sábado, 11 de junho de 2016

CASS MCCOMBS+DESTROYER+BRIAN WILSON+SAVAGES+PJ HARVEY+PROTOMARTYR+TORTOISE+BEACH HOUSE+ROOSEVELT, Primavera Sound, Parque da Cidade, Porto, 10 de Junho de 2016















Cass McCombs escolheu seis canções para nos lançar um feitiço mesmo que o efeito tenha durado apenas quarenta e cinco bons minutos. Torneando cada tema com uma mestria adorável, foi logo com "Opposite House", esse novo cartão de visita de um álbum prestes a sair, que uma onda gigante de prazer começou a levantar-se para rebentar em "Morning Star" e espalhar-se adequadamente com "County Line", esta última requisitada por alguém da plateia quase em desespero... Já fechamos os olhos ao ouvi-la na escuridão do teatro Sá da Bandeira ou na penumbra da Casa das Artes de Famalicão, mas ali na imensidão do parque, em tarde soalheira, o vento suave como que a estacou para todo o sempre na nossa vida. Memorável, woha, woha, woha, woha, woha!            





Com um pequeno intervalo de cinco minutos, há momentos ao vivo que parecem daquelas listas de iPod parafinadas a custo. Ouvir Dan Bejar como que "trazido" pelo destino começar a cantar "You can't believe/The way the wind's talking to the sea" desse monumento/canção que é "Chinatown", sugeriu-nos uma agradável levitação momentânea apropriada ao momento. Os Destroyer foram enormes como seria de esperar de uma banda que tem tanto de fascinante como de preciso, um registo que Bejar mareou magistralmente entre golos de cerveja e wiskey (!) enquanto desfilava temas de "Kaputt", álbum antigo mas imprescindível. A viagem culminaria com "Bay Of Pigs" em versão longa e onde uns pozinhos de beat embalaram ainda mais a plateia.



Foram precisos dez anos para que a promessa fosse cumprida. A edição de 2006 de Vilar de Mouros anunciava Brian Wilson como cabeça de cartaz, mas o festival começou então a derrapar sem remédio, sem destino... e sem retorno. Então, valeu a pena a longa espera? A resposta imediata é afirmativa mas sem que sejam necessárias euforias inapropriadas ou desmesuradas, respeitando a condição do próprio Wilson mas, acima de tudo, o legado incomensurável da sua música. Foi bom vê-lo e ouvi-lo à luz do dia, com o sol a bater e a brisa a pairar rodeado talvez pelo mais habilitado e experimentado grupo de músicos da actualidade, uma verdadeira parada de estrelas que cobriu as canções de "Pet Sounds" e todos os outros clássicos com uma patine sonora perfeita e irrepreensível. Diversão pura, ou seja, o melhor que os Beach Boys de Brian Wilson sempre procuraram e conseguiram oferecer-nos carinhosamente. Fun, fun, fun!    













O regresso das Savages ao "local do crime" ao fim de três anos, saltando na dimensão do cenário, estava como que pré-anunciado. Desde essa data, envoltas por uma aura às vezes exagerada, a banda tem crescido com juízo e tino, gerindo da melhor forma gravações, discos e imagem sem desgastes desnecessários. Sendo assim, o concerto foi, mesmo para repetentes como nós, um achado de intensidade e destreza que cresce sem adubos ou fertilizantes e que culminaria sempre, já o sabíamos, em "Fuckers", dez minutos negros de radiação sonora que se pegam à pele sem contemplações. O berço original de tamanho "fruto" foi este festival, este local e esta cidade como fez questão de frisar, e muito bem, Jehnny Beth, um tributo que agradecemos e retribuímos orgulhosamente. Grande concerto!





Não há nem deve haver uma faceta preferida de PJ Harvey. A solo, em duo, em trio ou em full band, com ou sem sem viola, com ou sem saxofone, o nível de medição obrigará sempre à requisição de uma fasquia bem alta pois a prestação a isso certamente vai obrigar (ok, vá lá, a passagem pelo Sudoeste em 1998 não deve entrar neste campeonato). A de ontem, mais uma vez, confirmou a sua enorme capacidade de mutação circunstancial em que os tempos conturbados que vivemos quase a condenam a escrever fabulosas canções (p.ex. "Dollar, dollar" ou "The Ministry of Social Affairs") rodeada dos cúmplices de sempre e que a ajudam, e de que maneira, a brilhar - Mick Harvey e John Parish só para citar os mais influentes. Talvez os muitos que abarrotaram o espaço do Parque da Cidade estivessem à espera de um desfile "Best Of" mas ainda bem que Polly Jean apostou em fazer-nos gostar ainda mais do último disco e da sua pertinência e em que o passado apetitoso escrupulosamente seleccionado deu ao espectáculo um cunho circular inteligentemente preparado - aquele "50 Foot Queenie" vintage (vinte e três anos!) soube mesmo bem. Sóbrio, sem mácula, sem truques escondidos, esta foi das melhores PJ's a que já tivemos a felicidade de presenciar, tendo a sensação que muito de bom está ainda para vir, tal como se deve esperar de um talento deste calibre. Chapeau!











A primeira incursão ao palco Pitchfork, agora situado mais perto da entrada do recinto, valeu bem a pena. Os norte-americanos Prototomartyr agitavam já a tenda quando lá chegamos com a intenção de simplesmente sentir o ambiente mas acabamos por nos quedar por lá até ao fim. Às semelhanças do vocalista com um jovem David Thomas dos Pere Ubu junta-se o próprio som também ele a beber na fonte de duas bicas situada entre os próprios Pere Ubu e uns Wire. Nada de novo, mas com a dose certa de cola!  



Embora fugaz, a primeira desilusão deste ano acabou por caber aos Tortoise. O espaço abençoado do agora Palco. (ponto, deve ser patrocinado pela CMPorto. ponto) estava bem composto para os receber, mas uns irritantes e desafortunados problemas técnicos - ora era o cabo que não estava ligado, ora era a bateria roufenha, ora era um pinchavelho desapertado - deram ao concerto uma ondulação inconsistente que lhe retirou intensidade. Nos momentos em que a banda conseguiu, sem acidentes, manter a tarimba, confirmou-se a destreza e a capacidade de surpreender pela mistura de géneros, recursos e estilos que fizeram escola e carregaram a fama do colectivo. Ficamos à espera de uma melhor oportunidade para o confirmar em definitivo.        



Descendo a colina, reparando na imensidão de gente em sentido contrário que virava costas aos Beach House no palco principal, só podia ser mau sinal. Furando entre a multidão, lá nos chegamos um pouco à frente para os momentos finais. Victoria Legrand falava em "joints" e tal - não percebemos se era sarcasmo ou humor negro - mas só a muito custo conseguimos avistar onde raio paravam os músicos atendendo à escuridão do palco a longa distância. Talvez a banda "lunática" que tanto evitou chegar a esta situação - palco grande, plateia grande, expectativa grande - se tenha deslumbrado pelo convite e a experiência não tenha resultado da melhor forma. Talvez, mas pelo ambiente e reacções de insatisfação, será melhor não fomentar tamanha incerteza.





De volta ao Pitchfork, tempo para um fim-de-noite a cargo de uns tais Roosevelt que conseguiram a proeza de encher a tenda com um público mais que pronto para a dança, agitação que se notava duraria enquanto a banda muito bem quisesse. Para nós a festa durou quinze minutos, mas pelo que nos chegou aos ouvidos a onda prolongou-se noite dentro...    



1 comentário:

Josi disse...

Gracias!~
Estuvo genial!