segunda-feira, 25 de abril de 2016
SINGLES #39
AMÁLIA RODRIGUES - Grândola Vila Morena|/Alecrim
Portugal: Columbia/Valentim de Carvalho, 8E 006 40332 G, 1974
A revolução portuguesa trouxe consigo uma caótica situação em que o impasse político quanto ao caminho a trilhar pelo país conduziu a muitas indefinições e "vira-casaquismo". Na música, o chamado canto de intervenção ganhou lugar de destaque passando o fado a estar imediatamente associado à ditadura e, por isso mesmo, alguns artistas e fadistas viveram um ostracismo só muito mais tarde parcialmente abandonado. Porém, Amália Rodrigues, a cantora do regime antigo, logo em 1974 entra sem contemplações na "corrente" gravando a canção-senha "Grândola Vila Morena" de José Afonso, por sinal uma versão notável, mesmo escondida numa capa do single de fotografia alentejana da autoria de Augusto Cabrita, contrariando o hábito de ver uma imagem sua como em quase todos os singles que até aí tinha editado. Ou seja, medindo bem as eventuais reacções negativas que aconteceram de ambos os lados da "contenda" - os amigos que a criticaram pelo "esquerdismo", os opositores que a acusaram de "oportunismo - o pequeno disco quase passou despercebido entre tantos outros que nessa época inundaram as rádios e as lojas. O encontro, o único, entre Amália e José Afonso viria a acontecer passados dez anos como conta o jornalista Eugénio Alves na segunda edição do livro "Cantores de Abril" de Eduardo M. Raposo (pág. 53) e que pode ser relido por aqui. Já antes Amália Rodrigues tinha gravado "Natal dos Simples", um outro original do mesmo Zeca Afonso e até "Trova do Vento Que Passa", o irreverente hino académico da autoria de Adriano Correia de Oliveira e Manuel Alegre, havendo outros exemplos de "adaptação" aos novos tempos como "Meu Amor É Marinheiro" onde a letra e a capa não deixam dúvidas quanto ao assumir da nova realidade. Voltando a "Grândola Vila Morena" na voz de Amália, com arranjos e direcção de orquestra de Joaquim Luís Gomes, foi considerada uma das dez melhores versões do tema pelo site "Arte Sonora", mas ela devia ser, sem subtilezas, a número um!
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