dedicatória do realizador e da argumentista Lorianne Hall aos de Manchester para o que foram dispensados esforços assinaláveis de reconstituição e contexto - as capas e os discos de vinil, impecáveis e cintilantes a rodar nos gira-discos, os posters e os recortes nas paredes de uma loja de discos ou num quarto de dormir, as vestes indie ou pop anos oitenta, o corte dos cabelos ou uma série surpreendente de curtas imagens a preto branco de Morrissey e companhia em entrevistas, concertos ou vivo ou em clips oficiais. Junta-se o ainda fascinante fundo sonoro de vinte canções icónicas, mais de um terço das cerca de setenta originais que gravaram ao longo de cinco anos para quatro álbuns e mais uns trocos, meticulosamente alinhadas e aproximadas à narrativa. Não poucas vezes, parte das letras são também usadas intencionalmente nos diálogos e de que "heaven knows I'm miserable now", "good times for a change" ou o final "I am the sun I am the air I am human and I need to be loved" são exemplos perfeitos. 

Mas, como em qualquer filme, há um enredo onde quatro amigos se destacam na proeminência das suas desilusões, aspirações e traições, uma intriga imperfeita que, sem ser decepcionante, não revela qualquer laivo de genialidade ou excelência já que os The Smiths nunca deixam ser a centralidade da história, dividida formalmente em partes/lados ao jeito dos discos de vinil e que têm na referida cabine da rádio as partes mais saborosa e nonsense (os Meat Loaf e as alusões ao vegetarianismo) para quem viveu os anos oitenta. Longe de uma simples comédia de domingo à tarde ou de uma enfadonha produção independente, a máxima "se gostas dos Smiths, vais gostar do filme" é, mesmo assim, de difícil previsão. No nosso caso, apesar de tudo, a premissa cumpriu-se.

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