terça-feira, 30 de novembro de 2021

SCOTT MATTHEWS, M.ou.co., Porto, 28 de Novembro de 2021

Depois de mais de uma década ausente do nosso país, a terceira visita do inglês Scott Matthews em quatro anos, a segunda em formato solitário e a sua estreia no Porto, confirmou o que era óbvio. Há público, interesse e paixão, que pareciam escondidos, pelas suas canções que não perdem qualquer sabor e paladar com o passar dos anos. Foi, por isso, bastante agradável ver o novo espaço quase repleto para o ouvir num final de tarde de Domingo chuvoso mas caloroso na partilha e reciprocidade de afectos. 

Podemos até já conhecer a maioria das piadas, dos apartes, dos desafios ou quizz como o do Danny Thompson, o da banda-sonora de uma série televisiva, o do anúncio comercial a um after-shave francês ou a imitação do Miles Davis, que é sempre como se fosse a primeira vez que os ouvimos contados com virtude e classe. De forma semelhante, quanto às canções, a qualidade da interpretação só melhora com o tempo, talvez devido ao tratamento prévio com hidromel ou às calorias benéficas e elogiadas da cozinha portuguesa... Mudando de guitarra eléctrica para acústica ou vice-versa, a camada de suavidade e tenacidade que a sua voz alcança permite-lhe sempre uma segurança muito própria de acentuar e encaixar as palavras entre a subtileza dos acordes mesmo que lhe acrescente loops e pré-gravações como aconteceu, sem pressão e com êxito, em alguns dos novos tema do álbum "New Skin". 

Bruxedos ou fenómenos à parte, apesar dos inexplicáveis cortes e silêncios da amplificação aquando de, claro, "Intruders on Earth", o concerto flutuou naquela ondulação infalível de boa disposição e seriedade que a profundidade dos temas eleitos evidenciou maravilhosamente apesar de "Elusive" ou "Dear Angel", duas das nossas perdições, terem ficado de fora. Tudo se perdoa, contudo, quando no encore e depois de um trepidante "Virginia", Matthews desceu para o meio da plateia para um derradeiro e próximo "Home & Dry" de um grau de ternura e conforto deliciosos. Bem-hajas, old chap!

BOOGARINS, REGRESSO AO PORTO!






















Os brasileiros Boogarins regressam às digressões na Europa em 2022, sendo o Porto a cidade escolhida para o tiro de partida marcado para o dia 10 de Fevereiro, quinta-feira, mesmo que seja desconhecido o local do encontro. 

A banda retomou os concertos ao vivo este mês depois de uma longa temporada na "retranca" obrigatória, o que foi aproveitado para a emissão de um conjunto de seis episódios chamados "Sessões de Cura e Libertação" emitidos em Abril passado e que são uma imersão nos arquivos e memórias da responsabilidade de Gabriel Rolim, artista visual envolvido desde sempre nos videos e cenários do quarteto de Goiânia. Aqui fica o primeiro...

TOMÁS WALLENSTEIN + YUSEFF DAYES, Festival Para Gente Sentada, Theatro Circo, Braga, 27 de Novembro de 2021

É certo que Tomás Wallenstein sabe compor boas canções. Sabe, pelo menos, tocar guitarra e piano. Sabe ainda juntar palavras como deve ser para algumas das letras dos Capitão Fausto. Sabemos que não é nenhum Tobias Jesso Jr. mas, caramba, temos é fortes dúvidas que a tonalidade da voz seja sequer a acertada. Quando decide aventurar-se sozinho numa sala tão especial como o Theatro Circo com um grande piano como parceiro, o momento assume riscos e fragilidades que se tornaram evidentes na meia dúzia de temas alheios e originais eleitos para um alinhamento perigoso. 

Talvez por se aproximar no tom com o de B Fachada, a primeira canção até que parecia prometer alguma consistência mas o serão avançou sofrível, frio, distante, fazendo da escuta das versões de José Afonso, Luís Severo, Erasmo Carlos ou Tozé Brito uma experiência desinteressante. Não ajudou um discurso entre passagens um pouco altivo, confuso e até incompreensível para um músico já com uns anitos de palco. Como suposto convívio numa sala de estar caseira entre conversas e copos, o momento já não deixava saudades, como concerto pago num teatro clássico, o resultado penoso afigurou-se inadequado na dimensão e no intento. Desnecessário. 
Sala Capitol, Madrid (?). Foto: Twitter de Yuseff Dayes

















De outra galáxia foi o regresso à sala depois do intervalo. A experiência orbital que Yuseff Dayes e restante tripulação proporcionaram ao longo de uma hora e meia de viagem ultrapassou qualquer previsão de rota, embora a turbulência ocorrida tenha origem no sul de Londres e se espalhe, sem contemplações, por onde passa. Mestre imbatível da moderna bateria, Dayes teve a seu lado mais dois extraterrestres de semelhante estrelato - o teclista e pianista Charlie Stacey, que não se fez rogado pela presença em palco de um grande piano do qual usou e abusou de forma magistral, e o baixista Rocco Palladino, descendente de uma famosa linhagem galesa chamada Pino Palladino, colaborador em discos e palcos de músicos como Eric Clapton, Paul Simon, The Who ou D'Angelo, mestria que atingiu o auge, precisamente, com a apresentação de uma versão instrumental de "Spanish Joint" pertencente ao álbum "Voodoo" (2000) onde o pai colaborou intensamente com D'Angelo. Juntou-se ainda, discreto mas assertivo, um percussionista de nome Alexander. 

A inebriante experiência sonora, que tem já registo oficial no disco ao vivo em Copenhaga "Welcome to The Hills" editado em 2020 pela Blue Note, faz-se de duelos e cumplicidades quase circenses atendendo ao ajuste simultâneo dos instrumentos, uma constante e saborosa tensão que bebe e amadurece na música negra de décadas sobrepostas sem que o virtuosismo do colectivo perca qualquer groove ou potência, uma progressão que agora alcançou uns bons pontos acima da anterior passagem pelo Minho. Num abrir e fechar de olhos, estávamos no semi-encore já que Dayes não chegou a sair do palco antes de lançar um "You want one more?" e cuja resposta efusiva nos conduziu a mais quinze minutos de trip jazzística funktástica. Concerto do ano!

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

DUETOS IMPROVÁVEIS #250

BRIAN WILSON & JIM JAMES 
Right Where I Belong (Wilson) 
Banda sonora do documentário "Long Promised Road"
Lakeshore Records, Novembro de 2021

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

PVC - PORTO VINIL CIRCUITO #29





















Sobre a Casa Gouveia Machado, com sede em Lisboa e fundada em 1914, já outros blogs foram dando conta da sua importância em plenos anos 60 no fornecimento de instrumentos, nomeadamente, as desejadas guitarras eléctricas fundamentais para se formar uma banda, melhor, um conjunto. Seria lógico que no mesmo espaço comercial coexistissem aparelhagens e acessórios como amplificadores, gira-discos, rádios e discos de vinil. Contudo, a sua fama residia na diversidade de instrumentos disponíveis para aquisição em modo de prestações e que podia variar de um piano a um simples saxofone ou trompete que decoram o envelope reproduzido acima e que diz respeito à filial instalada no Porto.

A rua escolhida, a Rua Formosa, foi sempre conhecida pela concentração de lojas de instrumentos, tradição que se mantinha até antes da explosão turística e choque imobiliário. Segundo artigo do jornal Público, em Setembro de 2017 na "rua dos instrumentos musicais" só duas se mantinham abertas entre as cinco que chegaram a concorrer e onde certamente se incluía a Casa Gouveia Machado mesmo sem sabermos em que ano encerrou a actividade. Atendendo à data constante do envelope impresso na Tipografia Formosa, em Dezembro de 1975 a oferta de produtos era de uma abrangência exemplar, chegando a incluir os livros de solfejo, músicas e métodos para além de uma variedade de instrumentos, muitos provenientes de fábrica própria instalada em Via Nova de Gaia, hoje, naturalmente, um armazém de vinhos do Porto. O nº 63 da Rua Formosa é agora um centro de yoga que ocupa, aparentemente, a totalidade de uma área comercial considerável. 

Ah, no interior do referido envelope calhou-nos uma xaropada de ópera moderna do Gianni Morandi de 1973 mas na sua prensagem RCA italiana, provando que o negócio se estendia ainda à importação de discos...   
   























UAUU #623

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

THE BLACK LIPS, Maus Hábitos, Porto, 23 de Novembro de 2021

A cidade do Porto é para os The Black Lips um poiso obrigatório sinónimo de um mítico concerto no barco Gandulfe acostado ali junto a Massarelos e onde, em 2008, presenciamos um dos mais frenéticos e memoráveis momentos rock & roll de sempre... O regresso a um espectáculo dos de Atlanta já devia ter acontecido em 2012 na primeira edição do Primavera Sound portuense, falhado por oferta excessiva, ou em 2017 também nos Maus Hábitos, trocada por uma ida a Espinho para ver o ídolo Mark Eitzel. 

Os tempos são agora outros e mesmo com mudanças de line-up, o serão provou que as sete ou nove vidas da banda resistem a desgastes ou bojardas rebatidos nos discos que não dispensam de gravar e onde agora pontifica o saxofone e a voz de Zumi Rosow em constante e indispensável desafio com os fundadores Cole Alexander e Jared Swilley. Foi neste rodopiar de microfones que o serão se esfumou num turbilhão de canções curtas e sujas que arrasaram a plateia mesmo que sem exageros, arrebatamentos ou rebuliços, o que nos fez lembrar a letra de uma recente canção embaladeira de Ron Gallo

Entre a vintena de temas alinhados não faltaram clássicos como "Oh Katrina!", "Can't Hold On" ou o magistral "Crystal Night", apresentado com um número romântico mas cuja subversão é somente mais um indício de uma inquietação visceral que se estendeu, por exemplo, a uma versão de "Get It On Time" dos Velvet Underground, uma canção inacabada que a banda decidiu, em boa hora, assumir num género de curadoria artística. Vibrantes e sem rodeios, estes Black Lips continuam a fazer da eficiência e da solidariedade em palco uma festa ainda e sempre imprescindível a qualquer um dos mundos do rock que se preze.   

terça-feira, 23 de novembro de 2021

ANNA B SAVAGE, PUNGENTE!

A propósito de lua rosa, a menina Anna B Savage registou um dos álbuns do ano chamado "A Common Turn", passou por Guimarães há quinze dias atrás sem que lhe tivessem ligado muito (mea culpa, mas não conseguimos comparecer de todo) e entre as magníficas canções há uma que recebeu um género de upgrade honorífico! 

Em "Hotel", onde se canta 

I turn the big lights off 
I put my headphones in 
I scroll to Pink Moon 
I hope I fall asleep soon 

acrescentou-se há cerca de um mês um coro para uma versão ainda mais intensa que o original do disco. Trata-se do Institute Collective, um ensemble contemporâneo inglês fundado pelo produtor e arranjador Hughie Gavin que junta artistas disponíveis para colaboração e interacção com outros artistas. Pungente!


A LUA ROSA, MAS INVISÍVEL, DE SUFJAN STEVENS!













As reacções a uma versão de "Pink Moon" de Nick Drake gravada por Sufjan Stevens surpreendem pelo exagero e até algum rancor. Que se trata de um sacrilégio, que é uma afronta e outros impropérios que não têm explicação já que até hoje ainda ninguém conseguiu ouvir o resultado final. A cover está incluída num dos lados de um atractivo sete polegadas de vinil que apresenta no verso uma outra versão do mesmo tema a cargo da britânica Hannah Peel, o que não deixa de ser também surpreendente. 

Trata-se de um acrescento ao livro do ilustrador e artista Marcel Dzama onde são compiladas visões e experiências obtidas em viagens ao México e Marrocos, sendo este país, supostamente, a ligação rebuscada do projecto ao malogrado Drake que por lá andou na juventude inquieta. Aceitam-se encomendas perigosas (proveniência Reino Unido) através da Rough Trade...

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

BAT FOR LASHES, PRÉ-NATAL!

Ao longo de 2020 e 2021, o confinamento permitiu a Natasha Khan aka Bat For Lashes uma série de transmissões virtuais de bilhete pago onde desfilou, sozinha e com a ajuda de um teclado, uma selecção de temas da sua autoria em versão minimal ou inédita. A intimidade das apresentações confirmou a gravidez adiantada de uma menina, uma dádiva que o recolhimento caseiro ajudou no alívio e sucesso pré-natal como confessado em entrevista de Maio passado, altura onde já se previa a edição de um álbum exclusivamente disponível pelo Bandcamp que eternizasse os momentos emitidos a partir do lar californiano e fazendo realçar a temática do amor. 

Agora que a pandemia sugere resistência, surge um video do tema "Deep See River" desse modo caseiro, faixa que encerrava o disco "The Haunted Man" de 2012, e que serve de anúncio a um regresso aos concertos à distância marcado para 17 de Dezembro próximo. Em jeito de celebração natalícia e com o auxílio de um conjunto de cordas, o evento não será transmitido directamente já que se trata de um espectáculo previamente gravado com cenários hollywodescos e adereços originais e onde colaboram uma série de amigos na interpretação animada de versões de Natal e canções clássicas da própria Khan. Acesso remoto já disponível.

GENUINAMENTE DIVINE COMEDY!

Como previamente divulgado, aproxima-se um best of dos The Divine Comedy com direito a digressão a passar pelo Porto e uma canção inédita. Chama-se "The Best Mistakes", tem video biográfico com uma inteligente utilização de muitos dos desenhos e ambientes de capas e videos que Neil Hannon publicou nestes mais de trinta anos de carreira, e não engana quanto ao calibre da composição super-pop. Sem falhas, o genuíno!

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

DUETOS IMPROVÁVEIS #249

KYLIE MINOGUE & JESSIE WARE 
Kiss of life (Minogue) 
Ao vivo no The Jonathan Ross Show 
ITV, Reino Unido, 13 de Novembro de 2021

CATE LE BON, SANTA IRONIA!






















Ironia, ironia, mais ironia, daquela pertinente e sarcástica em modo canção é o que Cate Le Bon nos sugere ao longo de nove trechos do sexto álbum "Pompeii" a editar dia 4 de Fevereiro de 2022. Na capa, ironicamente, claro, mas com uma indisfarçável força, uma imagem pintada pelo amigo Tim Presley (White Fence/Drinks) de uma Cate de punho cerrado e traje de enfermeira/santa pronta a ajudar a curar o mundo da desgraça emergente, da anarquia capitalista ou da catástrofe climática. A remissão para o nome de uma cidade romana destruída pela força da lava do Vesúvio e da consequente e mortal chuva de cinzas é só mais um juízo metafórico dos nossos dias inclinados. 

O disco foi composto de forma individual e ferrenha, começando pelo baixo que se faz bem notar nas duas canções já dadas a conhecer (Cate é cotada no novo álbum de Courtney Barnett precisamente a tocar baixo no tema "If I Don't Hear from You Tonight") estendendo-se aos outros instrumentos (excepto o saxofone e a bateria, esta a cargo, mais uma vez, da amiga Stella Mozgawa/Warpaint) tocados e registados pela própria com ajuda de Samur Khouja num processo laborioso e ofegante levado a cabo num estúdio de Cardiff, País de Gales. 

Visionária mas vulnerável, tudo sugere uma Cate Le Bon cada vez mais adulta, imprevisível ou desformatada que se afirma pela coragem com que enfrenta a infindável resposta à pergunta "how to make music that sounds like a painting?". Difícil, certamente, mas nada que assuste uma artista que tem na dúvida/sonho o comando da vida. Sem ironias.


quinta-feira, 18 de novembro de 2021

EELS, NOVO ÁLBUM E CONCIERTO!






















Há na carreira dos Eels do magistral Mark Oliver Everett, ou simplesmente E, tanto de carismático como de perturbante. São já trinta anos a espalhar rock alternativo de veia poética ou lunática numa boa quinzena de álbuns onde, quase sempre, sobressai um mundo muito próprio de alucinação ou reflexão, o que pode ser confirmado pelo excelente "Earth to Dora" de 2020, mais uma infusão intensa sobre desgaste familiar ou emocional que acelera, mesmo assim, em optimismo e boa-disposição. 

O disco mereceria digressão intensa não fosse a imobilidade da pandemia o que proporcionou, está claro, o registo de um outro trabalho de originais chamado "Extreme Witchcraft" a sair já em Janeiro e do qual se conhecem dois temas. Trata-se, afinal, de uma parceria produtiva e de escrita com John Parish, conhecido guitarrista e produtor de nomes como PJ Harvey, que evoca e comemora a primeira das colaborações entre ambos traduzida no mítico álbum "Souljacker", já lá vão vinte anos! 

Agora sim, bater na madeira, a digressão adiada foi remarcada para a Europa já a partir de Março, chegando milagrosamente a Vigo, Espanha, no dia 12 de Abril, terça-feira (bilhetes já disponíveis), no que parece ser a oportunidade perfeita para, pela primeira vez, lhe colocarmos os ouvidos e olhos em cima como há muito desejado, depois de oportunidades falhadas em 2010 (Coliseu de Lisboa) ou 2018 (Nos Alive, Oeiras).


UAUU #622

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

40 WATT SUN, MISTÉRIO REVELADOR!

Agora que Mark Kozelek se mantém em retiro silencioso depois das graves acusações de que foi vitima e sem qualquer previsão de regresso aos palcos e que o outro Mark, Mark Eitzel, se encontra a recuperar de um ataque cardíaco ocorrido a semana passada (as melhoras sinceras desde o Porto/Portugal, get well soon!), nada como retomar uma sonoridade a fazer lembrar os Red House Painters e os American Music Club de boa memória - chamam-se 40 Watt Sun, já cá andam há uma década e terão em breve novo álbum, o terceiro, nomeado "Perfect Light". À história curiosa da banda está associado o nome de Patrick Walker, músico inglês dedicado ao metal e doom com o antigo projecto Warning mas que inverteu, a partir de 2016, os freios da guitarra para algo mais folk e relaxado a que acrescentou a sua voz de forma mais notória. 

O nome 40 Watt Sun, inspirado num título de uma canção dos heróis Marillion, sim, esses mesmos, é agora sinónimo de um trovadorismo denso de tipicidade britânica mas que se alarga nas comparações ou influências a nomes no feminino como Emma Ruth Rundle com quem já partilharam palcos e estúdios, como o prova uma versão a meias do novo tema "Reveal" incluído numa edição especial do próximo disco já disponível para encomenda. Ruth tinha, aliás, já feito uma cover de "Carry Me Home" que Walker registou em 2011 em "Inside Room", disco que marcou o finar da veia metálica. Um projecto sem pressas e que se estende invariavelmente num mistério revelador... 


WILL SAMSON E MESSAGE TO BEARS, (RE)UNIÃO!















Nos últimos anos, os amigos Will Samson e Jerome Alexander (Message To Bears) fomentaram o hábito salutar de contribuir naturalmente para os discos que foram gravando em nome próprio. Mas em 2020 com o álbum "Together", desafio concretizado em oito dias no estúdio caseiro de Jerome na cidade de Bristol, Inglaterra, a que se seguiu um single de dois temas ("Already Am" e "Always Was"), a dupla assumiu em definitivo essa espontaneidade de partilha. 

Há agora uma nova intuição com o mesmo formato que resulta da paragem nas digressões causadas pela chegada da pandemia e é traduzido no disco "Flow State Mosaic" onde cabem dez temas emergentes de um pressuposto - tocar a quase totalidade dos instrumentos acústicos existentes no referido estúdio e obter samples de sons e ruídos inauditos, desde água a correr até ao barulho de um molho de chaves.  

O resultado, obtido em menos de quinze dias e de que deixamos dois exemplos com título de aparente inspiração lusitana, confirma o mistério e a magia a que Samson nos habituou, ele próprio em constante dúvida artística que a meditação caseira tem ajudado no esclarecimento. O assunto, a que se dedica há muito (leia-se o excelente artigo "Nothing But Hope and Passion" que escreveu em 2004 e que agora se republica), pode ser melhor elucidado no episódio da série "Latitude / Longitude" onde, ele próprio, aprofunda esse conceito aparentemente fácil do que pode ser isso de "lar/casa/caseiro"...



terça-feira, 16 de novembro de 2021

BRAD MEHLDAU E OS THE BEATLES!

Fez-nos água na boca a passagem a solo do pianista maravilha Brad Mehldau pela Philarmonie de Paris em Setembro do ano passado para tocar canções dos The Beatles, uma da suas confessadas paixões ao lado de outros monstros da música como Nick Drake, Paul Simon, Jeff Buckley, Radiohead, Nirvana e até Chico Buarque. 

O incontornável canal Mezzo fará o obséquio de, a partir de quinta-feira, 18 de Novembro (19h30, mas com repetição programada em vários horários da próxima semana), emitir uma selecção de cinquenta minutos referente a esse longo reportório que inclui ainda, na emissão original, passagens por versões de Bowie, Beach Boys, Billy Joel e The Zombies. Se não quiserem esperar, nada como o recurso, mesmo que ilegal, ao canal generalista para uma supervisão total...

YUSSEF DAYES, REGRESSO AO MINHO!

De surpresa e a menos de quinze dias do evento (!), foi anunciado hoje o alinhamento do Festival Para Gente Sentada de 2021. Aqui pela casa, vamos tentar não falhar a noite de sábado do dia 27 de Novembro pelo Theatro Circo bracarense onde o prodigioso baterista e produtor Yussef Dayes assume destaque óbvio. O aquecimento caberá a Tomás Wallenstein, o vocalista dos lisboetas Capitão Fausto. 

A insistência num concerto de jazz neste tipo de festival é curiosa - em 2019 coube ao parceiro Kamaal Williams destaque semelhante, mesmo que forçado, cumprindo quase um desígnio de, em anos diferentes, juntar a dupla Yuseff Kamaal autora do excelente disco "Black Focus" de 2016 na sequência do qual Dayes acabou no cartaz do extinto Milhões de Festa de Barcelos onde compareceu no ano seguinte para um fim-de-tarde memorável que aproveitamos para recordar. 

Neste regresso ao Minho, Dayes apresentará previsivelmente temas registados em trio no disco ao vivo chamado "Welcome to the Hills" saído pela Blue Note em 2020 e cuja capa é já icónica. Prevê-se, por isso, um serão de casa (bateria) a arder...


quinta-feira, 11 de novembro de 2021

UAUU #621

FAROL #142















Ao conselho sobre a claridade e beleza do álbum de estreia de Lauren Spear aka Le Ren devem agora somar uma dádiva de quatro versões country e bluegrass que a menina escolheu para a obrigatória Lagniappe Session do site Aquarium Drunkard. Irresistível!

quarta-feira, 10 de novembro de 2021

3X20 NOVEMBRO

BEACH HOUSE, PRIMEIRO CAPÍTULO!

O novo álbum dos Beach House chama-se "Once Twice Melody" e tem no dia de hoje a data de divulgação de quatro canções apresentadas como um primeiro de quatro capítulos com animação visual a cargo de quatro realizadores - nela estão incluídos os temas "Once Twice Melody", "Superstar", "Pink Funeral" e "Through Me", bastante "orelhudos" por sinal. Os três próximos capítulos estão marcados para 8 de Dezembro, 19 de Janeiro e 18 de Fevereiro, data de edição do disco pela Bella Union em variados formatos e embrulhos, num total de dezoito canções. 

Trata-se do primeiro álbum completamente produzido pela banda e teve a participação inédita de um ensemble de cordas registado ao vivo em alguns momentos, tendo o resultado final sido misturado por Alan Moulder com a contribuição de outros como o afamado Dave Fridmann. 

terça-feira, 9 de novembro de 2021

NEAL FRANCIS, À VISTA DE TODOS!






















A rodagem do segundo álbum do pianista Neal Francis saído a semana passada está feita. É coisa rápida e eficaz atendendo à lubrificação vintage das canções que só precisam de uma boa amplificação para se fazerem notar em toda a sua dimensão retro e analógica, um cuidado que esteve, desta vez, a cargo do especialista David Fridmann a partir das fitas registadas com o trio parceiro de bateria, guitarra e baixo.  

Em "In Plain Sight", nas lojas através da ATO Records de Nova Iorque, confirmam-se as virtudes mas também a resiliência de um artista em fazer do estilo funk dos anos setenta um veio de transmissão que cresce numa delirante dimensão sonora muito americana mas de consistência maciça. Está à vista de todos... 



M. WARD, VERSÃO E CONCERTO!

Agora que se aproxima a anunciada reedição do álbum de Natal dos She & Him, a cara metade masculina do duo mostra-se bem activa e acertiva. Matthew Stephen Ward, o californiano que conhecemos por M. Ward lançou uma excelente versão do tema "Birthday" que a islandesa Bjork gravou com os seus The Sugarcubes em 1987 e posteriormente incluído no álbum de estreia "Life's To Good" (1988). 

Ward confessa que há muito aprendeu a canção sem nunca a escolher, contudo, para a tocar ao vivo ou sequer a gravar o que viria a acontecer o mês passado em Portland, assumindo mudanças no tom mas mantendo a lírica de sabor sulista e gótico ao estilo da escritora Flannery O Connor (1925-1964). Haverá, certamente, oportunidade de testar esta rendição na próxima digressão pela Europa que tem no mês de Janeiro oito (!) datas por Espanha, incluindo a passagem por Vigo no dia 26, quarta-feira. Para os interessados, já há bilhetes.

segunda-feira, 8 de novembro de 2021

NILS FRAHM, PRETÉRITO COMPOSTO!















A quantidade de prática, improvisação ou ensaio jorrado do piano de Nils Frahm na última década é certamente incontável. O compositor alemão não quis que esse legado composto fosse redescoberto de forma alheia e ocasional num futuro que se espera longínquo e, por isso, lançou-se num género de auto-curadoria intensiva, escolhendo aqueles momentos que se afiguram de interesse público e consenso privado. A selecção difícil mas que, segundo o próprio, já deveria ter acontecido, foi reunida num disco a sair em breve na LEITER Verlag, uma casa editora com sede em Berlin erigida ao lado do amigo manager Felix Grimm de forma a dar folga e lastro à criatividade e experimentação. 

Serve o esforço, então, para que uma qualquer próxima etapa criativa não seja condicionada por um passado desordenado e caótico, protegendo-se desta forma de fantasmas importunos e tentações involuntárias. Assunto arrumado, por isso, em vinte e três composições no velho e inicial piano alinhadas e organizadas no álbum "Old Friends New Friends" (3 de Dezembro) e que traça as diversas sensibilidades e formas de pensar a (sua) música instrumental. Aqui fica a primeira dessas velhas e, agora, novas anatomias sonoras.

JOAN AS POLICE WOMAN, VISITA EM MARÇO!

A previsão por aqui deixada quanto ao excelente groove do álbum de Joan As Police Woman ao lado do malogrado baterista Tony Allen e do multi-instrumentista Dave Okumu confirma-se na plenitude. Logo a abrir há um "The Barbarian" de cepa vintage que dá corpo a um trabalho que têm tanto de inesperado como de intenso e que engrandece a cada audição. 

Teremos a oportunidade de o confirmar a três dimensões no próximo mês de Março já que a programada digressão europeia chega a quatro cidades portuguesas nos dias 2 (Lisboa), 3 (Setúbal), 4 (Guarda) e 5 (Arcos de Valdevez, supostamente, na Casa das Artes) em apresentações que se adivinham a solo mas onde a presença do célebre baterista é evocada virtualmente. Comprava-o o regresso aos palcos na La Gaité Lyrique de Paris da passada sexta-feira agora disponibilizado pelo Arte Concert. Imperdível. 



domingo, 7 de novembro de 2021

EFTERKLANG, M.ou.co., Porto, 5 de Novembro de 2021

A passagem dos Efterklang pelo Porto, a segunda em três anos para além das residências e incursões a solo de Casper Clausen, serviu de teste duplo aprovado com distinção. Primeiro, a confirmação que o novo espaço da Invicta, para além do bom gosto arquitectónico e decorativo, tem na sala de espectáculos um auditório de dimensão e qualificação acertadas para bandas que requerem proximidade e calor humano. Segundo, que mesmo com o raio da máscara obrigatoriamente colocada, a plateia esgotada de fãs adultos e conhecedores tirou proveito do momento para dar larga à animação e começar a recuperar convenientemente o tempo perdido. 

Conscientes e cedo testemunhas destes factos, os Efterklang trataram de não desiludir. Há para isso no novo álbum matéria sonora mais que apta para o efeito - "Dragonfly" e "Living Other Lives" formam um dois em um recomendado e de aplicação reforçada - mas também há para trás no tempo e espaço, sim, estes dinamarqueses já andam cá e lá andam há mais de vinte anos, outras canções que nunca perdem a validade, uma virtude que, por exemplo, "Cutting Ice To Snow" ou o obrigatório "Modern Drift", partilhado em plena plateia por Clausen, confirmam na plenitude. 

Surpreendente ainda a escolha de temas do álbum anterior, um arriscado projecto cantada na língua materna que, mesmo assim, não deixou de ter o devido acompanhamento, principalmente quando a banda acampou em plena plateia sem qualquer amplificação. Foi de lá que um novo e, aparentemente, inofensivo "Åbent Sår" começou a soar na voz de Clausen para depois se transformar numa avalanche frenética de dança que culminaria da melhor forma uma festa de amigos, separados na geografia, mas há muito leais na partilha. Ele há amizades assim, para a vida...

sábado, 6 de novembro de 2021

CASSANDRA JENKINS, RENOVADA VISÃO GERAL!






















O início do ano marcou a edição do excelente álbum "An Overview On Phenomenal Nature" de Cassandra Jenkins, sugestão infalível de uma artista de Nova Iorque de voz fresca e composição cuidada. Anteriores aos originais então editados, foram agora escolhidos oito demos de temas alternativos e inéditos que Jenkins realizou em 2019 com a bênção e ajuda de Josh Kaufman, amigo multi-instrumentista dos recomendados Bonny Light Horseman. 

Numa visita ao seu estúdio realizada no passado verão, a dupla apercebeu-se da pertinência da crueza dessas gravações em escuta ampliada e comentada e que agora se juntam num género de disco paralelo e complementar chamado curiosamente "(An Overview On) An Overview On Phenomenal Nature", confirmando que a experimentação e a persistência são sempre o melhor caminho. Aqui ficam dois dos ensaios devidamente polidos e renovados...
 
 

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

KAREN DALTON, IMAGENS NO PASSOS!















A vida de Karen Dalton dava um filme. Já o fizemos notar em tempo oportuno aquando da estreia de "In My Own Time", documentário corajoso de Richard Peet e Robert Yapkowtiz de 2020 que terá projecção já este mês na secção "Transmission" do festival Porto/Post/Doc. Marquem na agenda: 23 de Novembro, terça-feira, 22h00, Passos Manuel. 

PAUL MCCARTNEY, TRÊS PONTOS DE !!!






















O terceiro álbum a solo de Paul McCartney editado no final de 2020 recebeu, naturalmente, o nome sequencial de "III" e confirmou que, mesmo em isolamento ("Rockdown"), as canções e os arranjos continuam irrepreensíveis e imbatíveis. O disco auto-produzido e auto-tudo fez furor entre gerações de aficionados onde nos incluímos mesmo que a versão em vinil especial "333" editada em parceria com a Third Man Records de Jack White no último Natal nos tenha, por todas as razões, passado ao lado... 

Há agora um pequeno documentário sobre a materialização desse pedaço de história que aporta uma série de questões comerciais e ambientais. O vinil amarelo com apontamentos a preto (as cores da Third Man Records como é visível nas fardas dos seus funcionários) resultou da reciclagem (!) de vinis antigos dos discos "I" e "II" de McCartney (não devem ter sido poucos, o que pressupõe que a sua disponibilidade advém de más vendas) mas as queixas quanto à qualidade do resultado final são, invariavelmente, negativas - som deficiente ou prensagem descuidada - para as 333 rodelas produzidas que custavam cerca de 50€ cada quando foram para as lojas e que hoje atingem transacções entre 2500 e 4500 euros!!! 

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

BEIRUT, REUNIÃO DE ARTEFACTOS!

Já lá vão quinze anos desde o primeiro álbum a sério dos Beirut, projecto que Zach Cohen assumiu, desde sempre, como ponderado e certeiro ao jeito de uma orquestra polivalente, estratégia concretizada de forma sublime em cinco grandes discos e quase uma mão cheia de EP's. Está, então, na hora do maestro fazer contas à vida e decidir avançar para um género de "tem-tudo" o que estava em falta ou escondido - lados B obscuros, singles e Ep's esgotados, temas esquecidos em memórias informáticas, tudo devidamente remisturado e melhorado pelo próprio em formato compilação. 

A façanha recebeu o título de "Artifacts", vinte e seis canções devidamente catalogadas e etiquetadas por segmentos que estarão disponíveis a partir de Março em notável desenho e embrulho que incluirá uma ilustração assinada pelo autor ou uma t-shirt ou totebag exclusivas. Do pecúlio podemos fazer sobressair o inédito "Fisher Island Sound" ou a versão ternurenta e surpreendente de "Leãozinho" saída no projecto solidário "Red Hot + Rio 2" de 2011 e que sabe bem recordar...


PVC - PORTO VINIL CIRCUITO #28






















Esticando um pouco o circuito até Aveiro, certo é que Espinho sempre esteve mais próximo do Porto que da capital de distrito. De férias ou em romaria à feira semanal, muitos de nós passearam junto ao mar e percorreram algumas das ruas comerciais da cidade, nomeadamente a nº 62 que, ao contrário de quase todas as outras, não é em linha recta e não faz parte da mítica planta ortogonal que forma quadrículas numeradas imitando Nova Iorque! 

Logo no início dessa artéria, uma antiga estrada que ligava aos Carvalhos conhecida também por Passeio Alegre situada antes da passagem de comboio, fixou-se há cinquenta e oito anos (1963) a loja Japão Rádio que ocupava originalmente os dois espaços comerciais de um edifício típico hoje recuperado. Nos nºs 6 e 10 vendia-se "aparelhagem stereo" incluindo televisões e rádios, gravadores e gira-discos supostamente vindos do Japão e, claro, os complementares discos e cassetes - uma discoteca - como impresso nas duas embalagens a preto e branco que acima reproduzimos posteriores a 1976 por terem já uma referência a um código postal. 

Nos nossos dias, a loja especializou-se em electrónica e relojoaria moderna, principalmente de uma conhecida marca obviamente japonesa, reduzida que está a um só espaço (o nº 10). Quanto aos discos e quejandos, há muito que desaparecerem mas atendendo às muitas vezes que encontramos envelopes idênticos em buscas de vinil, não foram poucas as rodelas vendidas. Só no da menina laroca alguém guardou seis...    

                                     Japão Rádio, Rua 62 nº 6, 4500 Espinho

terça-feira, 2 de novembro de 2021

HANIA RANI & DOBRAWA CZOCHER AO VIVO!

Tal como antecipado e desejado, confirma-se para Dezembro pelo menos um concerto de Hania Rani & Dobrawa Czocher por perto. Dia 16, quinta-feira, o jovem duo polaco ocupa a sala principal do Theatro Circo em Braga para apresentar, em cenário perfeito, o disco "Inner Symphonies" editado o mês passado pela Deutsche Grammophon

Atendendo a que nos dois dias seguintes há concertos marcados para Espanha (17 em Madrid e 18 em Barcelona), adivinha-se uma outra apresentação nas redondezas (Porto, 15, quarta-feira?) para iniciar a digressão ibérica.

THE WAR ON DRUGS DE SECRETÁRIA (CASA)!