Somos que impelidos para dentro de um espaço lounge que, a não existir, deverá ser fácil imaginar na sua atmosfera fumarenta de luzes ténues, barulhos de copos e um pequeno estrado onde Lewis se apronta para fazer o que promete - o assobio como arte instrumental, de faceta ambiental a roçar a música de elevador mas de teor acentuado num retro sound agregador de bandas sonoras, clubes de jazz decadentes ou slows kitch e românticos.
A "coisa" afinal têm nome. No Café Molly revisitam-se muitos destes ambientes antigos e clássicos em que Los Angeles era fértil, um revival que já aconteceu no Zebulon, mítico café-concerto da cidade, onde Lewis se rodeia por vezes de músicos e amigos para apresentar os originais mas também muitas covers (fez por lá um dueto com Weyes Blood para o intemporal "The Look of Love" de Bacharach, assegurando também a primeira parte de digressões americanas de Natalie Mering).
Assim e tal como nos dois anteriores EP's, o disco não dispensa a escolha de duas versões - "The Crying Game" (1964) de Dave Berry que encerra o álbum (e que Boy George transformou em hit em 1992 servindo o filme de Neil Jordan com o mesmo nome) e "Porqué Te Vas", original presente na banda sonora de "Cria Corvos" (1976) do realizador Carlos Saura e que Lewis recria em formato mais up-beat.
Tudo, pois, a funcionar como um arquivo vivo e revisitado que multiplica imagens, situações e visões de um misterioso veludo lynchiano ou de uma espreguiçadeira batida pela brisa e que tão milagrosos lábios envolvem de nostalgia e muito exotismo. Que grande assobiadela!
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