quinta-feira, 27 de outubro de 2022

VINCENT MOON'S LIVE CINEMA, M.Ou.Co., Porto, 24 de Outubro de 2022

                                                 Fotografia: facebook de M.Ou.Co.
















Com uma carreira de mais de vinte anos, pela câmara de filmar adentro do francês Vincent Moon já entraram os The National, Beirut, Arcade Fire, Efterklang ou Olafur Arnalds, só para citar alguns dos mais conhecidos. A lista chega a ser ilimitada se lhe juntarmos os pedaços que filmou para série La Blogothéque/Take Away Shows, um acervo histórico da música da última década quase a merecer classificação patrimonial e que decidiu abandonar para se lançar num projecto mais irrequieto e ambulante. Chamou-lhe "Petites Planètes", colecção disponível à distância de um play, e constitui um desafio explorador e documental ao lado companheira Priscilla Telmon onde se cruza cinema e música em formato etnográfico, mas também estético e fílmico, que alcança latitudes e geografias recônditas nos cinco continentes. 

Desde 2017 e pegando nesses "mini-planetas", Moon aventurou-se numa perfomance ao vivo que combina, em sessões irrepetíveis, as gravações (imagem e som) que tem recolhido em vários locais, improvisando e editando as imagens no momento, o que no M.Ou.Co. teve direito a mesa de "Vj" bem no centro do espaço rodeada por cerca de oitenta pessoas que responderam ao desafio. Pena que se tivessem que sentar no chão - a opção de não instalar cadeiras pereceu-nos incompreensível dado o desconforto físico e, já agora, o preço do bilhete - para de forma concentrada testarem a experiência imersiva que foi crescendo de intensidade e vibração ao longo de uma hora. 

Os sons que acompanham a beleza das imagens de ritos sagrados, tribos amazónicas, cerimónias tradicionais ou canções de embalar, foram também eles manipulados e entrecruzados pelo artista com mestria e algum risco, uma sequência e ondulação criativa de notório sucesso sensorial apesar do estado de enfermidade que, confessou, estar a ultrapassar aos poucos. 

Neste regresso à cidade ao fim de menos de um ano, os dois fragmentos portuenses que utilizou já mais perto do final, registos feitos aquando do Womex do ano passado (vide abaixo), haveriam de dar ao desempenho uma expressão de carinho que foi notório desde o início, um encontro de velhos e novos amigos em que, ao amor pelo cinema e pela música, se juntou um virtuoso espírito de descoberta e uma cada vez mais esquecida partilha de conhecimento(s) presencial.   


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