quinta-feira, 29 de novembro de 2018

(RE)VISTO #71





















RYUICHI SAKAMOTO: async  
At the Park Avenue Armory
de Stephen Nomura Schible, Boderland Media, 2018
Festival Porto/Post/Doc, Passos Manuel, 27 de Novembro de 2018
Passaram mais de vinte anos mas nunca mais esquecemos. Ryuichi Sakamoto em formato trio enchia o Coliseu do Porto no dia 13 de Julho de 1996, uma tournée mundial ainda hoje memorável que o levou a quinze países e quase quarenta espectáculos com direito a CD/DVD posterior, hoje uma raridade difícil de encontrar mas disponível virtualmente... Sobre essa passagem pelo Porto e nos diários que então escreveu, confessou elogios à sala, ao público e suspirou aqui voltar para lá registar um qualquer andamento ou peça certamente tocantes. Mesmo que ainda não tenha sido possível cumprir a promessa e no âmbito do jovem festival portuense, um documento recentemente registado durante uma perfomance nova-iorquina atraiu ali ao lado, ao Passos Manuel, uma boa plateia interessada em experimentar e absorver do seu talento e espírito. O disco "async" do ano passado é uma obra prima e uma elegia à musica sem tempo nem lugar mesmo que inicialmente pensado para uma banda sonora de um filme imaginário de Tarkovsky mas é também um manifesto de coragem quanto à luta contra a doença e o declínio artístico. O filme que estreou no Festival de Berlin confirma a abnegação mas também a beleza dos temas, das experiências e dos ambientes como que cobertos por um género de céu projectado no tecto da sala onde passam texturas a preto e branco que sinalizam muito do que (não) vemos quando fechamos os olhos para abrir a porta simplesmente à audição e à imaginação. Um filme belo que nos fragiliza maravilhosamente na sua pureza e eternidade e que, tal como aconteceu no final desta sessão certeira, não precisa de palmas ou ovações mas simplesmente de gratidão.    



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