sexta-feira, 14 de outubro de 2022

MÁRIO BARREIROS, “Dois Quartetos sobre o Mar", Casa da Música, Porto, 11 de Outubro de 2022





















Era já remota a nossa aspiração em ver Mário Barreiros comandar em palco um bom grupo de músicos de jazz, sapiência que os anos de experiência em estúdio ou em salas de aula foi fortalecendo sem pressas. O disco editado este ano "Dois Quartetos Sobre o Mar" é o sinal dessa ponderação e maturidade que reuniu para a ocasião os parceiros certos para completar composições inéditas de duas ondulações impulsionadas pela sua bateria - a contemplativa com o quarteto "Pacífico" e a exploratória com um outro quarteto, o "Abissal". 

A reunião destes sete músicos de uma só vez afigurava-se rara mas, acima de tudo, desafiante para uma plateia que ocupou um pouco mais de metade das cadeiras, uma imensidão desnecessária que talvez a sala mais confortável e acolhedora do piso de cima se prestasse a um melhor desempenho. Na primeira parte, a frieza consequente demorou a dissipar-se com o quarteto "Pacífico" a tocar os quatro temas iniciais do referido disco e onde o saxofone de Ricardo Toscano se mostrou o mais irrequieto e descontraído de uma sequência demasiado cumpridora dos originais. Nada a dizer da sua irrepreensibilidade, mas isto do jazz ao vivo nem sempre é formalidade. 

O concerto alterou-se depois, cresceu, com a entrada do quarteto "Abissal" para se juntar numa primeira vez aos restantes pacíficos, um momento intenso na inusitada e gostosa sonoridade conjunta que, suspiramos, se podia ter prolongado bem mais um pouco. Quando, novamente, todos se reuniram para uma fenomenal recreação final de um original de Coltrane, um dos muitos heróis de Barreiros, as palmas obtidas bem que podiam se ter estendido fortes no apelo a um encore que merecia ter acontecido - um "podemos ficar até às tantas" ainda foi atirado nos agradecimentos - mas a maioria pareceu já satisfeita com o instrumental apresentado e a sua inquestionável qualidade. Faltou, mesmo assim, um mergulho refrescante no mar do improviso e da surpresa..

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