quinta-feira, 28 de abril de 2016
(RE)LIDO #74
CANTORES DE ABRIL
Entrevistas a Cantores e outros Protagonistas do
"Canto de Intervenção"
de Eduardo M. Raposo: Lisboa; Edições Colibri, 2ª ed., 2014
Entre 1997 e 1998 o estudioso Eduardo M. Raposo fez publicar na secção "Retratos" da revista "Vilas e Cidades" um conjunto de vinte e uma entrevistas a alguns dos principais protagonistas do chamado canto de intervenção ou a ele indirectamente ligado, acompanhando a recolha com uma pesquisa nos Arquivos da PIDE que a Torre do Tombo passou a disponibilizar. O estudo permitiu ao autor aprofundar uma temática apaixonante para o próprio mas também para o grande público que se viria a traduzir numa tese de doutoramento posteriormente transformada no livro "Canto de Intervenção 1960-1974" (esgotado, reimpresso pelo jornal "Público" em 2005 em versão aumentada). Quanto a esta colectânea de testemunhos orais há, obviamente, um manancial de informação diverso e abrangente que se relaciona com o nível de participação que os próprios tiveram num movimento expontâneo de contestação social e política mas, sobretudo, medindo o nível de expressão desse contributo de forma quase sempre modesta. Começando em Adriano Correia de Oliveira e terminando em Zeca Afonso, um elogio merecido e não coevo que paira em todo o livro - "O Zeca Afonso é o meu herói" confessa sem contemplações Sérgio Godinho (pág. 234) - algumas das recolhas acabam por ser surpreendentes quer pelo valor e riqueza da sua acção (de que os casos de Luís Cília ou Manuel Alegre são paradigmáticos) quer pelo oportunismo em falar sobre o "assunto" de alguns personagens inusitados (p.ex. Fialho Gouveia, o jornalista Eugénio Alves ou Mário Vieira de Carvalho). A importância da música e das canções no despertar de uma nova e arriscada consciência política é assim um caso de estudo, académico ou não, que tem neste documento de consulta obrigatória um ponto de partida fundamental para entender um período decisivo de Portugal a que Manuel Alegre alude de forma lapidar no prefácio: "Contra a censura, contra a Pide, contra repressão, contra a guerra, não tínhamos outras armas: tínhamos a poesia, a canção, a guitarra. E foram elas que, de certo modo, na madrugada de 25 de Abril, floriram também nas armas libertadoras" (p.20)
Nota: o excelente documentário de Joaquim Vieira "A Cantiga Era Uma Arma" emitido pela RTP e já referido por aqui tem agora uma imperdível edição em DVD através do jornal "Público".
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