Empenhado e em forma, Matthew Ward cedo vagueou pelo palco no seu jeito característico de empunhar a guitarra e, de olhos fechado, cantar em quase sussurro algumas das suas excelentes canções de ronda ao blues e ao folk americano nos quais vai continuamente insistindo desde 1999 em mais de dez álbuns de originais e muitas versões. Billy Holliday, Buddy Holly ou o incontornável "Let's Dance" de Bowie não foram, por isso, dispensados mas a surpresa completa foi mesmo, já no encore, "Late Night Talking" de Harry Styles ao lado da jovem Maro um pouco atrapalhada mas a dar conta do recado na meiguice da voz e na simpatia já ensaiadas, com êxito, na primeira parte do espectáculo.
Ward terá álbum novo muito em breve e talvez se esperassem novos temas no alinhamento mas só "Supernatural Thing", o tema-título, foi escolhida de permeio a um bom conjunto de clássicos de autor reclamadas por aficionados conhecedores e de que "Shangri-La", "Vincent O'Brien" ou "Rollercoaster", já no segundo encore, foram exemplares na adoração de uma plateia bem composta e interessada na partilha e a que Ward, reconhecidamente, deu tradução performativa.
Apesar do atraso na entrada na sala, ainda fomos a tempo de ser surpreendidos por uma inesperada combinação de sotaque brasileiro de alguns dos originais o que tem afinal uma expliçação dada pela própria - radicada no Brasil durante algum tempo em 2021, Maro não escapou à sedução de um tropicalismo tardio potencialmente eficaz mas ainda a requisitar acertos.
Sozinha, sem as guitarras de um duo que a acompanha agora em digressão nacional, o enfrentamento com um público mais adulto (?) e desconhecido torneou-se amistosamente com boa disposição e respeito de um nome que todos reconhecemos ganhadora de um Festival da Canção, o que não sendo nenhum pecado é, invariavelmente, inconsequente. Neste caso, contudo, essa vitória sugere ter sido simplesmente o ponto de partida de uma carreira prometedora e inteligente.
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