segunda-feira, 30 de novembro de 2020
domingo, 29 de novembro de 2020
FAZ HOJE (30) ANOS #47
. Público, por Luís Miguel Queirós, fotografias de Fernando Veludo, 1 de Dezembro de 1990, p. 30
sábado, 28 de novembro de 2020
(RE)VISTO #81
de Thom Zimnv e Bruce Springsteen
E.U.A., Warner Bros. Entertainment, 2019
TVCine Edition, Portugal, 19 de Novembro de 2020
Agora que o novo álbum de Bruce Springsteen anda em rodagem acelerada e se confirma um regresso ao velho som rock que só a E Street Band sabe fazer e onde reaparece a famosa harmónica do Boss, quis o nosso programador-mor televisivo fazer o obséquio de nos lembrar que do álbum "Western Stars" de 2019 havia um filme-concerto paralelo que merecia uma olhadela descomprometida e, mesmo assim, obrigatória para quem, como nós, gostou e gosta tanto desse disco.
Trata-se de um desfile das treze canções e uns pozinhos em versão ao vivo de reduzida lotação e intimidade acomodada num centenário celeiro propriedade do artista, local onde durante duas noites de Abril desse ano Springsteen interpretou as canções ao lado de uma verdadeira orquestra de cordas e metais e uma série de colaboradores e instrumentistas. Cada um dos temas tem um preâmbulo filmado no exterior em assumida forma de meditação, ora no Joshua Tree National Park ora num qualquer bar de New Jersey a que por vezes se juntam imagens antigas do próprio e da família, na companhia de cavalos ou da inseparável pick up vintage El Camino. Argumenta-se um a um com uma história, com um ensinamento ou sugestão sobre as agruras ou conquistas da vida, a amizade ou o amor e os irresolúveis dogmas da mentira e da solidão naquilo que parecem confissões biográficas mas que, sem certezas, encaixariam num qualquer papel fictício por ele inventado...
Quanto a esta primeira experiência do Boss como realizador, embora em parceria, talvez seja de notar um excesso de clichés e câmaras-lentas sobre-produzidos nesses apartes introdutórios mas o lustro e polimento do personagem acaba por, mesmo assim, nunca abafar o outro e o mesmo, esse sim, bem mais interessante - em cima do palco com uma panache maior ao lado da esposa e com algumas boas surpresas nos arranjos e instrumentos como o banjo, o acordeão ou o piano, fazendo realçar ainda mais a surpreendente qualidade dos temas e de como os cantar com uma classe inquebrável e de que "Sundown" será, para sempre, um cintilante modelo-canção.
sexta-feira, 27 de novembro de 2020
M. WARD, UM NATAL A PENSAR NA PRIMAVERA!
Sem pormenores quanto à sua vida ou subtilezas da voz de Lady Day, reimaginou novas afinações e também distorções das orquestrações clássicas a partir de uma guitarra, mudando as chaves e acordes de forma a prestar homenagem ao disco que tanto o impressionou como música de fundo de um centro comercial. Este é, assim, o segundo álbum no mesmo ano, tendo o primeiro merecido visita ao vivo em Fevereiro passado, um dos últimos concertos a que assistimos antes da suspensão que parece nunca mais acabar... O melhor é mesmo pensar na próxima Primavera!
quinta-feira, 26 de novembro de 2020
RHYE, FICA EM CASA!
O trabalho foi registado parcialmente no estúdio Revival at The Complex de Los Angeles e também em casa do próprio Milosh desde há um ano, o que talvez explique o título do disco e também o sítio adequado para, nos próximos meses e sem alternativas autorizadas, o fazer soar alto e bom. Há, contudo, uma digressão europeia já marcada a partir de Abril e com hipóteses de extensão... Quem dera!
quarta-feira, 25 de novembro de 2020
PHOEBE BRIDGERS, HÁ UMA ESTRELA A BRILHAR!
A carreira ascendente de Phoebe Bridgers teve hoje um reconhecimento merecido com quatro nomeações para os Grammy à custa do álbum "Punisher" - nova melhor artista, melhor perfomance rock e melhor canção rock com "Kyoto" ao lado, entre outros, dos Big Thief com a também notável "Not" e ainda melhor álbum alternativo.
Tudo sugere, assim, um caminho seguro e intencionalmente calculado no sentido de um estrelato medido passo a passo e de que é exemplo a tradição em lançar, por esta época, uma versão de Natal, o que acontece há já quatro anos consecutivos e sempre com fins solidários - a escolha, desta vez, recaiu sobre "If We Make It Through December" de Merle Haggard, canção de 1974 que se adequa na perfeição à incerteza e volatilidade dos próximos tempos e cujas as receitas reverterão para o Downtown Women Center de Los Angeles. A cover juntar-se-á num EP às três outras dos anos anteriores numa edição ainda sem mais pormenores.
AJUDA@MÚSICA@AJUDAR #37
Um dos tesouros da canção americana chamado Lucinda Williams lançou um projecto solidário e temático que pretende ajudar à sobrevivência de algumas salas de concertos que correm o risco de encerramento à custa da pandemia provocada pela Covid19 - chama-se "Lu's Jukebox - A Studio Concert Series" e teve início em Outubro com uma primeira sessão somente com canções de Tom Petty em regime de streaming de pagamento prévio a reverter para os locais aderentes. Seguiram-se, já em Novembro, outras apresentações com versões de Bobbie Gentry, Ann Peebles ou Tony Joe ou a da passada quinta-feira onde se prestou homenagem a Bob Dylan, uma das influências assumidas na carreira de Williams.
Para Dezembro está agendada uma dose tripla e inédita de concertos com dedicatória ao country, ao Natal e, para acabar o ano e em plena véspera de Ano Novo, aos The Rolling Stones. Adivinha-se que algum deles acabará vertido para disco mas não se esqueçam que Williams lançou em Abril último um grande álbum, mais um, chamado "Good Souls Better Angels" e que teve direito a uma recente versão acústica de um dos seus temas que podem e devem confirmar ali abaixo.
terça-feira, 24 de novembro de 2020
KELLEY STOLTZ, AH POIS É!
O nosso "músico americano que parece inglês" preferido não desiste - Kelley Stoltz não larga a guitarra e outros instrumentos numa continua demanda por canções filtradas pelo psico-rock inglês ou pelo post-rock dos 80 sem que a qualidade pareça ser sequer questionada. A última façanha, a décima-segunda, tem na expressão "Ah! (etc)" um título sarcástico que confirma, afinal, que a vida continua e o melhor é mesmo aproveitá-la!
O disco foi crescendo desde 2019 em jeito de "one man band" caseiro, neste caso, com morada no Electric Duck Studio de São Francisco com ajudas ponteadas de alguns amigos como Will Sergeant dos Echo & the Bunnymen (sim, Stoltz fez parte da banda ao vivo), Karina Denike e Allyson Baker e sugere um retorno ao gosto pelo rock dos anos sessenta e oitenta depois de uma guinada recente pela pop através de "Hard Feeling", mais um disco posto cá fora em Setembro passado e de que só agora demos conta! Ah pois é...
(RE)VISTO #80
de Asif Kapadia. Inglaterra: On The Corner Films /Universal, 2015
TVCine Edition, 20 de Novembro de 2020
Partimos para a visualização deste premiado documentário (um Grammy pela música) com um travo amargo de tristeza... Saído há cinco anos, fomos adiando o sacrifício de conferir as imagens que, mesmo sem as conhecer, não queríamos ver. Aderimos à banda sonora que na altura pusemos a rodar no Ipod, essa sim, de bom grado e a fazer-nos recordar as excelentes canções que Amy Winehouse foi escrevendo e gravando ao longo da curta e trágica carreira, mesmo sabendo doutras tentativas prévias de retratar a desgraça como, por exemplo, a do Channel 5 inglês, a que fomos também resistindo. Contudo, a aparente seriedade e rigor com que este documento foi sendo continuamente classificado sempre nos ficou na memória e retina e, por isso, em fim de semana de confinamento acabamos por lhe dedicar a devida atenção. Valeu a pena?
Não é fácil responder. A vida em zigue-zague de uma artista tão talentosa, uma "alma antiga num corpo jovem", com emulsão no jazz cantado de Tony Bennet ou Sarah Vaughn e de voz tão poderosa sempre nos causou distância imediata de tão vacinados que ficamos quando o amigo de sempre nos colocou o álbum "Frank" no iPod com a aquela recomendação sagrada "ouve isto". Percebiam-se as influências, as raízes mas flutuava, desde logo, uma originalidade e um "je ne sais quoi" tão evidentes que nunca nos pareceu estranho o êxito do álbum seguinte, o imparável "Back to Black" que o avisado Mark Ronson levou para temperar junto de uns The Dap Kings um pouco desconfiados e até na retranca. As boas sensações que as canções sempre nos transmitiram à custa de toques invariáveis de classe e primor não chegavam, mesmo assim e por muito que a música fosse sempre o mais importante, para tapar os ouvidos e os olhos ao constante ruído de uma imprensa predadora e pronta a abocanhar o troféu, o deslize, o risível e todo o resto...
E o resto está cá todo, ou seja, o grau de fraqueza da condição humana a que nenhum poder monetário ou divino consegue pôr cobro, um limite de loucura passional descontrolado por uma alma gémea mortífera de nome Blake que, de tão doentia e, afinal, incurável, nos parece inverosímil e mesmo impossível. Fama, fortuna, vaidade, mentira, traição, cegueira ou ciúme... estão cá todas e todos nus e crus numa desgraçada dose letal que esbate uma qualquer capa da Time, da Rolling Stone e até da Blitz e que culminou num sábado à tarde de verão de 2011 com o esperado desenlace. Custou-nos, na altura, a desfazer o nó na garganta mas ele, sem querer, lá se atou outra vez ao fim de duas horas em frente à televisão e, por isso e ao contrário do prazer obtido com a audição dos discos, este é definitivamente um filme para ver penosamente uma só vez... e basta.
segunda-feira, 23 de novembro de 2020
SONDRE LERCHE, AINDA MAIS PACIÊNCIA!
Entretanto, os tempos pandémicos adiaram concertos suportados por uma verdadeira banda mas permitiram uma pequena digressão a solo pelo país, estando prometido um regresso em grande com um streaming global marcado para o dia 16 de Dezembro com o nome de "Patience Extravaganza" onde, para além de canções do último e excelente "Patience" já por aqui elogiado, se farão ouvir velharias ao lado de velhos compinchas de grupo, convidados e algumas surpresas.
A propósito, esse disco saído em Junho têm já uma edição melhorada, isto é, aumentada - "Patience Deluxe" disponível desde o mês passado inclui quatro novas canções e outras duas registadas ao vivo com a Norwegian Radio Orchestra, concerto a que podem aceder na totalidade aqui. Esses inéditos foram, ao longo de sete anos de composição do disco, postos de lado por diversas razões que agora se convertem numa validade aprovada pelo próprio Lerche tendo em conta a boa aceitação e paciente fruição do disco.
Para ouvir, então, os dois novos temas "Foreing Heart" e "I Could Not Love You Enough" a que se junta o video oficial para "I Can See Myself Without You", tema incluido no alinhamento original e que conta com a iluminada aparição da actriz Granger Green...
sábado, 21 de novembro de 2020
FAZ HOJE (29) ANOS #46
. Público, por Amílcar Correia, fotografia de Henrique Delgado, 23 de Novembro de 1991
THE DIVINE COMEDY, CARTA DE TRINTA ANOS!
Apesar dos centro e quarenta euros de custo, o tesouro posto a descoberto desde Agosto rapidamente evaporou o stock mas surge agora nova fornada com um excelente e atractivo bónus de bom gosto - uma carta do artista ("Letter from the Artist") escrita e assinada por Hannon e impressa de forma limitada e numerada à moda antiga, isto é, usando tipos móveis e máquinas vintage ainda plenamente funcionais! A cortesia ficou a cargo da The Letterpress Collective de Bristol, uma das muitas oficinas reactivadas ou remontadas mundo fora que não deixam perder a memória dessa secular e sempre surpreendente técnica chamada tipografia que tanto adoramos. Para o efeito e em termos técnicos, foi usada uma Heidelberg de moinho de 1964, como se confirma na imagem superior, e também um conjunto de caracteres em chumbo Monotype Garamond desenhados nos anos 40 mas de rasto no século XVII. Esta impressão, para a eternidade, em papel reciclado e tinta apropriada de cabeçalho a vermelho e texto a negro, faz com que cada folha seja um pedacinho de história irrepetível e, isso mesmo, apetecível!
Quanto a exemplares expressos do talento de Neil Hannon há, certamente, múltipla e difícil escolha para evocar esta caminhada, de pérolas escondidas como "Lost Property" ou clássicos épicos como "Our Mutual Friend". É só escolher...
sexta-feira, 20 de novembro de 2020
PAUL McCARTNEY, POM POM POM... PAIIIÁ!
O ursinho Rupert fez cem anos (8 de Novembro de 1920) desde que apareceu nas páginas do inglês "Daily Express" numa criação da artista Mary Tourtel e, aproveitando a comemoração, foi relançada uma versão em picture disc recortado um pouquinho maior com a icónica imagem da dupla onde cabem as duas versões originais do tema produzida por Sir George Martin mais uns bónus, mas o goodie está já esgotado em território europeu, o que só confirma que não estamos sós neste guilty pleasure!
Aproveitando o embalo, o referido video oficial foi remasterizado em resolução 4K, o trecho mais famoso da curta-metragem "Rupert and the Frog" dirigida por Geoff Dunbar para a qual McCartney compôs a célebre "canção do sapo" e que teve também direito ainda a uma inédita apresentação pelo coro juvenil LIPA4-19 no exterior do Auditório Paul McCartney do Liverpool Institute For Performing Arts.
Pom, pom, pom... estamos juntos!
QUE TRIO, QUE VERSÃO, QUE CANÇÃO!
quinta-feira, 19 de novembro de 2020
INDIGO SPARKE, A PROTEGIDA!
Aproveitamos para recordar a passagem em estreia de Sparke pelos escritórios da NPR em Fevereiro passado para uma terno de temas que foram todos excluídos do alinhamento do novo trabalho e onde, adivinhem, Lenker dá uma mãozinha protectora numa canção então sem nome mas depois baptizada de "Burn". Coincidência, ou não, um dos dois longos instrumentais do seu último e redentor álbum a solo "songs" chama-se... "music for indigo"!
quarta-feira, 18 de novembro de 2020
BONNY LIGHT HORSEMAN, MAIS QUALIDADE!
O álbum homónimo do trio Bonny Light Horseman, publicado em boa hora no início deste malogrado ano, anda a ser continuamente esticado aqui pela casa na forma e no conteúdo à espera de mais canções. No verão saiu um single com dois extras que acabaram preteridos do alinhamento, uma dupla que Anais Mitchell, a cantora principal, classificou como um par inseparável e que merecia casamento - nada melhor que um pequena rodela de vinil para plasmar "Green Rocky Road" e "Greenland Fishery" com desenho atractivo esverdeado mas a que ainda não conseguimos deitar a mão... Vamos continuar a tentar.
De surpresa, contudo e logo de seguida, aparecia uma versão de "Buzzin' Fly" de Tim Buckley como testemunho das capacidades da banda em recriar-se nessa maravilhosa canção de 1969 e que sinaliza a sua eternidade e transcendência sobre o amor e a natureza que faziam rodar o mundo melancólico e muito próprio de Buckley traduzida até no nome do disco, o terceiro da sua carreira, "Happy Sad".
Quase de forma conceptual, há agora uma outra cover para desfrutar - no âmbito da comemoração e reedição expandida do álbum homónimo de Elliott Smith de 1995, a organização americana Kill Rock Stars convidou uma série de artistas para realizarem versões de temas desse disco, cabendo aos Bonny Light Horseman uma recreação de "Clementine", um registo feito à distância e em separado pelo trio mas cujo grau de intimidade, como sinalizado, lhes deu o conforto de parecer que estavam na mesma sala numa noite de chuva!
RYAN HEMSWORTH, NÃO HÁ CRISE!
Para esta saída da zona de conforto nada melhor que chamar Meg Duffy (Hand Habbits), Charlie Martin (Hovvdy), a misteriosa dupla Claud and Yohuna e também Frances Quinlan (Hop Along) para o ajudar a acomodar-se a novas tendências, o que é válido para para ambos os lados, quase sempre acertadas em estúdio de forma presencial ou remota com os convidados e sem crises de um quarto de idade, seja lá o que isso quer dizer... Confortável!
terça-feira, 17 de novembro de 2020
SÉBASTIEN TELLIER, SIMPLES E EFICAZ!
Assumido como um renascimento da sua música de forma minimalista e limpa, Tellier decidiu registar em modo "ao vivo no estúdio" (o MoodoSudio parisiense) um conjunto de temas do referido disco deste ano a que juntou um punhado de antiguidades de uma longa carreira onde se destacam "Divine" ou "L' Amour et La Violence". A novidade chamada "Simple Mind" está à venda pela já adulta RecordMakers e teve até apresentação ao vivo e em directo na passada sexta-feira pelo canal Arte a partir da Gaîté Lyrique em Paris, onde ao longo de mais de uma hora se actualizaram eficazmente para o mundo as novas versões, incluindo uma do clássico "La Ritournelle".
(RE)VISTO #79
de Seamus Murphy. Irlanda/Reino Unido, Blinder Films/Pulser Films, 2019
TVCine Edition, Portugal, 13 de Novembro de 2020
Em 2016, aquando do lançamento e posterior desfrute de "The Hope Six Demolition Project", o nono e magnífico álbum de PJ Harvey, o travo das canções assumia uma vertente política incisiva e crítica de elevada pertinência perante o aumento das desigualdades e injustiças de um mundo global cada vez mais extremado, uma tendência que o disco anterior "Let England Shake" (2011) não disfarçava. Houve quem não gostasse, houve quem lamentasse mas o certo é que os temas então escritos, não o sabíamos, tiveram inspiração directa e presencial em cenários caóticos de guerra como a Bósnia, a Síria ou o Afeganistão ou outros territórios de desequilíbrios encapotados como Washington, a capital americana aparentemente pacífica mas onde a guetização e o racismo aguçam, sem fim à vista, a faca da revolta traduzida no próprio título do disco.
Notou-se esse grito de alerta aquando da passagem da artista e do seu fiel grupo de músicos pelo Primavera Sound no mesmo ano, uma efervescente perfomance de Polly Harvey que uma grande parte da legião de fãs não pareceu compreender na angústia de não ouvir os temas antigos - ali, na imensidão escura do parque portuense, temas como "Dollar, Dollar" ou "The Ministry of Social Affairs" ecoaram bem alto uma tensão libertadora que, afinal, não disfarçava a realidade nua e crua que a própria tinha visto bem de perto. Antes de iniciar todo o processo de gravação sofisticado e impoluto, visitou de caderno na mão, como referido, diversos locais e latitudes com o objectivo de conversar e ouvir pessoas e grupos e deixar que as histórias inspirassem as letras das suas canções na companhia de Seamus Murphy, fotógrafo e realizador que filmou tão brilhantemente esses momentos transpostos para este documentário.
De regresso a Londres, as palavras converteram-se em poemas e os poemas em canções gravadas durante cinco semanas num alvo cenário/estúdio construído na cave da Sumerset House e onde alguns grupos de interessados, sem se verem mutuamente, puderam assistir através de vidros às sessões durante quarenta e cinco minutos. A este processo, chamado "Recording in Progress", traduzido num género de mural de papel com as anotações preenchidas pela artista com o pormenores dos arranjos ou outras subtilezas, o filme dá uma atenção informal e não extensiva onde emerge uma camaradagem e compromisso divertido apesar do peso eventual das temáticas abordadas pela canções em gravação. Nesse contraste, Harvey, de preto, sempre de preto, comanda um grupo de instrumentistas assinalável que é uma extensão flexível do seu talento e que continua a surpreender pela aparente simplicidade dos processos de composição e num treino de aprendizagem contínua e, percebe-se, motivador.
São, contudo, as imagens no exterior deste estúdio, as tais captadas mundo fora, que acabam por envolver e sobrepor o documento com uma camada de realidade quase antropológica a que reagimos sem pestanejar pela sua dureza e beleza simultânea, traduzida num qualquer olhar desalentado, mas nada assustado, de um grupo de crianças afegãs (?) em frente a uma máquina de filmar ou os testemunhos em prosa rap de adolescentes americanos perdidos entre a droga e o crime e que, não sendo surpresa, nos ferem à distância. Quando uma das canções, a simbólica "The Community of Hope", é ensaiada a cappella numa igreja americana por um pequeno grupo coral e, potencialmente, transformada num hino de esperança, o filme já valeu a pena e todo o esforço e virtude de agitar o nosso íntimo e questionar-mos, sem resposta, de quanto tempo vai ser preciso para que tudo mude...
Nota: circula no youtube uma versão do filme em regime, supostamente, ilegal mas com alguma qualidade. Aproveitem!
segunda-feira, 16 de novembro de 2020
sábado, 14 de novembro de 2020
MARIKA HACKMAN, VERSÕES DO ISOLAMENTO!
Sozinha e no papel de produtora, entre a sua casa e a dos pais em Hampshire, Londres, das dez escolhidas para mistura final a cargo de David Wrench destacam-se "Playground Love" dos Air, "Phanton Limb" dos The Shins, "Between the Bars" de Elliott Smith, "You Never Wash Up After Yourself" dos Radiohead, "Pink Light" dos Muna, "Realiti" dos Grimes e, caramba, "Jupiter 4" de Sharon Van Etten. O resultado foi já devidamente apresentado em streaming ao lado da sua banda no dia de ontem a partir de uma qualquer abandonada piscina vazia...
EL PERRO DEL MAR, A MULTI-ARTISTA!
A sueca Sarah Assbring, auto-baptizada como El Perro Del Mar desde 2003, é uma daquelas artistas a que não se pode perder o rasto. Jogando sempre na inovação e na inquietação como postura fundamental de acção multidimensional, foi em Maio passado convidada a, sozinha, percorrer e absorver o Museu de Arte Moderna de Estcolmo, enquanto o espaço esteve encerrado ao público devido à pandemia, para compôr novos temas literalmente pela e para colecção de arte e que depois apresentou numa sessão à distância que podem confirmar no registo abaixo.
O contexto de inspiração recebeu o nome de "Free Land" e prolongou-se a um estúdio profissional resultante num novo álbum/EP com o mesmo nome a editar em breve (20 de Novembro) e que aborda a (des)contrução, a persistência e a resistência ao mundo ultra-comercial em que vivemos pela liberdade criativa e de expressão. Um dos temas é uma cover de "Alone in Halls" dos Black Sabbath com a participação de Blood Orange, estando já disponível um primeiro avanço oficial, enorme, de nome "Dreamers Change the World!" cujo video recebeu comando de estilo e de realização da amiga Nicole Walker e onde, às paisagens deslumbrantes, se junta um guarda-roupa Balenciaga. Um exclusivo em vinil está disponível no seu Bandcamp.
Na oportunidade, não podemos deixar de destacar duas outras grandes canções, entretanto, publicadas antes deste novo trabalho: "The Bells" do mês passado e destinado a, num grande ecrã, resultar numa canção de amor e "Please Stay", versão de Burt Bacharah já com mais de um ano, mas sem prazo de validade, e que nessa altura fez parte de uma perfomance de dança no Royal Dramatic Theatre de Estocolmo. Notável!
sexta-feira, 13 de novembro de 2020
MORRISSEY & BOWIE, EDIÇÃO OFICIAL!
Na outra face da rodela repousará uma outra versão, inédita, de "That's Entertainment" dos The Jam de Paul Weller, uma variação ainda não disponível para audição da cover mais comum que Morrissey interpretava, por essa altura, nos seus concertos e que foi incluída na colectânea "The Best of Morrissey - Suedehead" editada pela Parlaphone também 1991. Tratem lá de ouvir e comparar...
THE NOTWIST, DIAS VERTIGINOSOS!
Ao fim de sete anos sem discos de originais, "Vertigo Days" reúne catorze temas, como sempre, arriscados e exploratórios, três deles já incluídos no referido EP e onde colaboram, entre outros, o duo japonês Tenniscoats, o multi-instrumentista americano Ben LaMar Gay e a chilena Juliana Molina, uma estratégia do duo fundador (1989!) Markus e Micha Acher, a que se junta Cico Beck, em expandir o conceito de banda com novas vozes, ideias e até linguagens instrumentais e que aparenta um produto final quase cinematográfico para disfrutar com calma e em longa duração nestes dias de vertigem. O disco sairá a 29 de Janeiro de 2021 em variados formatos pela Morr Music.
quinta-feira, 12 de novembro de 2020
SHARON VAN ETTEN, O NATAL É JÁ ALI!
Embora confessando que o disco de Natal de Bob Dylan ("Christmas In the Heart" de 2009?) é, desde logo, imbatível, Sharon Van Etten não se sai nada mal na recriação de dois clássicos - "Silent Night" e "Blue Christmas" estão desde hoje disponíveis para confortar um pouco melhor os próximos tempos. Ficamos à espera de um mais que merecido single de vinil para juntar à colecção...
quarta-feira, 11 de novembro de 2020
PHOEBE BRIDGERS, QUARTETO DE CORDAS!
terça-feira, 10 de novembro de 2020
ALICE PHOEBE LOU, ÁLBUM E (figas) CONCERTO!
Se as passagens anteriores puseram a descoberto o magnífico álbum "Paper Castles" que então tinha lançado, um agregado de canções notáveis e surpreendentes, a oportunidade futura servirá, certamente, para a estreia ao vivo de muitos dos temas de um novo disco a editar por essa altura e que receberá o título de "Glow". Há, aparentemente, dois desses inéditos já reunidos num sete polegadas de vinil e que a artista aproveitou para divulgar a solo aquando de uma promoção solidária referente ao Dia dos Oceanos em Junho último, mas de "Witches", uma das duas novidades, circula já há alguns meses um clip oficial.
Segundo a própria e de forma involuntária, é o amor a temática vertida para o conjunto destas canções e cujos destinatários/ouvintes se pretende que sintam essa força profunda e honesta que teve no isolamento forçado um casulo de semente desconhecida e vulnerável. Nessa procura pela simplicidade, Lou dedicou-se a, sem truques, registar a voz e os instrumentos de forma analógica para o que foi requisitado um estúdio no Canadá com microfones, amplificadores e quejandos à moda antiga. A aventura foi filmada em documentário, ainda não disponível, pelo amigo Julian Culverhouse, o mesmo realizador de um outro testemunho ao vivo referente à tal digressão anterior e que se pode ver, com prazer, abaixo.
segunda-feira, 9 de novembro de 2020
FAZ HOJE (30) ANOS #45
. Público, por Jorge Dias, 11 de Novembro de 1990, p. ?
sábado, 7 de novembro de 2020
quinta-feira, 5 de novembro de 2020
CHILLY CHRISTMAS GONZALES!
Na lista de versões surgem os clássicos pop dos Wham e Mariah Carey mas também os incontornáveis "Silent Night", "Tannembaum" ou "Jingle Bells" em tom menor e, por isso e segundo o próprio, mais sincero e próximo da realidade. Uma prendinha fresquinha... mas com direito a meias quentinhas!
quarta-feira, 4 de novembro de 2020
FAZ HOJE (15) ANOS #44
. Público, por Nuno Pacheco, fotografia de Miguel Madeira, 5 de Novembro de 2005, p. 41
terça-feira, 3 de novembro de 2020
TUNNG, DEDICATÓRIA AOS QUE SOFREM!
Surge, assim, "Dead Club", um arrojado oitavo álbum de uma banda a que sempre estivemos atentos e despertos (vai já longe um saboroso serão natalício no gelado Sá da Bandeira...) comandados pelo talento de Mike Lindsay e que confirma o seu constante vanguardismo, inquietude e carisma (basta lembrar os Lump ao lado de Laura Marling). O resultado é dedicado a todos que estão sofrendo e de luto e, apesar de uma ténue escuridão, transforma-se numa agradável surpresa de meandros pop-sofisticado e airoso que espanta medos e até trás sorrisos. Bem precisamos!
segunda-feira, 2 de novembro de 2020
LULUC, PROLONGA-SE A MAGIA!
A subtil mudança da Sup-Pop para a desconhecida Sun Chase Records concretiza-se, assim, em "Dreamboat", novo trabalho de dez pedaços que recebeu a ajuda do amigo Aaron Dressner dos The National em dois temas - "Emerald City" e "Weatherbirds" - registados no estúdio Funkhaus de Berlin, uma colaboração que repete a parceria efectuada em "Sculptor", enorme disco de 2018. Estão já disponíveis versões físicas em CD mas o melhor será esperar pela bonita rodela em verde esmeralda a saír no próximo mês!
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