Se em 2018 o espectáculo se centrou, ainda e sempre, numa escuridão provinda das trevas que dizia ter experimentado assustada, o que se traduziu num concerto mágico literalmente às escuras e de que "Black Fly" foi, e ainda é, o hino purificador, o ritual de sexta-feira passada conseguiu sobrepor essa memória pungente com a participação de um decateto de cordas da Escola Profissional de Música de Espinho em seis temas iniciais onde se retomou, como não, esse "Black Fly" permeado por canções do novo disco, uma escolha intencional, catártica e inesquecível, mas agora de luz, mesmo que ténue, acesa e iluminadora de um dramatismo saboroso e vibrante que, pegajoso, se espalhou pela plateia sem contemplações
A morte, claro, esteve por lá a pairar nas vestes escuras e no chapéu de corvo, na própria esfinge de braço apontado em cima do banco do piano ("Sculpting the Exodus"), no ajoelhar venerado em frente às ajudantes da cerimónia ("Brainshift"), no rufar dos tambores ("Dogma"), na cimeira tonalidade da voz libertadora e cortante ("Stranger") ou no susto negro dos Bauhaus agarrada a uma lâmpada avermelhada em flash ("Double Dare"), todos momentos que agigantaram uma perfomance vencedora e a laurear o que interessa, a vida e a alegria a que um segundo encore deu emancipação e acalmia com a habitual versão de Lucinda Williams e esse pedaço de amor antigo e misterioso chamado "Fantasize the Scene". Um deslumbramento, num dos melhores concertos do ano!
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