de Abel Soares da Rosa. Lisboa; Âncora Editora, 2022
A façanha já com uma década continua a ser para o autor uma demanda obstinada - que raio se editou, publicou ou viu sobre os The Beatles e tudo à volta em Portugal? As respostas fazem já parte de, pelo menos, quatro livros a rondar os discos de vinil, as revistas, os jornais ou os filmes e as suas vicissitudes, um conjunto de imagens, documentos e textos que servem de fundo arquivístico revisitado de utilidade e prazer para aficionados, melómanos ou simples curiosos de uma temática eterna. O mais recente contributo é um género de best of das pesquisas anteriores às quais se juntam abordagens e averiguações inéditas que continuam a somar lanços saborosos às gavetas do arquivador.
Neste particular, são deliciosos os pormenores contados por Hunter Davies, autor da única biografia autorizada sobre a banda, que de visita ao Algarve deu de caras com Paul e Linda (Eastman) McCartney e por ali se fixaria com a família em algumas temporadas até aos dias de hoje. A história e o convívio contados pelo próprio são uma preciosa panorâmica de um país em ditadura mas também das suas incontornáveis virtudes climatéricas e gastronómicas ou da estranheza de alguns dos costumes. "Oh Happy Days...", no título do texto que Davies escreveu para o livro.
É desta altura "Penina", canção nascida num bar de hotel que se fez plena pelos portugueses Jota Herre e que a receberam por oferta de um simpático Paul McCartney, conhecendo posterior edição oficial. O livro surpreende no número de edições e versões que o tema acabaria por receber ao longo dos anos um pouco por todo o mundo, uma compilação de referências rebuscada e inédita que confirma a teimosia salutar de Abel Rosa sobre uma das tais aventuras pop portuguesas, talvez a mais conhecida e inesperada.
A monografia contempla a reprodução, já publicada, da totalidade dos discos/EP's de 45 rotações que os The Beatles editaram em Portugal, acrescentando-lhe edições das colónias e das carreiras a solo no mesmo formato, bem como a totalidade do selo Apple em território nacional. Mas há mais. São mais de oito dezenas as versões de canções dos de Liverpool ou em sua homenagem que artistas e bandas portuguesas registaram ao longo dos anos e elas cá estão - quinze páginas de capas de discos de uma variedade de estilos abrangente, do proto-pimba ao fado, do prog ao coro infantil, desde o Conjunto Mistério em 1963 ("I'll Get You"/"Sem ti Não Sei Viver") até José Cid em 2018 ("The Fab 4") de 2018. Uma verdadeira ode aos Beatles... sem data previsível de término.
O relato inédito de César Faustino, jornalista do "Diário de Lisboa" que cobriu a passagem efervescente da banda por Estocolmo em 1964, onde já tinham estado no ano anterior, afigura-se uma leitura de aprazível novidade. Os pormenores da entrevista que então realizou, o convívio inesperado com o quarteto e os meandros da sua publicação no vespertino lisboeta, são um contributo flagrante para perceber o fenómeno ciclónico que, em turbilhão, varria a Europa e que atingia países frios sem contemplação mas que não chegou a alcançar um jardim à beira-mar plantado, quase tropical, sem flores mas próspero nos preconceitos, a criar bolor e a limitar ousadias como filmes com gente a gritar e a dançar à custa de música perigosa. Estas histórias e facetas cinematográficas o autor faz, outra vez e de passagem, questão de recordar.
Ou seja, mais uma colectânea despretensiosa mas oportuna que, para além de revelar o infindável esforço de um entusiasta, é um espelho das virtudes do coleccionismo e de uma paixão única - despertar admiração, motivar concorrência leal e ficar à espera de mais matéria "beatlesca". Nunca serão demais as "aventuras dos quatro"!
1 comentário:
GRande abraço e obrigado pelas gentileza do texto para com o meu trabalho... já agora sou seguidor das aventuras pop deste blog.
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