quarta-feira, 12 de junho de 2024

JOANNA STERNBERG+PULP+THE NATIONAL, Primavera Sound Porto, 8 de Junho de 2024

 















A estreia em Portugal de Joanna Sternberg deveria ter acontecido em Novembro, em Lisboa, durante o Festival Vale Perido. Por motivos de saúde (covid 19), o concerto foi cancelado e só agora, num dia de chuva, muita chuva, a nova-iorquina compareceu num final de tarde que se tornaria mágico. Impossível não recordar Daniel Johnston no mesmo parque há onze anos atrás, a mesma sinceridade e quase inocência das canções, das letras e de uma postura destapada de truques ou filtros. Preocupada com a chuva, com a molha que muitos não se importaram de apanhar, Sternberg brincou naturalmente com a situação e ficamos a imaginar um desenho do cenário ou momento que talvez acabe por fazer para uma t-shirt ou a capa de um disco. A chuva, essa, haveria de parar substituída por uma bem mais reconfortante ternura colectiva...

 

O aviso prévio não deixava dúvidas - este concerto é um encore! Os Pulp em versão grandes êxitos voltavam à Invicta ao fim de vinte e seis anos (Imperial ao Vivo, Rockódromo das Antas, 1998), tal como Jarvis Cocker haveria de recordar, e o desfile de canções cedo começou a fazer efeito agitador. Ao longo de uma hora e meia, o vocalista e letrista mítico da banda comandou, sem máculas, contratempos ou desculpas, a imensa plateia numa lição pop exemplar que teve em "Disco 2000" e "Do You Remember the First Time?" dois dos momentos mais esperados e celebrados. Assusta a eficácia, sem idade, destas pérolas tão bem assentes numa imaculada destreza instrumental, capacidade que se manteve perfeita de princípio ao fim. Quanto a "Common People" a terminar a contenda, quando algum dia se fizer o top dos melhores momentos do festival, não temos dúvidas que ela, a canção, deverá obrigatoriamente ocupar um dos três lugares do pódio. Brutal! 


Passaram dez anos sobre a estreia dos The National no festival mas, nessa noite, apostamos as fichas na lenda Charles Bradley e abandonamos a meio o concerto principal. Não nos arrependemos. Desde aí, já os The National nos visitaram quase todos os anos, a última das vezes em Outubro passado no Pavilhão Rosa Mota. Saudades não se medem pelo tempo e, por isso, certo é  que muitos que por lá estiveram não resistiram a mais esta oportunidade, tal como era, aliás, notório em toda uma geração quarentona que tem na banda uma razão válida para viver. 
Os de Ohio sabem-no bem e deram-nos aquilo que melhor sabem fazer desde há vinte anos - canções robustas sobre a vida moderna nas suas minudências e que o professor Matt Berninger nos ensinou, desde sempre, a cantar como se se fossem nossas. E são. Alinhadas, em modo revisão da matéria dada, o concerto resultou numa monumental, e até épica, odisseia de catarse colectiva que confirmou que os The National têm dupla nacionalidade: são do mundo e são portugueses!

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