domingo, 12 de junho de 2016

CATE LE BON+NEIL MICHAEL HAGERTY+ALGIERS+CHAIRLIFT+CAR SEAT HEADREST+DRIVE LIKE JEHU+TITUS ANDRONICUS+A.R. KANE+TY SEGALL AND THE MUGGERS, Primavera Sound, Parque da Cidade, Porto, 11 de Junho de 2016















Dia de calor perfeito para praia mesmo ali ao lado, o último dia do festival era também perfeito para a estreia da galesa Cate Le Bon. A contratação de última hora teve como destino o antigo palco ATP, um paraíso entre arvoredo ideal para a apresentação do disco deste ano "Crab City". Sintomático que às não mais de cinquenta pessoas que ali se encontravam no início se tenham juntado muito mais que, agradados pela música, não arredaram pé até fim. Tímida, misteriosa, bonita, Le Bon e a sua banda não perderam muito tempo com pormenores e aproveitaram ao máximo a oportunidade para apresentar dez canções em quarenta minutos, uma (já) notável colectânea de estilo próprio de arbitrariedade pop que tem muito para onde crescer. Uma semi-surpresa excelente!
      






Às voltas pelo parque, medindo os horários e respectivos alinhamentos, acabamos por voltar ao tal palco . para o primeiro "ovni sonoro" do dia. Não chegamos a perceber se Neil Michael Hagerty & the Howling Hex é uma experiência testada, se não precisa de testes ou se "vale tudo". Primeiro estranha-se, o problema é que não se entranha mesmo que alguém tenha fartado de gritar "viva a droga"...



Sobre os Algiers: tivemos pena de não conseguir medir na totalidade a sua força. Esta sensação de impotência talvez seja nostra-culpa mas quando o concerto parecia ter ganho "asas" num jeito cativante de soul-power a banda despediu-se depois da canção mais antiga e marcante de nome "Blood". Talvez um caso, mais um, de hora errada/palco errado...  





Os Chairlifit, de fininho, já por cá andam a fazer música desde 2008 mas mesmo assim parecem uns jovens fresquinhos entusiasmados com um primeiro disco ou um primeiro concerto. Saltitantes de contentamento, a felicidade expressa contagiou a plateia enquanto o sol descaía muito por culpa de um alinhamento que apostou nos temas mais esperados, principalmente um "Anamaemonesia" cantado em coro. Fora do baralho, surpreendente mesmo, foi a versão de "Song To The Siren" de Tim Buckley que ainda continuámos por decidir se se tratou de um sacrilégio ou simplesmente um risco desassombrado...      





Para que os Car Seat Headrest passassem despercebidos era preciso não haver Internet. Fenómeno partilhado, comentado e, essencialmente, ouvido a sério, o projecto do miúdo Will Toledo teve a recompensa merecida perante uma plateia intensa, ansiosa e conhecedora que agarrou o concerto com unhas e dentes do princípio ao fim perante quatro jovens perfeitamente surpreendidos. Mas para tamanho êxito a explicação é simples - as canções são excelentes, a sua execução foi feita com garra e mestria e a nós, do lado de cá, só nos restou agradecer e desfrutar o momento que de imediato se tornou inesquecível. Escusado será adivinhar que irão regressar... à primeira oportunidade!



Mantendo a aposta no rock, subindo ao palco ., subimos também na "dureza" e na idade: os americanos Drive Like Jehu que, ao fim de muito tempo, decidiram regressar para fazer vincar a validade do seu punk-core, tiveram recepção de braços abertos. Tudo "isto" tem quase vinte cinco anos e, sendo assim, não há nada que enganar quanto ao teor da grandeza do enxerto desta casta a merecer fortes aplausos. Alguém, entre canções, chegou mesmo a pedir "Louder"!



Já que estávamos na "onda", os vinte minutos que dispensamos aos Titus Andronicus na tenda Pitchfork foram como uma continuação saborosa de "festa rock" que o último dia no Parque da Cidade acabaria por nos proporcionar. Mesmo já com mais de vinte concertos nas pernas em três dias, como resistir a mais este "chamamento"?



Quanto ao segundo "ovni sonoro" do dia identificado afinal como A.R. Kane e que mesmo assim atraiu, notava-se, adeptos de longa cepa, só haverá uma palavra certa para a curta prestação - desilusão. O duo mítico dos anos oitenta que fez do pop-negro uma receita influente e até inovadora, pareceu-nos amorfo e em modo "frete", atitude que julgávamos estar já banida de eventos deste calibre e tradição. Dispensável.



Para quem esteve com Ty Segall no fim-de-noite do último dia do Primavera de 2014, não havia nada que enganar - não falhar por nada o sempre puto no mesmo local e hora só que desta vez na companhia de uns tais Muggers, uma banda onde Michel Cronin continua a ser o "maestro" e que sofreu um upgrade instrumental de se tirar o chapéu. Mas Segall, que perante tão excelente background deixou a guitarra totalmente de lado, surgiu mais "atinado", controlando-se e controlando a "velocidade" do garage rock sem que, contudo, a multidão tenha pedido licença para levantar pó e confusão. Não faltou, por isso, agitação, crowdsurf e aquele arrepio colectivo de intensidade que uma versão magistral de "L.A. Woman" haveria de provocar mesmo no fim. Ao jeito dos Shellac, que tem lugar cativo em todas as edições do festival, seria pedir muito que Ty Segall passe também a ser obrigatório?

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