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foto. facebook do festival |
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Ele há dias de manhã que, afinal, se pode sair à noite... Que o diga a catalã
Núria Graham que, viajando directamente de Montreal, saiu do aeroporto no final da viagem de mãos vazias e sem as malas com o guarda-roupa e a guitarra essenciais para atacar o palco bracarense convenientemente. Nada que o afamado desenrascanço lusitano não consiga ultrapassar e, mesmo com guitarra emprestada e fatiota informal, a aparição de fundo aveludado serviu para desfiar um punhado de temas a solo de alto teor aditivo, uma receita que alguns tinham já saboreado num fim de tarde soalheiro do parque da
cidade. A poção, pareceu-nos, funcionou ainda melhor desta vez, uma aprovação notada por entre uma plateia que imediatamente lhe prestou desvelo carinhoso quanto às canções e ao que as envolve. Trata-se de uma patine pop de recortado talento a lembrar, como fez notar um amigo destas e de outras lides, a misteriosa Erin Morian
aka A Girl Called Eddy, bastando para isso nomear dois fabulosos exemplos - "Birds Hits Its Head Against the Wall" que abriu o recital e "The Stable", um inédito sensacional vertido em emo-canção com que encerrou a presença segura, simpática e bonita e a merecer todas as palmas com que foi merecidamente brindada.
Molt bé!
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Depois do agradável banho primaveril de Junho
passado, um mergulho notável e corajoso de
Nils Frahm atendendo às condicionantes e contingências, chegava o momento certo para fazer emergir de forma exemplar um explorador sonoro de excelência. Para trás, lá muito para trás, fica simplesmente o pianista que Braga teve a felicidade de descobrir ao lado de Heather Woods Broderick numa noite
longínqua de talentosa partilha, embora o piano continue a ser o ponto de partida obrigatório de um labirinto de sons que quase sempre arriscam a não classificação mas que podemos rotular,
helás, de pós-classicismo ambiental. Sinal espelhado dessa diversidade de aventuras e caminhos é o disco deste ano "All Melody", enorme e intrincado repositório de provas analógicas que assusta os mais incautos mas alcança cada vez mais adeptos atraídos pelos meandros dos sons, dos arpejos ou das batidas em tempos instantâneos onde um simples telemóvel se pode transformar num potencial instrumento de composição. Frahm, pelo contrário, continua interessado no velhinho bater das teclas, nos barulhos das madeiras, no manobrar manual dos botões do volume, dos efeitos, das repetições nem que para isso tenha que correr de teclado em teclado, de aparelho em aparelho até que um
climax suado e ofegante o faço regressar simplesmente a um piano para momentos de eterna beleza. Os sorrisos de satisfação com que se dirigiu à plateia rendida ao cabo de duas horas e dez minutos de récita, limpando a cara do suor como que saído de uma nave espacial no final de uma descida rompante pela atmosfera, são a prova que Frahm é, afinal, um ser humano mas que viaja irrequieto e para nossa sorte, de planeta em planeta imaginários. Um galáctico é o que é...
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