quarta-feira, 3 de maio de 2023

FILIPE FURTADO + JAY-JAY JOHANSON, Auditório CCOP, Porto, 29 de Abril de 2023

Faz hoje precisamente vinte cinco anos que vimos Jay-Jay Johanson pela primeira e única vez ao vivo no Festival de Lisboa, num alinhamento, entre outros, ao lado dos saudosos Alpha. Tal como hoje, bastante calor mas pouca adesão de público para o tamanho da arena do Campo Pequeno, um fiasco para um evento em estreia e de fraca memória mas que nos serviu, da melhor forma e à última da hora, para desanuviar a atenção desmedida com uma prova de mestrado marcada para a manhã seguinte. Desde aí, já Johanson visitou o país dezenas de vezes e não temos uma explicação para que um hiato tão grande nos tenha afastado dos concertos do sueco, atendendo a que a qualidade do seu produto musical, com poucos altos baixos, se tem mantido actual e actuante, criando uma relação umbilical que acelera corridas às bilheteiras como foi o caso do Porto onde foram marcados dois concertos em dias seguidos. 

Ao seu lado, Erik Jansson, o cúmplice de anos responsável pelos toques de Rhodes, samples e teclados, que se alinharam sem falhas à sua voz de inconfundível timbre para uma melancolia electrónica de canções de (des)amor e negritude. Para trás ficaram os tempos de trip-hop e algum electroclash, assumindo-se um alinhamento de best of refinado que ao segundo tema arrumou, e bem, o obrigatório "So Tell the Girls That I Am Back in Town" para ir desfiando, calmamente, um reportório já longo que não dispensou a estreia de, pelo menos, dois temas - "The Stars Align" e "Seine" - de um novo álbum chamado "FETISH" que sai a 9 de Junho. 

À sempre bem-vinda proximidade que o recinto da Rua do Duque de Loulé proporciona, juntaram-se, no entanto, diversos constrangimentos antigos: uma incómoda reverberação sonora sempre que os samples subiam de tom, uma diminuta altura do palco que resulta numa visibilidade sofrível para quem não ocupa espaços fronteiros e um calor inconcebível para uma sala remodelada que, rapidamente e sem ventilação ou ar condicionado, se transforma numa fornalha. Johanson, amável, apercebendo-se da elevada temperatura, ainda distribuiu por duas vezes uma vintena de garrafas de água que foi buscar atrás do palco, mas talvez umas simples ventoinhas chinesas pudessem causar melhor efeito... 

Para o encore foram escolhidas, a dedo, três peças impressivas: "Whispering Words" em formato a cappela e de colaboração sibilante com o público, a antiguidade (1999!) "Believe in Us" de patina eterna e adorado balanço e o incontornável e ainda mais velhinho (1996!) "I'm Older Now", um género de hino geracional reciclável que mereceu ronda de cumprimentos personalizados pelos grupos da frente mas a que se seguiu, já de luzes acesas, um surpreendente convívio e festarola entre o público para selfies, autógrafos e abraços ao som do "My Way" dos The Sex Pistols/Sinatra e do "Bobby Brown" de Frank Zappa. Um verdadeiro reencontro de amigos que não tardará, como prometido, a repetir-se com natural êxito! 

 

Na primeira parte e ainda para uma plateia reduzida e mais interessada num gin-tónico fresquinho, esteve o açoriano com costela coimbrã Filipe Furtado. Acompanhado por um saxofonista e um baterista, o trio alcançou rapidamente boa impressão pela baloiçante onde bossa nova esticada em nuances jazz e a que a voz de acentuado sotaque proporciona algum exotismo. O projecto tem no disco de estreia "Prelúdio", gravado para a editora Marca Pistola em 2022, um bom cartão de visita que se alarga a cada audição e que, ao vivo, se confirmou de validade e vibração certificada. (eu fui à terra do) Bravo! 

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