quinta-feira, 20 de outubro de 2022

(RE)LIDO #108





















PREFAB SPROUT - La Vida Es Un Milagro 
de Carlos Pérez de Ziriza. Valencia: Efe Eme, 2021 
Não são muitos os livros sobre os Prefab Sprout ou o seu principal mentor, Paddy McAloon, embora a rede disponibilize variados conteúdos documentais e biográficos há muito activos - o caso do site Sproutology é bem elucidativo - tendo chegado a existir a intenção, falhada, de editar uma trilogia de volumes que se ficou pelo primeiro. Um livro em castelhano sobre o assunto é, por isso, um acaso estranho e corajoso que assenta na vontade empenhada de um apaixonado pela banda, demasiado apaixonado, o que têm os seus méritos e naturais inconvenientes. 

A insistência, o lembrete contínuo, de que McAloon é um dos melhores escritores de canções da história da música moderna, uma panaceia do próprio que nos é recordada em letras maiores num dos separadores destacado antes da cronologia, espalha-se por muitas das partes de uma narrativa que, longe de uma exaustiva biografia, se arrumou em temáticas de título metafórico - as origens, o legado, os produtores, os discos ou o negócio da música a que se acrescenta um capítulo sobre as supostas influências e confluências, os herdeiros. As suas quase trinta páginas, de A a Z, que começam com os ABBA e acabem em Wolfgang Amadeus Mozart, são uma pretensão exagerada que serve, de forma involuntária, como uma pequena distracção extra-pop sobre músicos, actores, composição ou gravação de gente diversa como Donna Summer, Ravel, Kyle Minogue ou T. Rex (!). Uma casca fina, despretensiosa e confitada, para o que se segue, o verdadeiro sumo espremido do livro... 

As duas entrevistas telefónicas que o autor fez a McAloon, conversas separadas por meses que não ultrapassaram as duas horas, foram um fortúnio raro que por si só valem o questionável esforço editorial. Em tom informal, o autor fez um exaustivo estudo prévio de todo um mundo obscurecido por problemas de saúde e uma consequente reclusão de um personagem cada vez mais enigmático mas que não se coíbe em dar respostas efectivas e a contar histórias de sabor surpreendente e até didáctico. A estratégia de mostrar serviço na preparação das perguntas e das contra-respostas, um dom jornalístico nem sempre conseguido mas que no caso se afigura bastante apurado, permite uma percepção intensa e na primeira pessoa da mente, afinal, estruturada e metódica de um compositor maior que foi propositadamente esquecido pela concorrência. 

Escolher as suas cinquenta melhores canções - "Lista de cosas imposibles" - é, assim, um desafio final a que o fã Ziriza não resiste, tecendo até os seus juízos para cada uma delas, sequência que podem ouvir por aqui. (Im)perfeito, o nosso eterno quarteto de eleição está aqui abaixo... e sem justificações a não ser que se podem ouvir seguidas num único disco!




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