segunda-feira, 10 de junho de 2024

ANDRÉ HENRIQUES+CRUMB+THIS IS THE KIT+LAMBCHOP+TROPICAL FUCK STORM+LANA DEL REY+TIRZAH, Primavera Sound Porto, 7 de Junho de 2024














A chuva, forte e arreliadora, deu tréguas a André Henriques para fixar amigos e admiradores dos Linda Martini junto do palco mais pequeno do parque. A selecção de temas mostrou-se do agrado e conhecimento de uma minoria mas foi com surpresa que vimos uns ingleses e espanhóis a bater-lhe fortes palmas perante a consistência de um reportório invertido na tradição pop e de líricas cuidadas e muito próprias. O som do oboé que percorreu a totalidade das canções foi de uma delícia surpreendente. Aprovado!

 

Sobre os Crumb... népia. Apresentados como "se gostares de Blonde Redhead, shoegaze que aquece a alma vais gostar disto", resta concluir que fomos enganados. Voz sofrível e teclas em constante desacerto, só o baixo nos pareceu no sítio certo e a resgatar alguma, muito pouca, da firmeza de uma banda aborrecida e demasiado previsível. Ao palco atribuído, de dimensão exagerada, juntou-se uma plateia imensa e distraída, já em fase de apropriação de espaço para ver o desfile da princesa Lana.

 

Ver os This Is The Kit de Kate Stables e Rozi Plain no alinhamento do festival foi mesmo um milagre. São já vinte anos de um projecto criativo de raiz na folk inglesa mas que se alonga, sem contemplações, a momentos de rock alternativo que, ao vivo, foram bem notórios. Fim de tarde nebuloso, britânico, e muitos na expectativa de testemunhar uma série de canções que se mostraram de frescura assinalável e de um sossego sonoro amaciador de ouvidos corrompidos. A simpatia de Stables e companhia emaranhou-se num risco instrumental de excelência e singeleza e que, caramba, já fazia falta. Precioso!

 

Novo milagre! A versão piano voz dos Lambchop, que passou pela Casa da Música em Novembro passado, encaixou-se na perfeição no palco ideal do recinto (Super Bock) apesar do ruído de fundo vindo do lado da Circunvalação. O figurão Kurt Wagner contínua inimitável, assumindo nesta fase uma postura de gozo e desafio aos ouvintes indefectíveis que não faltaram à chamada. Entre cigarros e copos de água (?), as histórias que escreveu para muitas das canções da banda assumem agora um protagonismo hipnótico que mereceu escuta atenta e fruição deleitosa mas a que Wagner foi dando pausas, ora sentado ora circulando de mãos nos bolsos nas proximidades, salientando a vibração do grande piano de Andrew Broder. Ficará na memória a versão de "Listening (to Lambchop by my self)" dos Sun June, uma daquelas jogadas sarcásticas em que Wagner sempre foi mestre, mesmo que a voz e o rumorejar pudessem ter soado um pouco mais nivelado por alto. Seja como for, inesquecível!

 

Os Tropical Fuck Storm são isso mesmo, uma tempestade de rock experimental, algum psicadelismo e muito punk e que é de difícil alívio. Entrados em palco, seguiram-se quarenta e cinco minutos de intensidade electrizante a que não é indiferente um entrosamento de anos a fio em bandas, palcos e estúdios e que tem no vocalista Gareth Lissiard o olho de um furacão imparável. Sem tempo para frescuras, só nos restou agarrá-los pela vibração e deixar-nos arrastar, tormenta fora, até ao final revoltoso. Contudo, uma acalmia espiritual aproximava-se...

 

Muita gente, demasiada gente. Muita confusão, demasiada confusão. Palco de insuficiente visão, demasiado insuficiente. Tagarelares irritantes em voz alta, demasiada tagarelares. Vendedores de cerveja ambulantes, demasiados vendedores. Seria fastidioso acrescentar os constrangimentos de um concerto de Lana Del Rey que não merecia tantas afrontas e desrespeitos. Concluir, mesmo assim, que o momento constituiu uma experiência marcante e sedutora em que, invariavelmente, se fez notar o nível extraordinário de uma voz e de um songbook duradoiro. Se há deusa na terra, o nome dela é Elisabete mas que todos veneramos como Lana, a Rainha! 

(imaginar o que seria assistir a este concerto no antigo anfiteatro principal e natural, quinhentos metros para Sul, causa ainda mais arrepios... adiante.)
 
 

Cinco anos depois, a britânica Tirzah voltou a emergir em fim de noite para arranhar, sozinha, a penumbra. Orgânico, seco, ao bater do som submerge uma intimidade e volatilidade vocal a que é preciso dar tempo e envolvência. Tripante.

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