Considerada uma das últimas grandes bandas americanas, os The Morning Jacket estrearam-se em Portugal num agradável fim de tarde soalheiro perante uma resistente e larga família de aficionados. Mereceram todas as palmas e gritos de apoio que receberam pela prestação soberba onde desfiaram, sem exageros ou adornos, uma verdadeira preciosidade musical. Ouviu-se rock na sua essência e plenitude, uma ode que Jim James soube, como poucos, liderar numa magnificência rara e tensional. Sem dúvidas nenhumas, um dos melhores concertos do festival.
Se levarmos à letra a dicção pretendida para NxWorries, ou seja, "no worries", talvez seja fácil descrever o concerto de Anderson Paak e do produtor/dj Knxwledge - uma hora e pico de diversão e boa disposição para uma imensa maioria. Paak assumiu a frente de palco, jogando na interacção e desafio, enquanto, mais acima, o amigo controlou os botões e sequências de temas gravados para um primeiro álbum de parceria em 2016 e que terá segunda insistência para breve. Acrescentou-lhe ainda memórias em imagem e som de variada estirpe, dos Oasis (sim, esses), a Whitney Hosuton ou Lenny Kravitz a despertar coros afinados só interrompidos pelas entradas e saídas de Paak. Numa das ocasiões, arrastou para o palco uma longa fila de beldades femininas receptivas a entrar no bailarico e na galhofa. Surreal e, lá está, tudo na descontra! .
Refreando expectativas, a estreia dos Pet Shop Boys no Porto assentava nessa premissa evidente para quem, como nós, sempre lhes deu pouca importância mas nunca os desrespeitou. Visualmente irrepreensível, o espectáculo foi somando êxitos atrás de êxitos mesmo qua algumas das opções do alinhamento, apesar de distantes no tempo, nos continuem a causar urticária eterna (por exemplo, "You Were Always on My Mind" ou "Domino Dancing"). Quarenta anos depois e sem grandes surpresas, ao duo londrino só podemos apontar, mesmo assim, competências e múltiplas virtudes que, longe de um anacronismo injusto, se manifestaram plenamente funcionais. Contrariando o refrão da última canção, eles não foram, longe disso, uma chatice.
Nove anos depois, Anne Clark aka St. Vincent regressou ao parque da cidade por onde já passeou muita classe. Aumentou, naturalmente, a audiência e a variedade das canções de seis álbuns de originais, mas foi "Daddy's Home" (2021) o fio condutor de uma sequência em crescendo que teve em "New York", cantada entre fãs da primeira fila, uma pedra de toque luminosa. Na rodagem desses novos temas, implicou-se uma teatralidade insistente, mas talvez um pouco exagerada, que despertou atenção irregular apesar do elevado rigor instrumental só ao alcance de um grupo notável de cúmplices, com destaque para a guitarra de Jason Falkner e a voz de Stevvi Alexander. Ficamos, mesmo assim, na expectativa de uma melhor oportunidade, em reduto idealmente mais pequeno, para uma plenitude do usufruto vicentino.
O trio nova-iorquino Le Tigre não brinca em serviço. São já vinte cinco anos de activismo intermitente usando a música como sirene contra a descriminação sexual, a corrupção ou o racismo, numa atitude de aparente descontracção e que ao vivo sugere uma aposta multimédia algo arriscada. À projecção das líricas na sua totalidade e detalhe, num género de karaoke encimando imagens e jogos de cores em flash, juntam-se as canções pop rápidas no feminino de camada arty comandadas por Kathleen Hanna e que tiveram tanto de fresco como de irritante. Ainda assim, um concerto incomum que confirma que nem sempre uma festa é divertida...
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