A digressão nacional dos escocês Gareth Dickson teve em Aveiro um inédito mas eficaz ponto de partida. Mesmo sem uma resposta numerosa de público, o momento gratuito teve o condão de motivar o artista para quase uma hora e meia de um contínuo e inimitável minimalismo acústico que nos sugere sempre uma crueldade - a quebra de uma intimidade exposta em forma de canções onde à fragilidade e subtileza da lírica quase sussurrada se sobrepõe um divino dedilhar das cordas da guitarra.
Da nossa parte, o resultado desta combinação acelera de imediato uma tensão gratificante na concentração necessária para desfrutar plenamente de um alinhamento parecido mas, ainda assim, mais generoso que o da última passagem por Gaia em 2017 mas onde não faltou a já clássica trilogia "This Is The Kiss", "Atmosphere" (Joy Division) e "Two Trains".
Mesmo que, mais uma vez, as suspiradas versões de Nick Drake tenham ficado esquecidas, Dickson não conseguiu evitar entre a sua simpatia e humildade uma capacidade inata de nos provocar daqueles raros calafrios tonificantes, (re)confirmando um qualquer crédito ou dúvida que, eventualmente, estivessem a pairar na escuridão da sala quanto ao brilhantismo da sua música, da sua arte e da sua bondade. Volta sempre, mate!
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