terça-feira, 31 de janeiro de 2023

DAVID SYLVIAN, PRECIOSIDADES!















A vida de David Sylvian continua, por estes dias, uma misteriosa jornada afastada da ribalta e que a chegada de uma doença, assumida em 2012, estreitou na visibilidade e mediatismo. 

A rara entrevista, melhor, as histórias que contou em nome próprio em Outubro passado no programa de Mary Ann Hobbs da BBC Radio6 são, por isso, uma pequena janela aberta sobre alguma da escuridão dos seus dias pela América concentrada na faceta artística - a fundação de uma editora, a contínua propensão pela composição, as tournées antigas, as novas tendências ou as colaborações são narradas de forma seleccionada e tão motivacional que merecem audição obrigatória para um qualquer dos muitos fãs da sua milagrosa música. 

Não virando costas nunca às canções, Sylvian vai, aos poucos, colocando novidades ou autorizando reedições que é preciso percorrer em várias plataformas e que requerem atenção e paciência. Seguem-se algumas dessas preciosidades...

 

Os discos "Manafon" (2009) e "Blemish" (2003) foram repostos em versões de vinil melhoradas por Tony Cousins no Metroplis Studios de Londres e encontram-se, três meses depois, praticamente esgotadas, o mesmo tendo acontecido à reedição da compilação "Sleepwalkers" (2010) que a Groenland publicou recentemente

Nesta última, cabe um par de inéditos - "Modern Interiors" e "Do You Know me Now?", tema que recebeu video a cargo de Yuka Fujii, parceiro noutros projectos conceptuais, e que será também o título de uma nova caixa em CD que a sua editora Samadhisound publicará em parceria com a Universal no final do corrente ano com design do habitual colaborador Chris Bigg.


Durante a digressão "Slow Fire" de 1995, Sylvian escreveu o tema "I Do Nothing" que chegou a tocar em algumas das noites de concertos. Propôs-se melhorá-la, arranjada, para o disco "Dead Bees on a Cake" (1999) mas o inédito acabou perdido num computador avariado até que foi encontrado numa cassete pelo referido Yuka Fujii. O achado, captado ao vivo, mereceu alguns retoques e está, desde o início do mês, oficialmente disponível via Soundcloud.
 

Outra maravilha indispensável é "Grains (Sweet Paulownia Wood)", versão incluída no disco, já por aqui recomendado, de homenagem ao amigo Ryuichi Sakamoto saído em Dezembro e que por si só vale o tributo. Do álbum faz ainda parte uma variação electrónica de "Forbidden Colors", outro original de Sylvian ao lado de Sakamato (1983), a cargo de Gabriel Wek.   
   

HERMANOS GUTIÉRREZ DE SECRETÁRIA!

segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

RHYE, NOVOS RELAXANTES!





















Depois do álbum "Home" e da respectiva digressão que passou pelo Hard Club em Junho, Mike Milosh aka Rhye regressou ao conforto do lar e azáfama do estúdio para a composição de um novo EP a sair em Março pela Secular Sabbath Records. De "Passing" conhece-se "A Quiet Voice", uma das variedades da nova categoria de relaxantes sonhadores... Atenção, pode provocar dependência!

domingo, 29 de janeiro de 2023

TOM VERLAINE (1949-2023)















A influência na música rock do álbum "Marquee Moon", que os Television gravaram em 1977, não é um daqueles chavões historiográficos que fica bem como referência. Ele é mesmo, ainda hoje, um brilhante manual de composição vinda do talento de Tom Verlaine a que se junta um assinalável virtuosismo da guitarra que arejou o punk e a new wave de forma eficaz. 

Bem o sentimos, décadas depois, quando os Television arrastaram uma multidão até prado de Serralves para uma noite de encanto e, no nosso caso, na espera que de uma das nossas perdições não faltasse na cerimónia - como viria a acontecer e entre tantas outras, "Venus", uma das canções perfeitas até hoje editadas, mantinha toda a sua capacidade de sedução... Basta ouvi-la, mais uma vez, para confirmar a sua eternidade. Tom Verlaine deixou-nos ontem aos 73 anos. Peace!     

quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

MATT ELLIOTT: UM ÁLBUM E TRÊS CONCERTOS!





















Na crónica que fizemos da última passagem de Matt Elliott pela Póvoa de Varzim apostávamos, às claras, que o seu regresso aconteceria naturalmente em 2023. Confirmados, assim, estão três apresentações ao vivo marcadas para Coimbra (Salão Brazil, 30 de Março), Setúbal (Cinema Charlot, 31 de Março) e Porto (M.Ou.Co., 1 de Abril) que servirão, surpresa, para divulgar novos temas de um álbum a sair precisamente por esses dias na habitual Ici D'Ailleurs com sede em Nancy, França. 

Em "The End of Days", o nono trabalho a solo, confirma-se uma nuance assumida da composição onde o saxofone ganha uma notoriedade meticulosa e madura, insistência que constituiu uma das novidades do referido concerto poveiro, e que se pode ouvir, vagaroso, em "January's Song", o primeiro dos seis novos lamentos. Mesmo assim, é a sua voz que continua a notar-se forte, bonita e sempre misteriosa... 

JOSÉ GONZÁLEZ, TERCEIRA (RE)VISÃO!

A partir do magnífico "Local Valley" editado em 2021 e que teve apresentação ao vivo na Casa da Música em Fevereiro passado, José González têm promovido uma série de remisturas ou versões de temas aí incluídos. Foi o caso de "El Invento" e "Swing" e que deram origem a EP's especiais onde se incluíram colaborações, entre outros, de Roosevelt, Salouman ou Sofia Kourtesis. Chega agora um terceiro. 

Para a canção "Visions" foram pedidas reinvenções a cargo da colombiana Ela Minus e apostas mais electrónicas da responsabilidade de Flanger ou Dungen. Gonzalez tem novas datas para concertos já a partir do final do mês, destacando-se duas noites no Barbican de Londres agendados para Junho (9 e 10) como comemoração do vigésimo aniversário de "Veneer", disco editado em 2003. Tchhh....



KEVIN MORBY, CONCERTO E CANÇÃO!

















Reclamamos em Setembro último os três anos sobre a ausência de um concerto de Kevin Morby. A espera tem agora data de término - 6 de Julho próximo, quinta-feira, o Hard Club servirá de local certo para uma apresentação suspirada de despedida da digressão europeia que se iniciará um mês antes em Malmo na Suécia. Antes, dia 5 de Julho, será a vez de Lisboa (LAV-Lisboa Ao Vivo). 

Entretanto, o músico texano compôs a totalidade da banda sonora do filme "Montana Story" com a ajuda do contra-baixista Rob Barbato, película estreada nos E.U.A. em Maio e que passará a dispor da respectiva edição em vinil muito em breve. Dela faz parte "Like A Flower", canção inédita usada no final do enredo e que soa assim...


quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

STEVE GUNN & DAVID MOORE, REFLEXÕES!





















Para Steve Gunn e na sua própria confissão, o pianista David Moore aka Bing & Ruth é um do seus músicos favoritos, tendo sido um dos cinco eleitos para reinterpretar um dos originais do seu álbum "Other You" de 2021 e que o ano passado respousaram no EP excelente "Nakama". Coincidêndia, coube a Moore a tarefa de reinventar "Reflection". 

Os dois surgem agora reunidos num projecto mais alargado que recebeu o título de "Reflections Vol. 1: Let the Moon Be a Planet", uma parceria que deu fruto em oito temas instrumentais que serão editados pela RVNG Internacional de Brooklyn no final de Março. Este primeiro volume de colaborações ditas contemporâneas teve a cidade de Nova Iorque e as cercanias do rio Hudson como ponto de encontro presencial e finalizador de múltiplas e anteriores sessões remotas. 

Pelo que se pode ouvir em "Over the Dune", a primeira reflexão sonora a revelar-se, a harmonia obtida entre uma guitarra clássica e um piano alcançam deslumbrante beleza! 

MARINA HERLOP, PRIMEIRO ESTRANHA-SE...

e depois o disco "Prypiat" de 2022 da catalã Marina Herlop lá se vai entranhando na densidade da sua composição vanguardista a que se sobrepõe um uso da voz orgânica e quase religiosa, intrincada por palavras ou frases indecifráveis. É preciso, por isso, dar-lhe amplitude, volume e audições atentas que se revelam momentos de uma espiritualidade enriquecedora que a subtileza da electrónica e dos loops multiplicam no mistério. 

Perdemos várias oportunidades para um baptismo purificador ao vivo já que Herlop já compareceu no Festival Para Gente Sentada de 2021 em Braga, voltou ao Minho para o MuchoFlow em Novembro passado e visitou o "aquário" da ZDB da capital em Dezembro último. Promete enfeitiçar os Açores quando em Março próximo por lá aterrar no Tremor e pode ser que se aproxime a uma sala por perto. Prometemos não falhar. 

Entretanto, o sempre louvável Arte disponibilizou quinze minutos da sua recente passagem em estreia pelo Eurosonic que decorreu, mais uma vez, em Groningen nos Países Baixos na semana passada. Encantatório!

segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

ARLO PARKS, SEGUNDO ÁLBUM!





















O segundo álbum de Arlo Parks chega só no final de Maio pela Transgressive Records e recebeu o nome de "My Soft Machine". Os doze novos temas são uma confessada jornada pela vida pessoal de uma artista nos seus vinte anos e a ansiedade que, quase sempre, se associa a essa idade de incertezas, de experiências, de exageros e descobertas que cabem numa "soft machine" que é o corpo e mente humanas. Um das canções, "Pegasus", conta com a colaboração de Phoebe Bridgers e o primeiro single "Weightless" tem video dirigido pelo canadiano Marc Oller. 

Antes de Paredes de Coura em Agosto passado, Parks esteve em digressão pela Austrália onde gravou uma versão de "Good Guy" de Julia Jacklin para o clássica sessão "Like a Version" da rádio Triple J. Surpreendente! Arlo Parks estará no Parque da Cidade no segundo dia do Primavera Sound, quinta-feira, 8 de Junho.


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sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

(RE)LIDO #111





















EU ESTIVE LÁ! 
Bilhetes de Concertos em Portugal 
coord. de Henrique Amaro. Lisboa; Tinta da China, 2022
Ir a um concerto de rock, jazz ou música popular e guardar o bilhete talvez seja hoje uma mania incompreendida por gerações digitais absortas no efémero e distraídas na memória. Desde os anos oitenta, não fomos os únicos a fazê-lo já que a esses pedaços de papel, onde se reproduzia a imagem da banda, do artista ou da capa de um álbum, se impregnavam deslumbres antigos de viagens, de amizades, de canções, de flirts ocasionais ou até de encontros inesperados. Muitos fizeram deles marcadores de livros, tesouros involuntários em gavetas de velharias ou um montinho em jeito de cromos agarrados por um elástico de borracha derretida. No nosso caso e ao fim de muitos anos de desprezo, demo-nos ao trabalho de os colar cronologicamente em quatro molduras tipo poster decorativo, passando depois a metê-los em álbuns de fotografias. Agora vendem-se arquivos preparados para o efeito com direito a espaço para verter memórias e tecer comentários imediatos!

Em boa hora, contudo, alguém se lembrou de fazer um inusitado livro com a reprodução desses bilhetes portugueses desde os anos sessenta do século passado até aos anos dois mil, uma tarefa coordenada por Henrique Amaro com a colaboração de cinco dezenas de "amontoadores" ocasionais mas preciosos. Cada década ou período foi separado por um texto a cargo de aficionados militantes onde se contam histórias, se recordam companhias, se revelam segredos ou se descrevem acidentes e obstáculos - Luís Pinheiro de Almeida (60/70), Ana Cristina Ferrão (80), Pedro Fradique (90) e Isilda Sanches (00) foram os escolhidos para o efeito mas todos fazem questão de enfatizar a inquietude prévia à aquisição do milagroso pedacinho de papel e a felicidade resultante da sua obtenção. Mesmo hoje, essa satisfação continua a fazer-nos sorrir nem que seja por uma simples confirmação de multibanco ou plataforma online. Difícil de explicar mas, certamente, comum a muitos dos que compraram e fizeram o livro, um repositório visual e documental tratado com simplicidade e bom gosto. Mesmo assim, temos alguma reclamações.

Se muitos dos bilhetes no seu desenho se aproximam da versão que conhecíamos e onde só muda o local portuense - há, obviamente, uma concentração de entradas para concertos de espaços e salas de Lisboa - reparamos na preocupação em não repetir em demasia artistas ou bandas, um critério que deveria ter sido alargado a outros talvez mais importantes como a estreia em salas portuguesas ou concertos que deram origem a discos ao vivo. Aqui fica uma lista de reparos/inexistências só para chatear:
. o Charles Aznavour no Monumental lisboeta em 1966;  
. o Rui Veloso no Coliseu do Porto em Junho de 1987 que deu origem ao álbum ao vivo de 1988;
. os Madredeus em estreia mundial a 20 de Novembro de 1987 no Carlos Alberto;
. o Philip Glass no Coliseu do Porto em Maio de 1992; 
. o Sir George Martin no mesmo local em 1995;
. a Bjork no Coliseu de Lisboa em Junho de 1995 e não em Junho de 2000;
. o Neil Young em Vilar de Mouros em 2007;
. os White Stripes no Oeiras Alive de 2007;
. os ZZ Top no Queimódromo do Porto em 2008;
. a Judy Collins em Famalicão em 2009 (afinal não foi a estreia como nos venderam já que a senhora já cá tinha estado em 1983).

Mais a sério, gostaríamos que à qualidade da edição tivessem sido acrescentados índices de locais, artistas, bandas ou autores/designers (na página 97, o desenho daqueles bonitos bilhetes do festival Artlantico na Costa da Caparica em 1987 é do Jorge Colombo?), uma lacuna que um estudo de âmbito mais científico ou monográfico reclama mas que também seria de manifesta utilidade num projecto informal e cronológico como este. Nada que retire mérito, lhaneza e validade ao notável conjunto duplicado, uma espécie de prova de vida, como notado num dos testemunhos de contexto, e que constitui um verdadeiro free pass carimbado para múltiplas e incontáveis viagens no tempo e espaço... Ficamos, por isso, à espera do segundo volume.

RICKIE LEE JONES, TESOURO AOS PEDAÇOS!





















O hábito de se espraiar por composições alheias é tradição que Rickie Lee Jones não dispensa desde sempre. Recordam-se as nomeações para prémios Grammy com "Autumn Leaves" em 1989 ou com o clássico "Makin' Whoppe" no ano seguinte ao lado de Dr. John, o anterior (1983) álbum "Girl at Her Volcano" ou "Pop, Pop" de 1991, ambos com uma carrada de excelentes versões a que se acrescentou o mais recente "Kicks" de 2019. Em Abril próximo chegará "Pieces of Treasure", um inesperado e inédito trabalho dedicado ao chamado "American Songbook" com selo da BMG Modern Recordings

O disco foi registado em cinco dias no Sear Sound de Manhattan com o suporte de um quarteto de jazz com Rob Mounsy no piano, Russell Malone na guitarra, David Wong no baixo e Mark McLean na bateria, numa produção partilhada com Russ Titelman, amigo de longa data e responsável pelo seu segundo álbum "Pirates" de 1981. O disco terá apresentação integral no Birdland Jazz Club de Nova Iorque em três noites do mesmo mês

Para ouvir, então, pedacinhos originais de George Gershwin ("They Can’t Take That Away from Me"), de Kurt Weill ("September Song"), de Jimmy Van Heusen ("All the Way") ou este "Just In Time" de Jule Styne que abre o álbum e agora se dá a conhecer. 

HIBOU, SÁBIA CORUJA!

Os Hibou são um projecto de Peter Michael, músico de Seattle multiplicador de uma sonoridade dream-pop onde a propensão das guitarras têm impressiva e ensolarada nostalgia, um deleite sábio que os Wild Nothing de Jack Tatum e os Beach Fossils de Dustin Payseur repetem na semelhança da receita cativante. No seu dia a dia, o esforço de Michael em distanciar-se de uma condição de saúde muito perto da despersonalização, desordem dissociativa que acelera rupturas com a realidade e personalidade, têm na música uma terapia de aparente tratamento e eficácia. 

No final do ano foi editado "Arc", mais um excelente EP, um dos muitos que têm gravado desde 2013 e que se segue a uma estreia com outro projecto paralelo chamado Éclo de teor mais pop e experimental cantado em francês e registado parcialmente em Paris. Talvez sejam dessa altura, primavera de 2022, as fotografias que orgulhosamente publicou com o Palácio da Pena sintrense como paisagem de fundo. Ele anda(ou) por aí... como as corujas!
 

quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

TINY RUINS, FASCINANTE!

Continua fascinante o mundo sonnoro de Hollie Fullbrook aka Tiny Ruins, jovem neozelandesa que nos faz tremer de cada vez que grava discos ou canções - a nova "The Crab / Waterbay" é mais um exemplo de beleza extraído de um quotidiano pelas enseadas do rio Little Muddy Creek situado na região de Auckland, na Ilha Norte da Nova Zelândia. 

Um caranguejo encontrado virado para cima mostra a barriga macia, situação que serviu para Fullbrook se alongar, inspiradora, sobre sofrimento, conforto ou companheirismo. O novo tema, para já solitário editado pela Milk Records, terá de certeza continuidade e outros "desenvolvimentos"...

segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

UAUU #672

CORRINA REPP, EXPERIÊNCIA POP!

Contrariando a habitual envolvente melancólica e conceptual das suas canções, Corrina Repp juntou-se à amiga Rachel Blumberg aka Arch Cape na exploração conjunta de uma faceta mais pop e descontraída que resultou, para já, em dois temas antigos mas que agora foram devidamente oficializados - os apetitosos "Run Wild" e "Walk Me Home" despertam gula compulsiva...


BACHARACH & COSTELLO DELUXE!





















Com a gravação a meias do álbum "Painted From Memory" em 1998, os amigos Burt Bacharach e Elvis Costello partilharam, de seguida, palcos nos vários cantos mundo, momento ao vivo incluídos, na altura, num segundo CD de uma edição limitada e a que foram sendo acrescentadas outras raridades em cd'singles e colectâneas. De tudo isto, fomos catando o máximo de edições de forma a prolongar o efeito magnífico que esse álbum ainda hoje continua a ter e que compilamos em mp3 para depositar no nosso primeiro iPod. Já lá vão os anos, mas o culto mantêm-se.

Esse esforço que, certamente, muitos outros fãs por esse mundo fora também desenvolveram, ganha agora uma sonhada versão oficial que junta, em diversos formatos e pacotes a editar a 3 de Março, uma imbatível colheita de material extra a que se acrescenta uma remastarização do disco original a cargo do lendário Bob Ludwig. Um luxo! Só faltou mesmo a disponibilização de umas apreciadas sessões video que continuam esquecidas... 



terça-feira, 10 de janeiro de 2023

BEIRUT, ARTE SONORA!

No final de 2021 surgiu uma exaustiva colectânea de raridades dos Beirut chamada "Artifacts", espelho de abundância qualitativa em mais de uma vintena de canções esquecidas, escondidas e quase perdidas de Zach Cohen. Inquieto e, ainda bem, irrequieto, a pandemia trouxe a vontade de inovar recursos e práticas com a ajuda de Nick Petree, instrumentista parceiro de banda, um (des)alinhamento quase sempre promovido à distância entre Albuquerque nos E.U.A. e Berlin na Alemanha, cidades que acabaram por dar nome a uma série de sessões iniciadas na publicação digital em Agosto passado. 

Em doses duplas, o volume terceiro surgido em Novembro, aporta reinterpretações magistrais de mais dois clássicos dos Beirut que merecem audição bem alta - "The Rip Tide" com orquestração pedida a Yuki Numata-Resnick concebida em Buffalo, Nova Iorque e "Scenic World" em versão "music box", ou seja, caixa de música minimalista... Arte sonora!


3X20 JANEIRO

segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

BELLE AND SEBASTIAN, AFINAL HAVIA OUTRO!





















Aquando da gravação do álbum "A Bit of Previous" em Glasgow, saído há menos de um ano, os Belle & Sebastian registaram um outro disco que, surpresa, será editado na próxima sexta-feira pela Matador Records. Em "Late Devellopers" adicionam-se onze novas canções a um manancial já extenso de boa pop sem idade e que recebeu, desta vez, colaborações de Tracyanne Campbell (Camera Obscura) em "When The Cynics Stare Back From The Wall", tema antigo só agora publicado, e do jovem conterrâneo Pete “Wuh Oh” Ferguson, co-autor de "I Don't Know What You See In Me", o primeiro a ser divulgado. 

sábado, 7 de janeiro de 2023

(RE)VISTO #106






















ÁS DE ESPADAS 
de Rúben Marques. Porto; Wow Films, 2022 
RTP2, Portugal, 28 de Dezembro de 2022 
Tal como muitos espaços de animação, durante o período pandémico os clubes e bares de rock da cidade do Porto tiveram que fechar as portas. Aproveitando esse vazio e na intenção de ajudar o Barracuda Clube de Roque e o Woodstock 69, resistentes activos da Invicta do restrito circuito ao vivo, este documentário tratou de ouvir os seus frequentadores e animadores sobre o que é isso do rock, o seu significado e importância. A façanha recebeu o título de "Às de Espadas", hino em inglês que os Motorhead lançaram em 1980 e que acabou entronizada como uma das canções e malhas míticas do rock

A recolha desses testemunhos obedeceu a um guião prévio de perguntas - por exemplo, "o que é o rock?", "o rock é um erro?", "Portugal país de rock?" - mas as respostas de difícil consenso e sem música de fundo vão-se sucedendo numa informalidade frágil cheias de interjeições e calão portuense aludindo a alguns chavões naturais. Melhor que explicar será, certamente, participar nessa roda viva de emoções sempre que uma qualquer banda sobe a um palco, o que no caso funciona dos dois lados da contenda já que a maior parte dos entrevistados são também músicos activos necessitados dos referidos locais que, por muito restritos ou pequenos, se prestam a manter a chama acesa muito à custa da resiliência elogiada dos seus donos (Rodas e Toni). 

Desfilam em cima desses palcos e, naturalmente, sem público, prestações de 10 000 Russos, Black Wizards, O Bom O Mau e o Azevedo, Manuel Cruz ou Kilimanjaro, momentos que se constituem como os melhores dos mais de noventa minutos de um projecto bem intencionado e que, mesmo revelando alguns desequilíbrios incompreensíveis, é o testemunho de um difícil período de resistência que ajudará na inspiração e formação de gerações vindouras. Um útil às de trunfo. 

Disponível na RTPlay

sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

MÉLANIE DE BIASIO, VINTE MINUTOS DE ÊXTASE!














Não têm já conta as vezes que vimos e ouvimos os vinte minutos ao vivo da maravilhosa Mélanie De Biasio no Théatre de l'Odeón de Paris em Junho de 2018. Disponibilizado à distância pelo canal Arte uns meses depois, o momento contempla os temas "Gold Junkies" e "Afro Blue", originais do ainda último álbum "Lilies" de 2017, com a ajuda de um trio de jazz. 

Passados mais de cinco anos, o magnetismo e encantamento funcionam a cada audição como se fosse sempre a primeira vez, uma transcendência que se acumulou no efeito durante o (nosso) confinamento pandémico. As fortes palmas que se ouvem no final são o sinal impulsionante do êxtase que por ali se deve ter vivido e que bem gostaríamos de experimentar e retribuir numa qualquer partilha presencial há muito suspirada... Ahh!

UAUU #671

quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

(RE)LIDO #110





















DON'T MENTION THE NIGHT 
Nick Drake in 1974, Kevin Coyne in 1978, Gaffa in 2022. A memoir.
de David Belbin. Nottingham, UK; Five Leaves Publications, 2022 
A descoberta da música de Nick Drake é um momento marcante e, quase sempre, inesquecível. Bem o sabemos. Em 1974, o jovem estudante inglês David Belbin comprou um vinil barato e, aparentemente, promocional ("white label") com canções de Claire Hammil e dos Sunderland Brothers, nomes manuscritos num dos lados do rótulo central. Do outro, sem indicações ou sinais, só quando em casa o pôs a rodar pode ouvir dois temas de um desconhecido de voz suave e brilhante composição. Não mais descansou até conseguir identificar o autor das líricas enigmáticas e da magia das canções que só mais tarde confirmaria ("Pink Moon" e "Things Behind The Sun"). Sem ainda saber quem era, sabia que lhe seria eternamente devoto. 

A demanda coeva por Drake coincidiu com a sua morte nesse mesmo ano, facto de que só se apercebeu posteriormente pela leitura e pesquisa na imprensa da época. A música passou a fazer parte de seu dia a dia, escrevendo para revistas locais, fazendo entrevistas, críticas de concertos ou de discos e nesse frenesim foi dos primeiros a publicar um texto póstumo sobre o malogrado músico e o disco "Pink Moon", o último que Drake editou em vida em 1972, no fanzine Liquorice (Outono de 1975, nº 3) da cidade de Notthingham. O texto original seria incluído nas memórias organizadas pela irmã, Gabrielle Drake. O assunto "Drake" passou a fazer parte das suas cogitações futuras, uma curiosidade que levou até John Martin que, entrevistado por si nesses tempos, recusou dar explicações sobre o amigo falecido ou sobre "Solid Air", tema que escreveu e editou em sua homenagem no álbum homónimo de 1973.  

As primeiras trinta páginas destas memórias são, assim, uma prazerosa jornada pelos meandros de uma vida irrequieta e condutora a uma actividade de escritor que se foi acentuando até aos dias de hoje e que tem no papel de editor de uma publicação musical uma tarefa efervescente e empolgante contada na primeira pessoa. Mas há ainda neste pequeno livro muito mais sumo rock & roll...

 

A parte seguinte afigura-se mais intensa na descrição e na novidade. Com Kevin Coyne (1944-2004) o autor conviveu de perto na presença em concertos, nas conversas de backstage ou na ascensão, mesmo que tímida, da sua carreira e da sua sua onde blues rock de penetração underground. Já como jornalista estabelecido, o gosto e conhecimento sobre os discos, as canções ou as influências de um artista em constante inquietude são expressos de forma emocional e vibrante, críticas e confissões que são verdadeiras manifestações de entusiasmo com naturais altos e baixos, mas que ainda hoje não esfriaram. Basta ouvir este "The World is Full of Fools" para o compreender.

 

A terceira parte refere-se à banda local Gaffa, um projecto da cidade de Nottingham que apesar da separação em 1980 nunca, verdadeiramente, terminou na sua sonoridade early punk. A amizade e cumplicidade entre os seus membros e o próprio Belbin alcança momentos descritivos de saboroso deleite, percurso contado desde o início em 1977 até à recente reunião do grupo de Junho passado.

Misturando detalhes da sua própria vida, o autor consegue que a leitura das três memórias se afigure de inesperado agrado mesmo para nomes e bandas de que não conhecíamos as circunstâncias e percursos. Meritório, no mínimo.    

DUETOS IMPROVÁVEIS #267

JAMES YORKSTON & NINA PERSSON 
The Harmony [live] (Yorkston) 
Álbum "The Great White Sea Eagle"
Domino Records Co., Janeiro 2023

quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

ALAN RANKINE (1958-2023)















Os escoceses The Associates fazem parte do nosso pódio dos anos oitenta. Billy Mackenzie, falecido em 1997, foi um florescente e inovador fazedor de canções e ao seu lado esteve (quase) sempre Alan Rankine que nas teclas e guitarra assegurou parte da magia inicial da banda, tendo saído em 1982. Posou, por isso, com Mackenzie para a maioria das capas dos discos e fotografias promocionais (imagem acima, à direita). 

A solo editou uma trilogia de álbuns no final da década de oitenta na Les Disques du Crépuscule mas esteve sempre activo no mundo da música ajudando novas bandas como os Belle & Sebastian. Rankine faleceu hoje aos 64 anos. Peace!

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

BILLY NOMATES, CA(C)TIVANTE!





















A britânica Tor Maries aka Billy Nomates terá a primazia de iniciar o 2023 com um segundo álbum de originais depois da estreia imparável e recomendada de 2020. Pelas amostras já divulgadas, mantêm-se um apelo energético registado em casa própria e no Invada Studios de Bristol, cidade natal e de trabalho que inspira uma composição inventiva de activismo político crescente. 

Chamou-lhe "CACTI", nome de ferramenta software (?) que se denota no layout da capa, demorou um ano a concluir em períodos de forte intensidade e acalmia e terá edição para a semana pela Invada Records. Será apresentado em Março e Abril pela Europa, digressão que não deve atingir, infelizmente, território nacional. Talvez se junte, mais lá para o verão, no Coura paraíso...