Óculos escuros, sapatos de bico, a pose do vocalista dos The Murder Capital sugeria que estes irlandeses são mesmo distintos e boníssimos. Certo é que o post-punk enegrecido que praticam faz parte de uma montanha de clichés e trejeitos a que só alguns conseguem dar sentido e firmeza para chegar ao cume. No caso, o disederato está ainda muito longe de acontecer e nem como cópia dos Fontaines D.C.... Desistimos em quinze minutos.
Aos incontornáveis Shellac, que já percorreram quase toda a diversidade de palcos no Parque da Cidade, faltava esta consagração merecida - ocupar o antigo estrado maior do espaço natural sem o risco de sobre dimensão. A experiência do trio mítico de Chicago permite-lhe, a qualquer hora e local, jogar de forma certeira num limbo sonoro de ruído vigoroso e desafiante onde a mestria deixa sempre marcas. Notou-se. Repete para o ano.
Como uma das principais promessas da música britância, Arlo Parks não têm desiludido. Apesar das depressões e medos, na curta carreira, reconhece-se talento pop de sobra que permeia resistência e vigor extensível à poesia ou aos filmes, e que em cima do palco é de evidente eficácia. Encantou pela simpatia, pela dedicação é só foi pena que uma bátega grossa tenha chegado, forte, para interromper a perfeição. Sugeriu uma dança da chuva com "Eugene" para espantar as nuvens. Milagrosamente, conseguiu um majestoso arco-íris!
Para a estreia nacional, Gaz Combees acompanhou-se de uma verdadeira banda rock. Longe vão os tempo de britpop com os Supergrass de quem foi vocalista e guitarrista principal, para se dedicar a um género de rock classificado de intoxicante e de que o último álbum "Turn the Car Around" é exemplar. Na envolvência, na sumptuosidade, o colectivo, quase anacrónico nestes tempos digitais, constituiu-se como a primeira de poucas surpresas do dia. Um luxo!
A primeira das sobreposições de horários entre a nossa lista de eleitos, levou-nos até junto dos Japanese Breakfast. O indie-pop a cargo de Michelle Zauner têm já uma mole de aficionados que permitiu preencher, literalmente, o espaço numa intensa gritaria sempre que terminava uma canção ou que Zauner elogiava o país e a dedicação. Pena que o acerto da voz, longe de inaudível, se tenha mantido num desequilíbrio constante o que acelerou o passo para uma outra volta.
A aparição dos The Mars Volta em Paredes de Coura no longínquo ano de 2008 é, ainda hoje, motivo de discussão. Somos dos que saímos de barriga cheia com a prestação endiabrada comandada pela voz de Cedric Bixler-Zavala e a guitarra Omar Rodriguez-Lopez para desistência de muitos. Em meia -hora, aquela que conseguimos presenciar, não pode haver incerteza quanto às capacidades de êxtase progressivo de um rock-fenómeno que se mantêm brilhante apesar do verdadeiro dilúvio chuvoso que se abateu sobre o palco principal. Eles estão de volta e com muitas ganas de continuar a experimentar limites e a derrubar barreiras/barritas energéticas!
No mesmo avião dos The Murder Capital devem ter vindo, em atacado, os também dubliners Gilla Band. Ainda bem. Bem melhores na atitude de modéstia, bem melhores na abordagem inclassificável ao noise rock, bem melhores na experiência de efeito perturbante e extremo. Aquele "All My Money on Shit Clothes, Shit Clothes" do tema "Eight Fivers" com que terminaram a implacável aparição foi por muitos cantado em coro durante vários minutos depois da saída de palco... Um tormento apreciável!
E que tal uma boa dose de punk-rock? Os Bad Religion tinham à sua espera uma entusiasmada trupe que não os troca por nenhuns outros desde há quarenta anos e a quem nem mesmo a melodiosa "The Wreck of the Edmund Fitzgerald" de Gordon Lightfoot, escolhida para a entrada em palco, acalmou nos impulsos. Um, dois, três e, zás, saia de lá uma catadupa de quase vinte canções em menos de uma hora a meias entre a plateia e o professor doutor em biologia Gregory Graffin que se mantêm no cargo de vocalista desde o início. Eficaz, alienador e sem molhas.
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