Para os Yard Act, apesar do atraso na entrada em palco, o concerto de estreia estava ganho - sol, cerveja e boa disposição imposta pela presença do vocalista James Smith a que muitos, conhecedores das canções, responderam com proximidade e suporte. Sem tréguas, a oleada banda de Leeds aproveitou para arrebanhar novos aderentes à custa de temas de apelo à dança e movimento naquele jeito britânico de falar de coisas sérias - o Brexit ou a corrupção - num encadeado palavroso de humor e sarcasmo a lembrar o mestre Jarvis Cocker. Nada mau para o despertar do "dia inglês" que prometia folguedo e que, assim, começou da melhor maneira!
Saltar de um concerto de post-punk indie para um de flamenco puro no mesmo espaço deve ser caso único! Para espanto de muitos, de todos, no palco maior do anfiteatro natural sentaram-se Israel Fernàndez e o guitarrista Diego del Morao acompanhados de um percussionista de cajon e ainda dois batedores de palmas. O género andaluz, na sua essência, deveria ser acompanhado pela dança mas essa ficou para muitos dos espanhóis presentes entre olés e vales a preceito, enquanto a voz de Israel se estendia, imponente, colina acima. Uma boa surpresa e que regressará a Portugal ainda este mês.
Os Sparks dos manos Ron e Russell Mael há muito que já cá deveriam ter vindo. Ponto. Claro que mais vale tarde do que nunca, como se viu e ouviu na estreia feliz de sábado, provando que o pop recheado e sofisticado, que praticam há mais de meio século, envelhece fortificado e renascido. Juntaram-se muitas canções novas de "The Girl Is Crying in Her Latte", o mais recente de uma trintena de álbuns editados desde 1971 e que tem no tema título, com video imperdível de/com Cate Blanchett, mais uma grande canção que, afinal, se deveria chamar "The Girl Is Crying in Her Pingo", uma variação que o próprio Russell degustou com aprovação já na Invicta. Depois houve o figurão Ron no seu estilo ao piano, um misto de seriedade e desafio a provocar estranheza mas também muitos sorrisos aquando da introdução a "Shopping Mall of Love" ou o momento de dança uns momentos mais à frente... Concerto ritmado, alegre e de excelente sequência!
Sete anos depois, Julia Holter voltou ao terreno arborizado e ao ar livre do Porto embora seja no recanto de uma sala de aconchego onde gostamos mais de a ouvir a encantar. Não faltaram, mesmo assim, alguns momentos de feitiço - "Feel You" ou "I Shall Love 2" - que deveriam ter sido dignificados com menos conversa tagarela do público e mais atenção e empenho. Malgrado os desrespeitos, um verdadeiro spa de tonificação e beleza!
Não seria fácil bater aos pontos a anterior e única passagem de Yves Tumor pelo festival. Negra, arrebatadora, insultuosa ou libertadora, a noite de 2019 confirmou um diabo à solta de que se esperava nova investida mortífera. Se a negritude e um certo caos em palco se repetiram na intenção, o que vimos foi um Tumor mais recatado e fleumático mas, ainda assim, de nervo à flor da pele perante uma imensa plateia em nítido pousio de espera para chegar a outros palcos. A energia, contudo, esteve sempre ligada em trifásico apesar da estroinice dos caprichos e da exagerada comiseração.
É certo que o curriculum ao vivo dos New Order nunca foi uma folha limpa. Também é certo que em Coura (2019) a banda não se tinha espalhado totalmente ao comprido, embora a transmissão radiofónica que ouvimos na altura do espectáculo nos tenha, mesmo assim, assustado no temor. Foi, por isso, de expectativas recatadas que vimos a banda entrar em palco para largar um "Regret" e um "Age of Conset" aceitáveis e até consistentes apesar das notórias e antigas fraquezas da voz de Bernard Summer. Tudo sugeria ser, assim, uma rodada máquina de luz, cor e som em crescendo mas quando se deixaram de ouvir os instrumentos a meio de "True Faith" para assobio geral, o concerto perdeu parte do enlevo ganho até essa momento para muito dificilmente se endireitar. Uma nova tentativa de retomar a canção teve o mesmo fim inesperado da amplificação o que irritou os dois lados da contenda de forma contundente e que nem mesmo o regresso com uns imediatos "Blue Monday", "Tempation" e "Love Will Tear Us Apart", de enfiada, evitou no dissabor. Até nova ordem, não haverá pois (desas)sossego!
O que dizer mais dos Blur? Se a festarola de há dez já nos tinha parecido imbatível, a de final deste festival foi um pouco mais duradoira e, como convinha, celebratória. Jogando em alguma surpresa no alinhamento - "There's No Other Way" surgiu entremeado com o inicial e estranho "St. Charles Square" e "Popscene"- a partir de "Cofee & Tv" foi sempre "downhill" na expressão sarcástica de um Albarn monstruoso em cima de palco e fora dele. Um máquina compressora super-pop que provocou alienação e muita pândega mesmo que o cansaço de muitos, nós incluídos, pareça ter feito pausa para que este britpopular se instalasse, hit atrás de hit, até ao final apoteótico. Qual será o raio do rejuvenescente?
Sem comentários:
Enviar um comentário