segunda-feira, 29 de abril de 2019

(RE)LIDO #83


LIBERDADE É FRUTO
Discos Perdidos e Outras Canções de Abril
de João Pedro Almeida da Rocha. Coimbra; Secção Filatélica da A. A. Coimbra, 2017
Temos por dado adquirido que durante o período de ditadura um conjunto de cantores portugueses sofreram represálias e privações motivadas por questões ideológicas ou políticas e que muitos dos seus discos e canções foram simplesmente apreendidos ou banidas de emissões televisivas ou radiofónicas pela censura.

José Afonso, Sérgio Godinho, José Jorge Letria, Adriano Correia de Oliveira, José Mário Branco, Luís Cília ou Manuel Freire são só alguns dos artistas mais conhecidos sujeitos a essa perseguição com história mais que documentada e retratada e que escondem um cenário mais abrangente de incómodo criativo em quantidade inimaginável.

Ora, este livro tem o grande mérito de assinalar e destacar, para além destes, outros nomes de um panorama de cantautores no masculino (por exemplo, José Matildes, Eduardo Lemos, Francisco Naia ou Raimundo Jorge) e feminino (por exemplo, Natércia Aguiar, Ana Maria Teodósio, Maria Amélia Proença ou Teresa Paula Brito) que continuam esquecidos na penumbra apesar de terem sofrido do mesmo tratamento ignóbil. São-lhes traçadas as biografias, reproduzindo fotografias, notícias de imprensa da época e capas dos discos raros e entrevistando-os, quando possível, directamente, escolhendo cronologicamente uma das suas canções como exemplo comprovado dessa acção censória de grilheta e as histórias negras associadas.

Mesmo que por vezes a escrita não seja a mais cativante, o autor consegue reunir um conjunto de informações e dados inéditos por nós e por muitos ignorados que ajudam a compreender uma época vibrante da edição discográfica em Portugal, permitindo destapar algumas das estratégias e subterfúgios dos autores, das editoras, das distribuidoras ou dos realizadores de rádio ou televisão para tentar "contornar" a sujeição.

Coleccionador metódico de discos de música portuguesa, nota-se a sua paixão pela faceta dita de intervenção e o seu assinalável esforço em concretizar, no que sugere ser uma auto-edição, um projecto obviamente inacabado mas de interesse colectivo inquestionável. Deixamos aqui três exemplos de "histórias" aí incluídas que talvez despertem a vossa curiosidade e que vos levem a comprar e folhear o livro como é merecedor.





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